Em
A Ilha
do Dia Anterior, Umberto Eco faz surgir em uma das reflexões o que segue: “Se o
ciúme nasce do intenso amor, quem não sente ciúmes pela amada não é amante, ou
ama de coração ligeiro, de modo que se sabe de amantes os quais, temendo que o
seu amor se atenue, o alimentam procurando a todo custo razões de ciúme.
Portanto, o ciumento (que, porém quer ou queria a amada casta e fiel) não quer
nem pode pensá-la senão como digna de ciúme, e portanto
culpada de traição, atiçando assim no sofrimento presente o prazer do amor
ausente. (...) enquanto da nossa ausência estamos seguros, da presença daquele
inimigo estamos, se não certos, pelo menos não necessariamente inseguros. O
contato amoroso, que o ciumento imagina, é o único modo em que pode
representar-se com verossimilhança um conúbio de outrem que, se não indubitável,
é pelo menos possível, enquanto o seu próprio é impossível. Assim, o ciumento
não é capaz, nem tem vontade, de imaginar o oposto do que teme, aliás só pode
obter o prazer ampliando a sua própria dor, e sofrer pelo ampliado prazer de que
se sabe excluído. Os prazeres do amor são males que se fazem desejar, onde
coincidem a doçura e o martírio, e o amor é involuntária insânia, paraíso
infernal e inferno celeste – em resumo, concórdia de ambicionados contrários,
riso doloroso e friável diamante”.
E
aqui Eco evidencia apenas mais uma faceta de um discurso emocional cujo
horizonte acompanha a linha infinita dos oceanos
distantes.
Revista:
Filosofia nº 73
pág. 75
Autor:André
Assis Barreto
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