Mas o que é isto, o sentido da vida?
O
sentido da vida é algo que se experimenta emocionalmente, sem que se saiba
explicar ou justificar. Não é algo que se construa, mas algo que nos ocorre de
forma inesperada e não-preparada, como uma brisa suave que nos atinge, sem que
saibamos donde vem nem para onde vai, e que experimentamos como uma
intensificação da vontade de viver a ponto de nos dar coragem
para morrer, se necessário for,
por aquelas coisas que dão à vida o seu sentido. É uma transformação de nossa
visão do mundo, na qual as coisas se integram como em uma melodia, o que nos faz
sentir reconciliados com o universo ao nosso redor, possuídos de um sentimento
oceânico - na poética expressão de Romain Rolland -
sensação inefável de eternidade e infinitude, de
comunhão com algo que nos transcende, envolve e embala,
como se fosse um útero materno de dimensões cósmicas.
“Ver um mundo em um
grão de areia
e um céu numa flor silvestre,
segurar o infinito na palma da
mão
e a eternidade em uma hora” (Blake).
“Aquilo
que é finito para o entendimento é nada para o coração“ (Feuerbach). Eis o problema. “De um lado, a estrela eterna, e
do outro a vaga incerta...“ (Cecília Meireles).
Mas
o sentido da vida não é um fato. Num mundo ainda sob o signo da morte, em que os
valores mais altos são crucificados e a brutalidade triunfa, é ilusão proclamar
a harmonia com o universo, como realidade presente. A experiência religiosa,
assim, depende de um futuro. Ela se nutre de horizontes utópicos que os olhos
não viram e que só podem ser contemplados pela magia da imaginação. Deus e o
sentido da vida são ausências, realidades por que se anseia, dádivas da esperança. De fato, talvez seja esta a
grande marca da religião: a esperança. E talvez possamos afirmar, com Ernest
Bloch: “Onde está a esperança, ali também está a
religião“.
Livro: Transparências da eternidade, pág.
139-144
Autor: Rubem
Alves
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