“A
Fazendo História da Daniela chegou!”, avisa lá para dentro do abrigo paulistano
a criança mais próxima ao portão. A cena se repete todas as semanas, no mesmo
dia e no mesmo horário, quando chega um dos colaboradores do projeto Fazendo
Minha História. “E você, é a Fazendo História de quem?”, pergunta um pequeno
para a repórter. Nos abrigos onde o projeto atua, cada jovem conta com uma
pessoa responsável por auxiliá-lo a fazer o livro da sua
vida.“Quer
ver meu álbum?”, oferece a menina de 11 anos, orgulhosa, já na sala reservada.
As páginas caprichadas, recheadas de papéis de carta, desenhos coloridos e
fotos, falam de gostos, vontades, saudades e segredos que ela registra com ajuda
de uma voluntária, a “Fazendo História” dela.Os
voluntários são treinados para aplicar a metodologia do Instituto fazendo
História em abrigos de vários estados do País – e também na Conta Rica. A ideia
surgiu quando a psicóloga Claudia Vidigal, presidente da instituição, atendia
bebês de uma unidade da antiga FEBEM.Ela
percebeu que as crianças tinham pouca individualidade e faltava até quem
soubesse o nome de cada uma. Lamentou: “essa menina nunca vai saber que demorou para andar porque tinha medo de pisar fora do
berço”.Com
o registro do próprio percurso, as crianças e adolescentes saem do grande guarda-chuvas “jovem de abrigo” para ter suas próprias
características, maior apropriação de seu passado e, claro, de seu futuro. A
psicóloga descobriu que, para isso, não precisava muito mais do que um grande
álbum em branco e alguns materiais de papelaria: ”o grande lance é ter alguém
interessado em você, porque você tem uma história e ela interessa a
alguém”.No
dia da reportagem no abrigo, Daniela tinha uma boa notícia: “vou encontrar minha
mãe e mostrar meu álbum para ela”. As páginas preenchidas ao longo de um ano
ficam sempre com a criança, seja qual for o seu encaminhamento: de volta ao lar,
em uma nova família ou na independência, em caso de maioridade. “Assim elas não
vão embora com uma das colaboradoras, Cristiane Damiam. Levam consigo a própria história.Revista:
BRASIL - Almanaque de Cultura PopularAno 14 nº 160 pág. 08
Nenhum comentário:
Postar um comentário