Nas
últimas cinco décadas, o dinamarquês Jan Gehl, 75
anos, pesquisador da Royal Danish Academy of Fine Arts, em Copenhage, e autor do
livro Cidade para Pessoas, ele liderou a transformação de sua cidade natal e de
Melbourne, na Austrália. Para Gehl, o fascínio pelos
prédios deixou as pessoas em segundo plano. Ele vem sendo consultado por
governantes do mundo todo, como o prefeito Michael Bloomberg, que lhe concedeu, em 2009, um prêmio por suas
contribuições a Nova York.
Porque o Senhor é
contra os edifícios monumentais?
Muitos
de meus colegas fazem uma enorme confusão em relação ao conceito de escala. Eles
criaram projetos pensando em alturas e buscando construir prédios que mais
pareçam monumentos, de maneira que suas obras de concreto possam se apreciadas a
distância por quem passa por elas a 70 quilômetros por hora dentro
de um carro. É o ponto de vista dos motoristas que tem determinado os contornos
da maioria das cidades modernas. A escala humana, que eu defendo e aplico, é a
que valoriza espaços menores, praças e fachadas com detalhes que as pessoas
podem observar quando andam a pé. Essa é a perspectiva que ainda predomina nas
áreas mais antigas dos centros urbanos ou mesmo em cidades inteiras que
atravessaram os séculos preservando a escala humana em seu conjunto, como
Veneza. Qualquer arquiteto moderno que pretenda tornar um lugar agradável à
espécie humana
deve compreender isso. Temos de nos desprender da ideia de que tudo gira em
torno dos automóveis.
Ser
contra carros não é uma visão romântica demais?
Não
se trata de não gostar de carros. O que eu defendo é a necessidade de pensar
duas vezes antes de construir avenidas e viadutos, que são um estímulo para que
as pessoas usem mais e mais carros. Por outro lado, se erguemos praças e
ciclovias boas e seguras, estaremos incentivando às pessoas a andar de bicicleta
ou mesmo a pé. Sou um defensor da ideia de que mais ruas sejam vetadas aos
carros e que se cobre uma taxa de quem dirige em áreas de tráfego mais intenso.
Desde 2003, os motoristas pagam para circular pelo centro Londrino e, sozinha,
essa medida foi capaz de fazer o trânsito cair 20%. Cabe a nós, planejadores urbanos, das às pessoas o estímulo
correto. O mais fantástico em meu ofício é que as intervenções urbanas têm o
poder de criar novos hábitos e comportamentos.
Revista:
VEJA Edição
2284 ano 45 nº 35 pág. 17 e 20.
Autora: Gabriele
Jimenez
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