quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A SAUDADE, A NOSTALGIA E O INFÁVEL



Proveniente de um tempo passado que trazem lembranças, a saudade e a nostalgia, sempre mote de canções e poemas, nos tiram do automatismo da vida neste instante e nos levam a contatar a interioridade com mais intensidade.
Em uma sociedade tecnocrática de regida pelo esvaziamento das relações humanas e pelo embotamento psíquico proveniente da hipertrofia de estímulos nervosos derivados do ritmo vertiginoso da existência submetida ao regime tirânico da alienação existencial, da massificação da cultura e do embrutecimento da mente pela espetacularização da realidade, a noção de vida interior cada vez mais perde sua importância na contemporaneidade. A dinâmica da superficialidade impera sobre toda subjetividade, ocasionando assim a diminuição da riqueza simbólica da cultura promovida por nossas vivências psicológicas pautadas pelo cultivo da memória. Nessas condições, o fato de refletirmos filosoficamente algumas questões sobre as experiências da saudade e da nostalgia, tão celebradas em poemas e canções, talvez nos auxilie a revalorizar aspectos de nossa interioridade recalcados pelo artificialismo da vida tecnicista, cada vez mais desmemoriada e culturalmente alienada.
É um mal de que se gosta. A saudade faz aflorar sentimentos de reconhecimento por um bem ausente que, aspiramos, retorne ao seu lugar em nossa vida.
Desprovida de saudade a vida humana, decerto seria miserável, pois estaríamos reduzidos a um presente instantâneo grosseiro, automático.
O indivíduo nostálgico considera que a felicidade está, em especial, situada no passado; este somente existe na memória como recordação saudosa.

Revista: Filosofia Ano VI Edição 72 - Pág. 25-31
Autor: Renato Nunes Bittencourt


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