Tânatos é tido como deus da morte. É filho de Nix, a noite. Sísifo conseguiu algemar Tânatos. E, durante certo período, a morte cessou de devastar a vida da humanidade. Entretanto, Zeus decidiu libertar Tânatos, que, desalgemado, eliminou Sísifo. E, então, Tânatos voltou a espalhar as forças mortíferas pelo mundo.
Tânatos distribui a morte “natural” provocada pela velhice, por doenças e acidentes meteorológicos. Nessa área, Tânatos mantém-se moderado porque os avanços científicos estão favorecendo a vida humana. Mas, em outras áreas, Tânatos demonstra fôlego e apetite, e age com fúria. Não lhe basta repartir o “morrer” lentamente. Tem pressa. Mata com voracidade. Tânatos atiça chacinas e extermina multidões barbaramente. E a eficiência tanatológica está crescendo disparadamente.
Matar tornou-se prática rotineira. Programam-se chacinas. Mata-se com frieza, cinicamente. Executam-se existências de forma mano é festa. O código manda matar com arrogância, para ostentar poderio, exibir valentia e arrotar impunidade. Matadores profissionais, bandidos sofisticados e, até, detentores de cargos públicos assassinam e esbanjam orgasmo tanatológico. Babam de prazer mórbido. Usufruem felicidade de monstros. Amedrontam e silenciam testemunhas. O império de Tânatos desafia a sobrevivência da humanidade.
Há contágio tanatológico. Tânatos oferece a pedagogia do homicídio. Propaga a mentalidade assassina e ensina a matar. Difunde-se a crença de que matar é coisa banal, é “normal”. As pessoas são contaminadas pela ferocidade destrutiva. Introduz-se a cultura do assassinato. E não falta o culto ao exterminador, ao ditador sanguinário.
Um fenômeno deve preocupar a quem não perdeu o sentido de humanidade. Tânatos mata com a violência das armas. E mata também com a violência da servidão, do desemprego, do salário insuficiente, da desnutrição, da doença e do pânico. E pode acontecer que o contágio tanalógico consiga encharcar os brasileiros de ódio e crueldade. E aí será uma tragédia. É oportuno lembrar que Tânatos tem coração de ferro e entranhas de bronze. É impiedoso. A contaminação tanalógica pode metalizar a consciência dos brasileiros e despojá-los do senso de humanidade. Seríamos povo sem alma, sociedade barbarizada. A rápida propagação de práticas cruéis já constitui sintoma alarmante.
Perante o cenário tanalógico, alguns se sentem assustados e revoltados. Outros permanecem perplexos e entorpecidos. Hipno era o “sono” que adormecia as pessoas. Hipno tem o poder de hipnotizar, anestesiar a sociedade. Curioso é que Hipno adormece os clientes e Tânatos mata-os. A sociedade que se mostra insensível em relação a tantos assassinatos parece sonolenta, hipnotizada. Bernard Durel diz que “o mal muito propagado hoje é a apatia”.
É hora de despertar para atalhar o surto tanatológico que ensanguenta casas, ruas, praças, bairros e famílias. E reconhecer que o país tem problemas graves e crônicos que exigem soluções radicais. é imprescindível descobrir e extirpar as causas que desencadeiam o extermínio de tantos seres humanos. É urgente ativar a paixão biofílica, que fomenta o amor à vida, para sustar a demolição tanatológica.
Livro: Antropologia
Autor: Juvenal arduini
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