Antigamente
as pessoas buscavam o sentido da vida a partir das duas grandes instituições: a
religião e a família. Agora, no entanto, estamos vivendo uma mudança pela qual a
relação institucional está sendo substituída pela relação pessoal. O que dá
sentido à vida das pessoas não é a instituição a que cada qual está vinculada,
mas as pessoas com as quais se relaciona. Assim sendo, para buscar um sentido
para a vida, o fator determinante é cada dia menos a relação institucional
(religiosa, familiar...) e é cada dia mais a relação baseada na “comunicação
emocional” em que as recompensas derivadas dela são a base primordial para que
tal comunicação se mantenha. Ao afirmar isso, estamos falando do que, com razão,
foi denominado “relação pura”, que se baseia na comunicação,
de tal forma que entender o ponto de vista da outra pessoa é o essencial.
Por isso, o casamento está em crise e ter um parceiro está no auge. Porque o
casamento se baseia na relação institucional, enquanto ter um parceiro tem sua
razão de ser na relação pessoal, vale dizer, na comunicação emocional, ou, com
outras palavras, na relação pura. E, por isso mesmo, também a religião está
em crise. A
pertença à religião foi vivida, pelo menos até agora, como pertença a uma
instituição, coisa que hoje muitas pessoas não aceitam e preferem viver suas
crenças religiosas “como livres” à margem de toda
instituição.
Pois
bem, isso tudo é o que hoje desconcerta a todos nós. E é o mesmo que
desconcertou a sociedade da Galileia e da Judéia no tempo de Jesus. O fato
desconcertante está em que
Jesus foi muito crítico precisamente com as duas mesmas
instituições que hoje estão em crise. Jesus foi crítico com a
religião. E teve, por isso, muitos conflitos com os dirigentes religiosos, a
ponto de, como bem sabemos, a religião acabar com Jesus e terminar condenando-o
à morte da pior maneira. É igualmente certo que Jesus adotou uma atitude
sumamente crítica com o modelo de família que configurava o tecido social
daquele tempo. Refiro-me à família “patriarcal”.
Livro: A ética de
Cristo pág.
09-10
Autor: José M. Castillo
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