Meu apartamento tem um jardim.
O jardim é lugar que me encanta
e me atrai para ver, contemplar, pensar.
Penso como Epicuro. A vida dos sábio deve
decorrer num jardim onde encontre
tranqüilidade e paz. Mas ainda onde, possa
encontrar e conversar com amigos, num ambiente
onde a natureza seja parte integrante de todos
os assuntos que instruem as pessoas
com a sua vida.
Assim decorre também a minha vida.
A rua abaixo chama-se Alameda da rosas.
Eu tenho na varanda cinquenta roseiras
a cada rosa nascida eu me encanto e me comovo,
beleza, perfume, cor, pétalas que desabrocham.
É uma história de vida e encantamento.
Mas cultivo também cinquenta orquídeas
estas perfumam o ambiente, na simplicidade
de sua beleza, fazem-me pensar e sonhar
na presença de Deus quando passeava para
visitar o primeiro casal na jardim do Éden.
Tenho também beijos pendurados na tela de cordas.
Essas plantas passam os dias atraindo os olhares
dos caminhantes do parque que circunda o zoológico.
Ainda pela manhã as graças com sua brancura como flocos
de algodão se instalam na árvore próxima ao lago.
Se voam dão-nos o espetáculo de brancas asas delta.
Os pombos, fazem seus exercícios matinais em revoadas
Razantes, vão e voltam e somem para outros paramos.
Cantos matinais de passarinhos me acordam
e eu os vejo buliçosos em busca de alimentos e
da companhia das árvores, da grama e do riacho.
Vejo o pôr do sol de cada fim do dia
dourando as nuvens e se despedindo de nós
enquanto cede espaço para a noite do sono
e descanso das criaturas, saudo-o como um amigo
de cada dia que me traz alegria, alento e tempo
para cuidar da saúde, dos negócios, do trabalho.
E quando começa a escurecer aparece Venus
brilhante que no céu cintila qual diamante.
Vendo o céu cravejado de estrelas em suas constelações
com elas converso como amigos, elogio
sua beleza e elas me respondem com
sorrisos de namoradas ciumentas entre si
afinal, como diz o poeta, quem ama ouve e entende...
O mistério do universo me deslumbra, mundos
de fogo como sarças ardentes que não se consomem.
Meu amigo vento me visita várias vezes por dia
Sempre pergunto onde estava, de onde veio e para
onde vai, não diz, volta diferente a cada momento.
Ás vezes me avisa que Éolo abriu o controle
e aí terei ventania, que eu me cuide e me proteja.
Á noite as corujas agourentas se fazem ouvir no
bosque e os vagalumes querem mostrar onde elas estão
mas o pisca-pisca deles não dá para fixar o olhar nas aves.
O rugido do leão lembra a todos os descuidados
que o espaço tem dono, é território do rei
mesmo dormindo tem seu horário de rugir.
Mas minha varanda é espaço de encontro com amigos,
vinhos, queijos, castanhas e petiscos se misturam com as
piadas e os relatórios dos que não vieram participar.
O tempo para, as risadas são contínuas, os casos, ora
os casos... basófias, provocações de quem já está alto...
Como é fácil ser feliz quando Baco está conosco...
E a vida lá fora, logo abaixo nem é percebida a menos que um barulho maior de carro ou um carro policial nos lembre
a diversidade da vida que interrompe o bem-estar.
Mas momentos de emoção, quando à noite vem chegando
trazendo-nos a nostalgia do barulho do dia, tocam os sinos
e sobe ao céu uma prece, a Ave Maria, somos crianças de Deus.
Tudo o que se disse não foi para contar vantagem a qualquer
mas dizem que todos têm as próprias visões na memória e no coração.
Autor: Paulo Motta