quinta-feira, 27 de setembro de 2012

SONHO


Sonhei esta existência de venturas,
Sonhei que o mundo era só d’amor,
Não pensei que havia amarguras
E que no coração habita a dor.

Sonhei que m’afagavam s ternuras
de leda vida e que jamais pallôr
marcou na face  humana as desventuras
que a lei de Deus  impoz com rigor.

 Sonhei tudo azul e cor de rosa
E a sorte ostentando-se furiosa
Rasgou o sonho formoso que tive;

Sonhando sempre eu não tinha sonhado
Que n’esta vida sonha-se acordado,
Que n’este mundo a sonhar se vive!

Autor: Fernando Pessoa
Livro: Poesias ocultistas pg. 45

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