quarta-feira, 15 de agosto de 2012

OS SANTOS SÁBIOS


Ser um doutor da Igreja Católica Apostólica Romana não é para qualquer um. Em quase dois mil anos de história, a instituição deu o título a apenas 33 de seus mais de sete mil santos. Pudera, são doutores da igreja apenas os santos que deixaram documentos que sobreviveram ao tempo e que, de alguma forma, sintetizam a doutrina católica a ponto de servirem de exemplo como vida religiosa. Nesse sentido, não surpreende também que sejam poucas as mulheres entre os doutores. Privada de educação por milênios, nunca foi fácil para elas deixarem seu legado por escrito. Assim, hoje apenas três  figuras entre os 33 doutores da igreja: Santa Tereza de Ávila, Santa Catarina de Sena e Santa Terezinha de Lisieux. Em breve, porém, mais uma entrará nessa seleta lista. O papa Bento XVI deve anunciar formalmente, em 7 de outubro, a alemã Santa Hildegarda de Bingen como nova doutora da igreja católica. “É um momento novo para a igreja, que  tenta espelhar o protagonismo que as mulheres já têm na sociedade dentro da instituição,” afirma Fernando Altemeyer, professos de teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Neste contexto, a escolha de Santa Hildegarda como doutora é mais do que oportuna. Monja beneditina nascida em 1098 onde hoje é a Alemanha, ela é tida por alguns como representante do feminismo católico do começo do primeiro milênio. Se publicamente, como religiosa, se mostrava submissa aos seus superiores homens, no dia a dia, como administradora do mosteiro Disíbodenberg, exercia autonomia consideravelmente maior do que a média, dando liberdade às monjas, compondo músicas, estudando ciências naturais e escrevendo. Entre os trabalhos que deixou, há um livro sobre medicina herbal que trata de questões femininas como cólicos menstruais, além de outros textos sobre misticismos católico e estudo da música. “Mulheres assim passaram a ser reconhecidas pela igreja a partir do Concílio Vaticano II”, explica o padre Valeriano dos Santos Costa, diretor da Faculdade de Teologia da PUC-SP. Segundo ele, o Concílio, reunião de bispos e cardeais que completa 50 anos agora em 2012, arejou a igreja, abrindo novos horizontes para a instituição e novas portas par as mulheres.
Mas, como a Igreja Católica costuma fincar as pilastras na tradição, abrindo poucas frestas para a modernidade, no mesmo dia em que Santa Hildegarda será doutorada, outro homem, o 31º, também ascenderá ao panteão de luminares da Igreja. É o espanhol São João de Ávila, nascido em 1.500 numa família abastada da cidade de Almodóvar Del Campo. Ainda jovem, São João seguiu o rumo da fé e, logo que seus pais morreram, ele doou tudo o que a família tinha aos pobres e saiu em missão para expandir a fé na região de Andaluzia, recém-libertada do domínio mouro. Foi fundamentalmente na expansão da ordem dos jesuítas na Espanha e deixou cartas e livros que apresentam o caminho para a sublimação das paixões humanas.


Revista: Isto é – Ano 36 nº 2231 pág. 56-57
Autor: João Loes



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