A
sociedade de consumo encontrou na neofilia a droga
estimulante perfeita para as infinitas frustrações causadas pela publicidade e
suas promessas não cumpridas. E a moda é peça-chave para esse mecanismo.
O
discurso da moda promete ao consumidor a falsa possibilidade de se tornar uma
pessoa singular, diferente do rebanho social anônimo.
Konrad
Lorenz sentencia que o método mais irresistível para manipular massas pela
sincronização de suas aspirações é fornecido pela moda.
Jean
Baudrillard é incisivo ao afirmar que a moda e o consumo, que
é inseparável da moda, mascara uma inércia social profunda.
Na
contemporaneidade, a moda se enraíza na organização capitalista como uma espécie
de extensão sutil da estrutura normativa da sociedade disciplinar: a massa de
consumidores é simbolicamente pressionada a seguir gostos predeterminados pelos
“sacerdotes do consumo”, isto é, os estilistas e seus tentáculos comerciais, os
publicitários. Tal como argumenta o sociólogo alemão Siegfried Kracauer, “uma vez que
uma moda se impõe, logo é imitada por todos e o mundo inteiro tenta apodera-se
dela”.
O
indivíduo que não se submete aos padrões estabelecidos pelo sistema normativo da
moda é excluído dos grupos sociais regidos pela lógica identitária da igualdade
de estilo. O filósofo e ensaísta francês Dominique Quesada salienta que cada homem que aceita uma marca
demonstra sofrer a tirania desta e, aceitando-a, não pode fazer outra coisa
senão sustentar e transmitir a tirania. Assim, ele a propaga. Cada homem que
expõe uma marca se mantém na servidão voluntária, e não pode fazer outra coisa a
não ser transmití-la. Dessa maneira, a moda apresenta
um teor tecnicamente fascista, pois exige do indivíduo que anseia participar da
lógica social das aparências uma devoção incondicional pelo padrão estabelecido.
Para Lipovetsky, a moda, primeiro grande dispositivo a
produzir social e regularmente a personalidade aparente, estetizou e
individualizou a vaidade humana, conseguiu fazer do superficial um instrumento
de salvação, uma finalidade da existência.
Revista
Filosofia nº 73 pág.
Autor:
Renato Nunes Bittencourt
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