sábado, 1 de setembro de 2012

AS DUAS VERSÕES DA JUSTIÇA


Relator e revisor admitem que o mensalão foi abastecido por dinheiro público, condenam os primeiros réus,
 mas divergem quanto à participação de petista.
Protagonista do maior escândalo de corrupção da história do País, o PT sempre negou a existência do mensalão com base em dois argumentos. Há sete anos o partido repete que não houve desvio de recursos públicos. Há sete anos insiste que o dinheiro providenciado pelo operador Marcos Valério apenas abasteceu sua contabilidade clandestina de campanha, o chamado caixa dois, mas jamais financiou uma organização criminosa especializada em comprar, no Congresso, votos favoráveis ao então presidente Lula. O PT, segundo o mantra cunhado por seu líder maior, só fez aquilo que todos os partidos fazem, valendo-se de recursos obtidos legalmente na iniciativa privada. Pois na mesma semana, em apenas 72 horas, o primeiro desses dois pilares da defesa petista começou a ruir durante o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal federal (STF). Os ministros Joaquim Barbosa, relator, e Ricardo Lewandowski, revisor, atestaram que pelo menos 77 milhões de reais foram surrupiados dos cofres públicos para alimentar o esquema. A concordância entre eles tem um peso simbólico. O PT esperava que Lewandowski divergisse de Barbosa. Como não o fez, a tendência é que haja unanimidade entre os ministros sobre o efetivo desvio de verbas da União. Ou seja: um duro golpe na defesa, petista, mas ainda não decisivo.
A segunda tese esgrimida pelo partido continua de pé e norteará os próximos passos do julgamento: se políticos forma de fato aquinhoados com dinheiro em troca do apoio devotado ao governo Lula. Essa questão é crucial para a definição da existência de uma quadrilha e da eventual condenação de próceres petistas, como o ex-ministro José Dirceu. Na semana passada, ela começou a ser analisada e, nesse ponto, Lewandowski cumpriu à risca o roteiro que se autoatribuiu, apresentando-se como o prometido contra-ponto ao relator. Quando começou a votar em relação aos crimes imputados ao deputado João Paulo Cunha (PT-SP), candidato à prefeitura de Osasco, o revisor foi na direção oposta à do relator.
Cunha era a primeira figura importante do PT a ser julgada, e Lewandowski o absolveu de todas as quatro acusações – justamente o contrário do veredicto Barbosa. Os dois divergiram sobre tudo, como se tratassem de casos absolutamente distintos, no que pode ser uma tônica daqui para frente .Os fatos posteriores virão esclarecer a visão de Excelsa Corte.
Revista: VEJA  Edição 2284 ano 45 nº 35 pág. 65-66
Autora: Laura Diniz

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