domingo, 5 de agosto de 2012

REFLEXÃO DE FREI BETTO



Ao viajar pelo Oriente,
 mantive contatos com monges do Tibete, 
da Mongólia, do Japão e da China.
 Eram homens serenos, comedidos, recolhidos
e em paz nos seus mantos cor de açafrão.
Outro dia, eu observava
 o movimento do aeroporto de São Paulo: 
a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares,
preocupados, ansiosos, 
geralmente comendo mais do que deviam.
Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, 
mas como a companhia aérea oferecia um outro café,
 todos comiam vorazmente. 
Aquilo me fez refletir:
 "Qual dos dois modelos produz felicidade?"
Estamos construindo super-homens 
e super  mulheres, totalmente equipados,
 mas emocionalmente  infantilizados.
Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, 
em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica;
 hoje, tem sessenta academias
de ginástica e três livrarias!
Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com 
a desproporção em relação à malhação do espírito.
Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos
"Como estava o defunto”?
"Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!"
A publicidade não consegue vender felicidade, 
então passa a ilusão de que a felicidade
é o resultado da soma de prazeres: 
"Se tomar este refrigerante,
 vestir este  tênis,  usar esta camisa,
comprar este carro,você chega lá!"
O grande desafio é começar a ver
 o quanto é bom ser livre de todo o condicionamento.
Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno.
Na Idade Média as cidades adquiriam status
 construindo uma catedral;
hoje, constroi-se um shopping-center. 
É curioso: a maioria dos shoppings-centers tem linhas
arquitetônicas de catedrais estilizadas;
 neles não se pode ir de qualquer
maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. 
E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca:
 não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...
Entra-se naqueles claustros ao som do
 gregoriano pós-moderno,
aquela musiquinha de esperar dentista.
Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os
veneráveis objetos de consumo, 
acolitados por belas sacerdotisas.
Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus.
Deve-sepassar cheque pré-datado,pagar a crédito, 
 entrar no cheque especial,sente-se no purgatório.
 Mas se não pode comprar,
 certamente vai se sentir no inferno...
 Felizmente, terminam todos na
 eucaristia pós-moderna,irmanados na mesma mesa.
 com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald...
Costumo advertir os balconistas 
que me cercam à porta das lojas:
"Estou apenas fazendo um passeio socrático". 
Diante de seus olhares espantados, explico:
 "Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar
a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas.
Quantos vendedores como vocês o assediavam, ele respondia:
"Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz”!

Uma boa e feliz Semana!


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