sexta-feira, 7 de setembro de 2012

TORNAR-SE PAI


O que devo concretizar é que seja eu o Filho mais jovem ou o mais velho, sou o filho de meu Pai compassivo. Sou um herdeiro. Ninguém coloca isso mais claramente do que Paulo quando escreve: “próprio Espírito se une ao nosso espírito para testemunhar que somos filhos de Deus... e co-herdeiros de Cristo, pois sofremos com ele para também com ele sermos glorificados”. Realmente, como filho e herdeiro devo me tornar a outros a mesma compaixão que ele teve por mim. A volta ao Pai é afinal de contas o desafio para me tornar o Pai.
         Esse chamado para me tornar o Pai exclui qualquer interpretação “indulgente” da história. Sei o quanto eu quero voltar e me sentir seguro, mas realmente desejo ser filho e herdeiro com tudo o que isso acarreta? Estar na casa do Pai exige que eu faça da vida do Pai a minha própria e me transforme em sua imagem.
         Recentemente, olhando num espelho, fiquei impressionado vendo como eu me pareço com meu pai. Olhando para as minhas feições, vi de repente o homem que eu tinha visto quando tinha vinte e sete anos de idade: o homem que eu admirara e criticara também, que eu tinha amado e temido. Muito da minha energia tinha sido gasta em encontrar eu mesmo no rosto dessa pessoa, e muitas das minhas perguntas sobre quem eu era e quem eu deveria vir a ser haviam sido formuladas por ser filho desse homem. De repente, quando vi esse homem aparecendo no espelho, fiquei surpreendido com a noção de que todas as diferenças que eu notara durante toda a vida pareciam pequenas se comparadas com as semelhanças. Como num choque, entendi que eu era realmente herdeiro, sucessor, aquele que é admirado, temido, louvado e Mac compreendido pelos outros, como meu pai foi para mim.

Livro: A volta do Filho Pródigo  pág. 134-135
Autor: Henri J. M. Nouwen

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