Grande parte dos pobres que cercavam Jesus eram
mulheres, privadas do apoio de um varão, elas eram sem dúvida as mais
vulneráveis. Por outro lado, ser mulher naquela sociedade patriarcal
significava estar destinada a viver num estado de inferioridade e submissão aos
varões. É isso o que quer esse Deus compassivo do qual Jesus fala? Não poderão
elas conhecer uma vida mais digna no reino de Deus? Como Jesus as vê e as
sente?
A primeira coisa que surpreende é vê-lo cercado de
tantas mulheres: amigas íntimas como Maria, oriunda de Mágdala; as irmãs Marta
e Maria, vizinhas de Betânia, que ele tanto amava; mulheres enfermas como
hemorroíssa ou pagãs como a sírio-fenícia; prostitutas desprezadas por todos ou
seguidoras fiéis, como Salomé e outra muitas que o acompanharam até Jerusalém e
não o abandonaram nem mesmo no momento da execução. De nenhum profeta de Israel
se diz algo parecido. O que encontravam estas mulheres em Jesus? O que as
atraía tanto? Como se atreveram a aproximar-se dele para ouvir sua mensagem?
Porque se aventuraram algumas a abandonar o próprio lar e subir ele a Jerusalém,
provocando certamente o escândalo de alguns?
Jesus nasceu numa sociedade em cuja consciência
coletiva estavam gravados alguns
estereótipos sobre a mulher, transmitidos durante séculos. Enquanto crescia,
Jesus pôde ir percebendo-os em sua
própria família, entre seus amigos e na convivência diária.
De acordo com um antigo relato, Deus havia criado a
mulher só para proporcionar uma ‘ajuda adequada” ao varão. Era esse o destino
dela. No entanto, longe de ser uma ajuda, foi ela precisamente quem lhe deu
para comer o fruto proibido, provocando a expulsão de ambos do paraíso? Esse
relato, transmitido de geração em geração, foi desenvolvendo no povo judeu uma
visão negativa da mulher como fonte sempre perigosa de tentação e de pecado. A
atitude mais sábia era aproximar-se dela com muita cautela e mantê-la sempre
submetida. Foi o que se ensinou a Jesus desde criança.
Livro: Jesus, Aproximação Histórica – pág. 255-256
Autor: José Antônio Pagola
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