Proveniente de
um tempo passado que trazem lembranças, a saudade e a nostalgia, sempre mote de
canções e poemas, nos tiram do automatismo da vida neste instante e nos levam a
contatar a interioridade com mais intensidade.
Em uma
sociedade tecnocrática de regida pelo esvaziamento das relações humanas e pelo
embotamento psíquico proveniente da hipertrofia de estímulos nervosos derivados
do ritmo vertiginoso da existência submetida ao regime tirânico da alienação
existencial, da massificação da cultura e do embrutecimento da mente pela
espetacularização da realidade, a noção de vida interior cada vez mais perde sua
importância na contemporaneidade. A dinâmica da superficialidade impera sobre
toda subjetividade, ocasionando assim a diminuição da riqueza simbólica da
cultura promovida por nossas vivências psicológicas pautadas pelo cultivo da
memória. Nessas condições, o fato de refletirmos filosoficamente algumas
questões sobre as experiências da saudade e da nostalgia, tão celebradas em
poemas e canções, talvez nos auxilie a revalorizar aspectos de nossa
interioridade recalcados pelo artificialismo da vida tecnicista, cada vez mais
desmemoriada e culturalmente alienada.
É um mal de
que se gosta. A saudade faz aflorar sentimentos de reconhecimento por um bem
ausente que, aspiramos, retorne ao seu lugar em nossa vida.
Desprovida de
saudade a vida humana, decerto seria miserável, pois estaríamos reduzidos a um
presente instantâneo grosseiro, automático.
O indivíduo
nostálgico considera que a felicidade está, em especial, situada no passado;
este somente existe na memória como recordação saudosa.
Revista:
Filosofia Ano VI Edição 72 - Pág.
25-31
Autor: Renato Nunes
Bittencourt
Nenhum comentário:
Postar um comentário