Cito um
amigo, que estava em Zurique: “hoje aconteceu algo interessante comigo: vinha
arrastando a mala, indo pegar o trem. Não vi a latinha em que uma mendiga
recolhia moedas, e minha mala passou sobre a sua fonte de grana. Quando vi
fiquei horrorizado com meu involuntário gesto. Voltei e pedi desculpas olhando
no olho dela. Rapaz, você precisava ver a gratidão estampada nos olhos dela, ao
ver que eu estava pedindo desculpas em que vez de xingá-la, por atrapalhar a
circulação no passeio... Foi tanta a gratidão nos olhos dela que me senti ainda
mais tocado, enfiei a mão no bolso e dei para ela todas as moedas que eu tinha.
Seus olhos marejaram de lágrimas e eu saí feliz como uma criança comigo mesmo.
O que
esse depoimento faz pensar? Primeiro, que haja miséria num país rico como a
Suíça. Mas, depois disso, e na mesma lógica do espanto, que a mendiga não se
tenha revoltado, não tenha protestado ou reclamado. Ao contrário, ela se
extasiou quando meu amigo, sem maldade, atropelou sua “fonte de grana.” E ficou
radiante quando foi olhada nos olhos. Este é o nosso ponto, aqui: ser
reconhecido pelo outro, ser considerado como pessoa, passa por alguém nos olhar
no olho, nos tratar como igual. Isso não tem preço.
Revista: Filosofia - Ano VI Edição 72 pág.
82
Autor: Renato Janine Ribeiro
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