Os cristãos ucranianos adoram contar como seus antepassados “descobriram” a liturgia. Em 988, quando se converteu ao Evangelho, o príncipe Vladimir de Kiev enviou emissários a Constantinopla, a capital da cristandade oriental. Ali, eles participaram da liturgia bizantina na catedral da Sagrada Sabedoria, a igreja mais majestosa do Oriente. Depois de passar pela experiência do canto litúrgico, do incenso, dos ícones – mas, acima de tudo, da Presença - , os emissários enviaram esta mensagem ao príncipe: “Não sabíamos se estávamos no céu ou na terra. Nunca vimos tanta beleza... não sabemos descrevê-la, mas disto temos certeza: ali, Deus habita entre a humanidade”.
A Presença. Em grego, a palavra é parusia e transmite um dos temas principais do livro do Apocalipse. Nos últimos séculos, os intérpretes têm usado a palavra quase exclusivamente para descrever a segunda vida de Jesus no fim dos tempos, e essa é a definição que se encontra na maioria dos dicionários. Contudo, não é o sentido principal. O sentido primordial de parusia é uma presença real, pessoal, viva, permanente e ativa. No último versículo do evangelho de Mateus, Jesus promete: “eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos tempos”.
Apesar de nossas redefinições, o livro do Apocalipse define essa forte sensação da iminente parusia de Jesus – sua vinda que tem lugar agora mesmo. O Apocalipse nos mostra que ele está aqui em plenitude – com sua realeza, em julgamento, em guerra, no sacrifício sacerdotal, em corpo e sangue, alma e divindade – onde quer que os cristão celebre a Eucaristia.
“A liturgia é a parusia contemplada antes do tempo, o já que entra em nosso ‘ainda não’”, escreveu o cardeal Josep Ratzinger. Quando Jesus vier novamente no fim dos tempos, ele não terá uma só gota de glória a mais do que tem neste momento, nos altares e nos sacrários de nossas igrejas. Deus habita entre a humanidade agora mesmo, pois a missa é o céu na terra.
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