quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A ROMARIA DOS MÁRTIRES DA CAMINHADA LATINO-AMERICANA



Vidas pela vida, vidas pelo reino.
Todas as nossas vidas, como as suas vidas,
Como a vida d’Ele o Mártir Jesus.

A romaria dos Mártires é a expressão máxima da caminhada da Prelazia de São Félix do Araguaia, Igreja que nasceu dos clamores, das dores, dos sofrimentos e dos gritos dos pobres e excluídos, como diz o bispo Pedro: “É o Espírito de Jesus Libertador que quer sua igreja comprometida na total libertação do povo. É Ele quem exige desta pequena igreja de São Felix um teimoso e arriscado compromisso com o povo marginalizado – posseiro, índio ou peão – que constitui o Povo e faz a História Humana destes sertões.
Ao terminar o encontro, o Padre João Bosco foi com o bispo Pedro Casaldáliga para São Felix e depois  para Ribeirão Bonito, onde o povo celebrava a novena da padroeira Nossa Senhora Aparecida. Chegando ao povoado, no dia 11 de outubro de 1976, encontraram um clima de terror e tensão na população. É que duas mulheres, Margarida e Santana, estavam sendo torturadas na cadeia-delegacia. Seus gritos se ouviam em todo o povoado. O bispo Pedro decidiu ir até a delegacia interceder pelas mulheres e o padre João Bosco quis acompanhá-lo. Ao chegarem à cadeia, os policiais estavam no terreiro como quem esperava. O bispo Pedro e o padre João Bosco se apresentaram e o diálogo foi de poucos minutos. Quando padre João Bosco disse que denunciaria aos superiores deles em Cuiabá as torturas praticadas na região, o soldado Ezy desfechou um soco em seu rosto, uma coronhada e um  tiro fatal.
Em sua agonia padre João Bosco ofereceu sua vida pelo CIMI e pelo Brasil; invocando o nome de Jesus, recebeu a unção e morreu gloriosamente mártir, no dia seguinte, festa da Mãe Aparecida, em Goiânia, coroando assim uma vida santa. Suas últimas palavras foram as do próprio Mestre: “Acabamos a nossa tarefa!”
Na missa de sétimo dia, o povo levantou uma cruz no lugar do assassinato, ou seja, ao lado da cadeia-delegacia. O povo estava entre a cruz e a cadeia. A cadeia-delegacia era símbolo do cativeiro, a escravidão, a morte. A cruz, símbolo de libertação, esperança e ressurreição. O povo derrubou a cadeia, “como caíram um dia os muros inimigos de Jericó sob o clamor das trombetas do Povo de Israel”, e plantou a Cruz da Libertação, a Cruz da Vitória. Nesse lugar, no primeiro ano do seu martírio, foi construído em mutirão o Santuário dos Mártires da Caminhada Latino-Americana, em memória do padre João Bosco e de tantos outros mártires, homens e mulheres, que entregaram suas vidas na defesa do povo latino-americano.
Hoje, em Goiânia a Casa da Juventude Pe. João Bosco Burnier, uma obra da companhia de Jesus; leva o nome desse mártir. Há 27 anos ali se trabalha em prol da juventude empobrecida de Goiânia.


Revista: Liturgia Ano 33 – pág. 4
Autores: Antônio Carlos e Pe. Laudimiro de Jesus

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