sábado, 1 de setembro de 2012

MEMÓRIA INSURGENTE



Como nos primeiros séculos do Cristianismo, também nas últimas décadas, a Igreja latino-americana foi agraciada com o testemunho de vida e doação desses numerosos mártires da caminhada de libertação. A igreja de Goiás, Goiânia e de todo o Centro-Oeste pode se orgulhar de ter em sua história recente gerado e fortalecido vários desses irmãos, testemunhas do Evangelho. Entre eles, brilha a figura do padre Francisco Cavazzuti quem vítima de um atentado à bala, resistiu e está vivo. Embora cego, continua firme no testemunho da justiça e da paz. Nesta semana, celebram-se os 25 anos do atentado que o padre Chico sofreu quando, na noite de 27 de agosto de 1987, saía de uma celebração em uma capela da paróquia de Mossâmedes. A mão que atirou a bala foi de pistoleiro profissional, mas a cabeça que ordenou o crime é de um sistema que continua forte e livre na opressão aos empobrecido e na destruição na natureza.
Nesses dias, o padre Francisco Cavazzuti está de volta a Goiás e Goiânia. Vários eventos recordam o seu martírio e agradecem a Deus sua fidelidade.
Nosso irmão profeta, D. Pedro Casaldáliga nos ensinou que uma igreja que esquece ou deixa de celebrar seus mártires está esquecendo ou ignorando p Evangelho de Jesus.
Na mesma data do atentado sofrido pelo padre Chico, em 1999, no Recife, morria D. Hélder Câmara. Poucos dias antes, um jornalista lhe perguntava se ele tinha alcançado os objetivos a que dedicou toda a sua vida no serviço aos mais empobrecidos. D. Hélder respondeu sem hesitar: “Não! Consegui muito pouco, mas prometo dedicar até o último suspiro de minha vida a essa causa
 que foi a de Jesus, meu Mestre, 
e é a de todos os que têm fome e sede de justiça”.
Irmãos e irmãs da caminhada interpelam a nossa Igreja para que não se deixe seduzir pela tentação do acomodamento, pelo gosto do poder e pela miragem do prestígio mundano. Quando a igreja passa a olhar apenas para si mesma e se preocupa apenas com suas atividades internas, se torna idólatra. Deixa de ser sinal de Jesus Cristo e apresenta uma imagem mesquinha e indigna de Deus. Ainda bem que, nas periferias, com ou sem apoio oficial, as comunidades e pastorais proféticas continuam obedecendo a voz do Espírito que sopra onde quer. Como disse Paulo, “onde houver espírito de liberdade, aí está o Espírito de Deus” (2Cor 3,17).

Jornal O Popular pág. 9
Autor: Marcelo Barros



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