A missa e o Apocalipse
De acordo com as antigas crenças judaicas, o culto no Templo de Jerusalém espelhava o culto dos anjos no céu. O sacerdócio levítico, a liturgia da aliança, os sacrifícios eram vagas representações de modelos celestes.
Ainda assim, o livro do Apocalipse tinha algo diferente, algo mais. Enquanto Israel rezava por imitação dos anjos, a Igreja do Apocalipse adorava junto com os anjos (veja 19,10). Enquanto somente os sacerdotes podiam entrar no lugar santo do Templo de Jerusalém, o Apocalipse mostrava uma nação de sacerdotes (veja 5,10; 20,6) que habitavam sempre na presença de Deus.
Já não haveria um arquétipo celeste e uma imitação terrena. Agora o Apocalipse revelava um só culto, compartilhado por homens e anjos!
Os biblistas discordam a respeito de quando o livro do Apocalipse foi escrito; as estimativas variam do fim dos anos 60 até o final dos anos 90 d.C. Entretanto, quase todos concordam que a medição do Templo por João (AP 11,1) indica uma data anterior a 70, pois depois desta data não havia mais Templo para medir.
De qualquer modo, o culto sacrifical da antiga aliança encontrou seu fim definitivo com a destruição do
Templo e de Jerusalém em 70 d.C. Para os judeus de todo o mundo esse foi um acontecimento cataclísmico – que prefigurava o juízo final do “templo cósmico” no fim dos tempos. Depois de 0 d.C. a fumaça dos cordeiros dos sacrifícios de Israel não mais subiu. As legiões romanas reduziram a entulho enegrecido pelo fogo a cidade e o santuário que davam sentido à vida dos judeus da Palestina e do exterior.
Templo e de Jerusalém em 70 d.C. Para os judeus de todo o mundo esse foi um acontecimento cataclísmico – que prefigurava o juízo final do “templo cósmico” no fim dos tempos. Depois de 0 d.C. a fumaça dos cordeiros dos sacrifícios de Israel não mais subiu. As legiões romanas reduziram a entulho enegrecido pelo fogo a cidade e o santuário que davam sentido à vida dos judeus da Palestina e do exterior.
O que João descreve em sua visão era nada menos que o fim do mundo antigo, da antiga Jerusalém, da antiga aliança e a criação de um mundo novo, uma nova Jerusalém, uma nova aliança. Com a ordem do mundo novo surgiu uma nova ordem de culto.
É difícil não ouvir ecos do evangelho de João: “Destruí esse templo, e em três dias eu o reerguerei” (Jô 2,19). “... vem a hora em que nem sobre esta montanha, nem em Jerusalém adorareis o Pai... na qual os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade” (Jô 4,21.23). No Apocalipse, essas previsões se realizam quando o novo Templo se revela como o corpo místico de Cristo, a Igreja, e quando a adoração “no Espírito” tem lugar na nova Jerusalém celeste.
Do mesmo modo, é fácil entender por que os cristãos primitivos consideravam o véu rasgado do Templo tão significativo do ponto de vista teológico e litúrgico. O véu rasgou-se exatamente quando o corpo de Cristo foi decisivamente rasgado. Quando Jesus completou a oferenda terrena de seu corpo, Deus assegurou que o mundo soubesse que o véu fora removido do “Santuário”. Agora todos – reunidos na Igreja – podiam entrar em sua presença no dia do Senhor:
Destarte, irmãos, temos total garantia de acesso ao santuário pelo sangue de Jesus. Temos aí um caminho novo e vivo, que ele inaugurou através do véu, isto é, através da sua humanidade... Velemos uns pelos outros para nos estimular à caridade e às boas obras. Não abandonemos as nossas assembléias... mas animemo-nos, tanto mais que vedes o Dia aproximar-se (Hb 10,19-20.24-25).
“No Espírito no dia do Senhor”, João viu algo que era mais completo do que qualquer narrativa ou argumento poderia transmitir. Ele viu que parte do mundo já estava transformada em um novo céu e uma nova terra.
Alguns séculos mais tarde, eu também comecei a me voltar para olhar.
Livro: O Banquete do Cordeiro
A missa segundo um convertido
Autor: Scott Hahn
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