Eu
canto porque o instante existe
e a minha vida está
completa.
Não
sou alegre nem sou triste: sou poeta.
Irmão
das coisas fugidias,
Não
sinto gozo nem tormento.
Atravesso
noites e dias no vento.
Se
desmorono
ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
-não
sei, não sei.
Não sei se fico ou passo.
Sei
que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa
ritmada.
E
um dia sei que estarei mudo:
-Mais
nada.
Livro:
Os cem melhores poemas brasileiros do século Pág.
99
Autor:
Cecília Meireles
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