Relator
e revisor admitem que o mensalão foi abastecido por
dinheiro público, condenam os primeiros réus,
mas divergem quanto à participação
de petista.
Protagonista
do maior escândalo de corrupção da história do País, o PT sempre negou a
existência do mensalão com base em dois argumentos. Há sete anos o partido
repete que não houve desvio de recursos públicos. Há sete anos insiste que o
dinheiro providenciado pelo operador Marcos Valério apenas abasteceu sua
contabilidade clandestina de campanha, o chamado caixa dois, mas jamais
financiou uma organização criminosa especializada em comprar, no Congresso,
votos favoráveis ao então presidente Lula. O PT, segundo o mantra cunhado por
seu líder maior, só fez aquilo que todos os partidos fazem, valendo-se de
recursos obtidos legalmente na iniciativa privada. Pois na mesma semana, em
apenas 72 horas, o primeiro desses dois pilares da defesa petista começou a ruir
durante o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal federal (STF). Os ministros
Joaquim Barbosa, relator, e Ricardo Lewandowski,
revisor, atestaram que pelo menos 77 milhões de reais foram surrupiados dos
cofres públicos para alimentar o esquema. A concordância entre eles tem um peso
simbólico. O PT esperava que Lewandowski divergisse de
Barbosa. Como não o fez, a tendência é que haja unanimidade entre os ministros
sobre o efetivo desvio de verbas da União. Ou seja: um duro golpe na defesa,
petista, mas ainda não decisivo.
A
segunda tese esgrimida pelo partido continua de pé e norteará os próximos passos
do julgamento: se políticos forma de fato aquinhoados com dinheiro em troca do
apoio devotado ao governo Lula. Essa questão é crucial para a definição da
existência de uma quadrilha e da eventual condenação de próceres petistas, como
o ex-ministro José Dirceu. Na semana passada, ela começou a ser analisada e,
nesse ponto, Lewandowski cumpriu à risca o roteiro que
se autoatribuiu, apresentando-se como o prometido contra-ponto ao relator. Quando começou a votar em relação
aos crimes imputados ao deputado João Paulo Cunha (PT-SP), candidato à
prefeitura de Osasco, o revisor foi na direção oposta à do
relator.
Cunha
era a primeira figura importante do PT a ser julgada, e Lewandowski o absolveu de todas as quatro acusações –
justamente o contrário do veredicto Barbosa. Os dois divergiram sobre tudo, como
se tratassem de casos absolutamente distintos, no que pode ser uma tônica daqui
para frente .Os fatos posteriores virão esclarecer a
visão de Excelsa Corte.
Revista:
VEJA Edição
2284 ano 45 nº 35 pág. 65-66
Autora: Laura
Diniz
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