quarta-feira, 19 de setembro de 2012

DESCOLONIZAR O IMAGINÁRIO



Esse é o título do encontro internacional  que ocorre, nesses dias, na bela Veneza, no norte da Itália. Esse congresso reúne várias organizações e movimentos sociais. Comumente, se fala em libertação dos colonialismos políticos e econômicos. Esse encontro chama a atenção para o desafio da descolonização cultural. Antigamente, as conquistas se faziam com exércitos e armas. Nos tempos atuais, o governo dos Estados unidos é quase a única potência imperialista que continua com essa política clara de intervenção em outros países e imposição de sua forma de viver. Outros fazem isso, mas de forma mais velada.
A forma mais comum, hoje, de imposição cultural e social é através da propaganda que legitime a conquista e, pela repetição exaustiva, faça a mentira parecer verdade. Antes, o colonizador dominava a terra e o corpo dos colonizados. Agora, sabe que só consegue dominar o corpo de uma pessoa ou grupo social se antes aprisiona a sua alma. Em uma indústria multinacional de tênis, o gerente explicou aos vendedores: “só teremos sucesso se não vendermos apenas tênis e sim sonhos”. Um exemplo dessa colonização do imaginário é a esperança de um dia ganhar na loteria. São filas imensas de pessoas presas a sonhos de consumo, que jogam o seu dinheirinho d e cada dia para tentar o prêmio milionário.
Um sistema social e político que aprofunda desigualdades e perpetua injustiças não conseguiria se firmar se não encontrasse formas de se legitimar através da publicidade e de uma ideologia que justamente coloniza o pensamento e o imaginário das pessoas. Nenhum povo consegue libertar-se totalmente se não rompe com essa colonização cultural. No âmbito político, muita gente se decepciona  quando constata que políticos antes coerentes e consagrados à mudança social, quando conquistam o poder se embriagam com o prestígio e inauguram novas formas de coronelismo de esquerda, mas tão ou mais reacionárias do que as antigas consideradas de direita. Partidos antes de oposição ideológica, ao chegarem ao poder, trocam um projeto de nação por mera ambição de poder pessoal ou grupal. Descolonizar o imaginário é tomar a esperança de mudanças estruturais e, na medida do possível, ensaiar o novo que desejamos.
Aos cristãos, é bom recordar uma palavra de Paulo: “Não vos conformeis com esse mundo, mas procurais transformá-lo pela vossa inteligência.” (Rm 12,2).
Descolonizar o imaginário em uma cultura dominada pela idolatria do mercado e do consumo é optar pela sobriedade como estilo de vida. E uma sobriedade que atinja o nível econômico e social, nos permita corrigir e converter nossos desejos de modo que superem a concentração no próprio eu e nos leve aos outros. Paulo Freire dizia que a verdadeira educação se dá quando a pessoa consegue passar do estágio da competição para a colaboração.


Jornal O Popular
Autor: Marcelo Barros

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