segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O Padre Vieira e a beleza
Antônio Vieira soube utilizar-se muito bem dos instrumentais da sua época. Descobriu a beleza, a glória (o Kabôd de Balthasar) no discurso das palavras. Tornou-se um literato da língua portuguesa e, através dos recursos utilizados, conseguiu mostrar a grandeza de Deus. Por esta razão nos deixou uma obra literária vasta e variada. Além dos cérebres Sermões mais de duzentos, escreveu alguns tratados proféticos, diversos opúsculos referentes a questões políticas e sociais. Outros opúsculos tratam de Filosofia. Teologia e escritos espirituais. Além desses, existem as cartas em número considerável, ultrapassando em mais de setecentas, escritas ao longo dos seus setenta anos de vida pública. Só na Biblioteca Nacional de Lisboa já forma catalogados quase três mil títulos sobre Vieira.
É possível seguir o pensamento teológico vieiriano pelos seus sermões de acordo com o tempo litúrgico. A escatologia de Vieira está nos sermões do Advento; os sermões do Natal e Epifania relatam a eclesiologia do autor; nos sermões da Quaresma encontraremos um tratado da sacramentologia, acentuando-se a eucaristia e confissão; no Tríduo Pascal, destaca-se a soteriologia de Vieira, enfatizando a Redenção de Cristo como salvação única e exclusiva nele. E nos sermões do período pós-pascal até Pentecostes, ressalta-se a pneumatologia do autor, em que convida a Igreja a viver o Cristo ressuscitado, na dimensão da fé, propagando o Reino de Deus. Percebe-se uma elaboração lógica por parte de Vieira, na concepção dos seus sermões, o que nos permite acentuar uma subordinação do seu pensamento a uma teologia que o autor procura enfatizar através da pessoa de Cristo e dos Padres da Igreja. Afirmar que Vieira seria um homem, apenas, pragmático seria reduzir, simploriamente, a grandeza daquilo que ele foi ao seu tempo e ainda continua sendo nestes quatros séculos. Caso contrário, o que justificaria continuar estudando o padre Antônio Vieira tão exaustivamente?
Balthasar, na sua obra Herrlichkeit [Glória] afirma que Cristo, como palavra encarnada de Deus. É a revelação estética. É a partir desta Gestalt, desta forma humana do Filho em Jesus de Nazaré, que Balthasar desenvolve a sua estética teológica. Vieira, paralelamente, utiliza-se para ser a palavra profética através dos seus sermões.

Autor: Padre João Geraldo Machado Bellocchio
Livro: A Beleza pg. 1076/1077

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