"Contei meus anos e descobri que terei menos tempo
para
viver daqui para frente
do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como
aquele menino que recebeu
uma bacia de cerejas.
As primeiras ele chupou
displicente,
mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo
para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos
inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir
quem
eles admiram,
cobiçando seus lugares talentos e sorte.
Já não tenho tempo para
conversas intermináveis,
para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que
nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres
de
pessoas que,
apesar da idade cronológica, são imaturas.
Detesto fazer acareação
de desafetos que brigaram
pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.
As
pessoas não debatem conteúdos, apenas rótulos.
Meu tempo tornou-se escasso para
debater rótulos,
quero a essência, minha alma tem pressa,...
Sem muitas cerejas
na bacia,
quero viver ao lado de gente humana;
que sabe rir de seus tropeços,
não se encanta com triunfos,
não se considera eleita antes da hora,
não foge de
sua mortalidade.
Quero caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,
O
essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!"
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