terça-feira, 21 de agosto de 2012

CRIANÇAS DE ABRIGO NÃO DEIXAM A PRÓPRIA HISTÓRIA DE PERDER


“A Fazendo História da Daniela chegou!”, avisa lá para dentro do abrigo paulistano a criança mais próxima ao portão. A cena se repete todas as semanas, no mesmo dia e no mesmo horário, quando chega um dos colaboradores do projeto Fazendo Minha História. “E você, é a Fazendo História de quem?”, pergunta um pequeno para a repórter. Nos abrigos onde o projeto atua, cada jovem conta com uma pessoa responsável por auxiliá-lo a fazer o livro da sua vida.“Quer ver meu álbum?”, oferece a menina de 11 anos, orgulhosa, já na sala reservada. As páginas caprichadas, recheadas de papéis de carta, desenhos coloridos e fotos, falam de gostos, vontades, saudades e segredos que ela registra com ajuda de uma voluntária, a “Fazendo História” dela.Os voluntários são treinados para aplicar a metodologia do Instituto fazendo História em abrigos de vários estados do País – e também na Conta Rica. A ideia surgiu quando a psicóloga Claudia Vidigal, presidente da instituição, atendia bebês de uma unidade da antiga FEBEM.Ela percebeu que as crianças tinham pouca individualidade e faltava até quem soubesse o nome de cada uma. Lamentou: “essa menina nunca vai saber que demorou para andar porque tinha medo de pisar fora do berço”.Com o registro do próprio percurso, as crianças e adolescentes saem do grande guarda-chuvas “jovem de abrigo” para ter suas próprias características, maior apropriação de seu passado e, claro, de seu futuro. A psicóloga descobriu que, para isso, não precisava muito mais do que um grande álbum em branco e alguns materiais de papelaria: ”o grande lance é ter alguém interessado em você, porque você tem uma história e ela interessa a alguém”.No dia da reportagem no abrigo, Daniela tinha uma boa notícia: “vou encontrar minha mãe e mostrar meu álbum para ela”. As páginas preenchidas ao longo de um ano ficam sempre com a criança, seja qual for o seu encaminhamento: de volta ao lar, em uma nova família ou na independência, em caso de maioridade. “Assim elas não vão embora com uma das colaboradoras, Cristiane DamiamLevam consigo a própria história.Revista: BRASIL - Almanaque de Cultura PopularAno 14 nº 160 pág. 08







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