A fome assombrava os lares durante a crise causada pela guerra civil espanhola. A avozinha não se conformava com o sofrimento. Com um sorriso estampado no rosto, para afugentar a dor daqueles anos duros, saía para coletar caracóis nos bosques próximos. Em casa, misturava os temperos disponíveis e preparava a iguaria, que oferecia à família e aos vizinhos famintos. Os “caracoles” da vovó – que na França são chamados de escargot – ganharam fama entre os moradores do bairro, os anos difíceis passaram e o prato improvisado para espantar a fome tornou-se um bem-sucedido negócio. Atualmente o neto da solidária senhora comanda um restaurante entre os becos da cidade de Granada, na região autônoma da Andaluzia, e gaba-se de oferecer no cardápio os melhores caracóis do mundo.
Sem dúvida, trata-se de um exagero de marketing do neto orgulhoso, mas a história ilustra bem como a criatividade pode ajudar a superar momentos difíceis. Hoje a Espanha volta a se afundar em uma profunda crise. O desemprego cresce a índices assustadores, há mendigos pelas esquinas, multiplicam-se os protestos tensos contra as medidas de austeridade, o consumo cai e a inadimplência sobe aos pícaros. Como na época da vovó e seu caracóis, as empresas investem na criatividade. Menus anticrises nos restaurantes, liquidações nas lojas e promoções para passagens em vôos domésticos (“Neste verão, fique na Espanha. Ela precisa de você”, diz a propaganda) são alguns dos recursos usados para driblar mais uma fase de turbulência.
Autora: Silvana Bittencourt
Jornal O Popular do dia 28 de setembro de 2012
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