quarta-feira, 27 de junho de 2012

Uma Luz Nas Trevas

“Idade das Trevas”

A expressão “idade das trevas” chegou a ser aplicada a todo o milênio que transcorreu entre o fim da Antiguidade e o Renascimento. No entanto, te crescido muito o reconhecimento das realizações da alta Idade Media, entre os séculos VI EX, e, em conseqüência – como comenta David Knowles -, os historiadores têm empurrado cada vez mais para trás essa duvidosa distinção, excluindo dela os séculos VIII,IX,e X.
Quanto aos séculos Vi e VII, porém, restam poucas dúvidas de que foram marcados por um retrocesso cultural e intelectual, como se pode observar na educação, na produção literária e em outros âmbitos semelhantes. Terá sido culpa da Igreja? Já há décadas, o historiador Will Durant, um agnóstico , defendeu a Igreja dessa acusação, atribuindo a causa do declínio, não a ela – que fez de tudo para impedi-lo -, mas às invasões bárbaras do fim da Antiguidade. “A principal causa do retrocesso cultural – explica Durant – não foi o cristianismo, mas a invasão bárbara; não a religião, mas a guerra. Os aluviões humanos arruinaram ou empobreceram cidades, mosteiros, bibliotecas, escolas, e tornaram impossível a vida dos estudantes e dos cientistas. Mas a ruína talvez fosse muito maior se a Igreja não tivesse mantido uma certa ordem em uma civilização que se desintegrava”.
Por volta dos fins do século II, a balbúrdia de tribos germânicas que se deslocavam da Europa central para o Ocidente, no que se chamou a Völkerwanderung – a “migração dos povos” -, começou a pressionar as fronteiras romanas no Reno e no Danúbio. Nos séculos seguintes, côo os generais romanos se dedicavam a fazer e desfazer imperadores, ao invés de protegerem as fronteiras, os bárbaros começaram a infiltrar-se através dos vazios abertos nas defesas do Império. Essas invasões apressaram o colapso de Roma e puseram a Igreja diante de um desafio sem precedentes.
O impacto das incursões bárbaras sobre o Império Romano variou de acordo com cada tribo germânica. Os godos, que tinham sido autorizados a estabelecer-se dentro das fronteiras do Império em 376, mas se revoltaram contra as autoridades imperiais em 378, não eram hostis aos romanos, antes respeitavam e admiravam Roma e a cultura clássica: Alarico, o general godo que viria a saquear Roma em 410, depois de tomar Atenas, dedicou-se a explorar a famosa cidade, a admirar os seus monumentos, a assistir ao teatro e a ouvir a leitura do Timeu, de Platão. Já os vândalos nutriam uma inimizade implacável por tudo o que não fosse germânico: saquearam a cidade de Roma em meados do século V e depois conquistaram o norte da África, instaurando ali uma autêntica política de genocídio.
Quando a divisão do Império Romano do Ocidente em uma colcha de retalhos de reinos bárbaros passou a ser um fato consumado e a ordem política quase desapareceu, bispos, sacerdotes e religiosos lançaram-se a restabelecer sobre as ruínas os alicerces da civilização. O homem que consideramos o “pai da Europa”, Carlos Magno, (rei 768-814) embora não estivesse completamente livre de resquícios bárbaros, estava ao menos tão persuadido da beleza, verdade e superioridade da religião católica que fez todo o possível para construir sobre ela a nova Europa pós-imperial.

Autor: Thomas E. Woods Jr.
Livro: Como a Igreja Católica construiu A Civilização Ocidental Pg.12,13,

Nenhum comentário:

Postar um comentário