quinta-feira, 26 de julho de 2012

Prazeres e desprazeres do álcool


Fim de tarde de um dia quente de verão, em algum lugar da África, há 2,6 milhões de anos, quando as pessoas vivem de caça e coleta. Um homem cansado, faminto e sedento senta-se no chão de uma caverna e, na falta de algo melhor para comer ou beber, ingere restos já fermentados de frutos e grãos colhidos dias antes. Em poucos minutos é invadido por uma sensação de leve tontura e certa euforia. Ele continua a ingerir a mistura e experimentar outra sensação – agora de relaxamento e sonolência, que o leva a adormecer. Foram descobertos os feitos do álcool.
Entre 6000 e 5000 a.C Os sumérios, egípcios e babilônios produzem cerveja, e os persas, vinho. A ingestão de bebidas alcoólicas já é parte dos hábitos e da cultura de vários povos. As sensações causadas por bebidas alcoólicas são associadas à religiosidade, á proximidade dos deuses, e passam a fazer parte de vários rituais religiosos. Por volta de 1800 a.C. os sumérios escrevem o hino a Ninkasi (deus protetor das cervejarias), que é ao mesmo tempo uma prece e uma receita para a produção de cerveja. Pessoas embriagadas, com comportamentos inadequados, levam à formulação de normas sociais de controle do uso das bebidas alcoólicas, restringindo-o a determinadas quantidades, situações ou idade. Em papiros egípcios foram encontrados hieróglifos alertando para os perigos da bebida em excesso. Na Bíblia, no livro do Gênesis, é mencionado que após o dilúvio Noé passou a cultivar a terra, plantou uma vinha, se embriagou e ficou nu, sugerindo uma atitude da embriaguez.
Por volta de 32. Jesus faz o milagre da transformação da água em vinho em um casamento judaico. Algum tempo depois, na última ceia, compartilha vinho com seus discípulos e atribui-lhe um caráter simbólico (representa o seu sangue a ser derramado pelo bem da humanidade) que serviria de inspiração para rituais religiosos que se perpetuam até hoje nas missas católicas.
Idade Média. Os árabes inventam a destilação, criando bebidas com maior concentração de álcool em comparação às fermentadas. Um pouco mais tarde, com a Revolução Industrial na Inglaterra, a produção passa a ser feita em grande escala, aumentando a proporção de pessoas embriagadas e os problemas associados ao uso de álcool.
Séculos 20 e 21. Vários tipos de bebidas alcoólicas são consumidos no mundo ocidental. Produzidas em escala industrial, sua comercialização é um dos mais rentáveis segmentos da economia. Apesar do reconhecimento dos problemas médicos e sociais decorrentes o consumo de bebidas alcoólicas, ele é incentivado pela mídia. Em outras culturas, como a islâmica, é proibido, considerado pecado e crime.
Esses são apenas alguns exemplos de como as bebidas alcoólicas vêm acompanhando a humanidade. Dizem que Vinicius de Morais teria afirmado: “Se o cachorro é o melhor amigo do homem, então o uísque é o cachorro engarrafado”. Mas o que diz a ciência sobre esse “companheiro da humanidade”, tido como “amigo” por uns e “vilão” por outros? Como o álcool interage com o organismo? Que mudanças ele provoca no seu funcionamento e na interação da pessoa com o ambiente? Algumas respostas já são conhecidas pela ciência. Outras ainda estão sendo procuradas.



Fonte:Revista: Scientific American – nº31
p.60 e 61

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