segunda-feira, 17 de setembro de 2012

MODA: UMA SOCIEDADE COM SENTIDOS EMBOTADOS




A sociedade de consumo encontrou na neofilia a droga estimulante perfeita para as infinitas frustrações causadas pela publicidade e suas promessas não cumpridas. E a moda é peça-chave para esse mecanismo.
O discurso da moda promete ao consumidor a falsa possibilidade de se tornar uma pessoa singular, diferente do rebanho social anônimo.
Konrad Lorenz sentencia que o método mais irresistível para manipular massas pela sincronização de suas aspirações é fornecido pela moda.
Jean Baudrillard é incisivo ao afirmar que a moda e o consumo, que é inseparável da moda, mascara uma inércia social profunda. 
Na contemporaneidade, a moda se enraíza na organização capitalista como uma espécie de extensão sutil da estrutura normativa da sociedade disciplinar: a massa de consumidores é simbolicamente pressionada a seguir gostos predeterminados pelos “sacerdotes do consumo”, isto é, os estilistas e seus tentáculos comerciais, os publicitários. Tal como argumenta o sociólogo alemão Siegfried Kracauer, “uma vez que uma moda se impõe, logo é imitada por todos e o mundo inteiro tenta apodera-se dela”.
O indivíduo que não se submete aos padrões estabelecidos pelo sistema normativo da moda é excluído dos grupos sociais regidos pela lógica identitária da igualdade de estilo. O filósofo e ensaísta francês Dominique Quesada salienta que cada homem que aceita uma marca demonstra sofrer a tirania desta e, aceitando-a, não pode fazer outra coisa senão sustentar e transmitir a tirania. Assim, ele a propaga. Cada homem que expõe uma marca se mantém na servidão voluntária, e não pode fazer outra coisa a não ser transmití-la. Dessa maneira, a moda apresenta um teor tecnicamente fascista, pois exige do indivíduo que anseia participar da lógica social das aparências uma devoção incondicional pelo padrão estabelecido. Para Lipovetsky, a moda, primeiro grande dispositivo a produzir social e regularmente a personalidade aparente, estetizou e individualizou a vaidade humana, conseguiu fazer do superficial um instrumento de salvação, uma finalidade da existência.

Revista Filosofia nº 73 pág.
Autor: Renato Nunes Bittencourt

Nenhum comentário:

Postar um comentário