Por Frei Ariovaldo da silva, ofm
O espaço litúrgico tem quatro elementos fundamentais: o altar, a mesa da palavra, o espaço da assembléia e a cadeira da presidência (bispo, padre).
Origem da palavra “altar”
O “altar” no Antigo Testamento
No Antigo Testamento, temos uma porção de exemplos de altares levantados (erigidos) para oferecer culto a Deus. O altar geralmente estava relacionado diretamente aos sacrifícios. A própria palavra hebraica para “altar”, mizbeah, significava exatamente isso: “lugar onde se sacrifica”. Mas pode ter também o sentido de monumento, lembrando alguma extraordinária experiência sobrenatural, uma especial e inesquecível experiência de Deus (cf. Gn 12,8; 13,8; 26,25; 33,20). Sobre o altar, e pelo altar, Deus entrava em contato com o seu povo.
Particularmente expressiva é a cena de Ex 24, quando Moisés levanta um altar e sobre ele realiza o rito da aspersão com sangue de animais, selando a aliança entre Deus e seu povo. Mais tarde, no Templo de Jerusalém, o altar era o espaço principal de todo o seu culto: o altar dos perfumes e o dos holocaustos. Os sacerdotes eram chamados de “ministros do altar”.
Embora o altar tivesse praticamente a forma de uma mesa, o Antigo Testamento não usa a palavra mesa para altar (exceções: Ez 39,20; Ml 1,7.12), provavelmente em consciente oposição ao altar pagão, considerado como a mesa em que a divindade comia (Is 65,11). O cristianismo, pelo contrário, vai depois usar de propósito o termo “mesa”, porque a Eucaristia é a celebração da ceia do Senhor (1Cor 11,20).
No Novo Testamento
Não obstante a opção pela palavra “mesa”, o Novo Testamento continua a usar também a palavra “altar”, seja para falar do altar normal (cf. Mt 5,23: “Se estás diante do altar para apresentar tua oferta...”), seja sobretudo para falar do próprio Cristo como o verdadeiro altar. Nós, cristãos, temos um culto, um sacrifício e um altar próprios, centrados em Cristo Jesus (cf. Hb 13,10), pois “Cristo se ofereceu uma vez para sempre” (cf. Hb 9,28) e a comunhão do novo Israel (a Igreja) com Deus é constituída agora pela união com Cristo: Ele (Cristo) é para nós ao mesmo tempo sacerdote, sacrifício e altar. No Apocalipse se fala também do altar que está diante do trono de Deus, onde se oferecem os perfumes e sacrifícios dos justos (cf. Ap 6,9; 8,3).
Lugar do Sacrifício da Cruz e da Ceia do Senhor
Para os cristãos o altar tem uma conotação sacrifical: “O altar da nova aliança é a cruz do Senhor (cf. Hb 13,10), da qual brotam os sacramentos do mistério pascal. Sobre o altar, que é o centro da igreja, se faz presente o Sacrifício da Cruz sob os sinais sacramentais” (Catecismo da Igreja Católica = CIC n.º 1182). Mas predomina o sentido de ceia eucarística: o altar “é também a mesa do Senhor, na qual o povo de Deus é convidado a participar por meio da Missa” (Instrução Geral sobre o Missal Romano = IGMR n.º 259).
Como se vê, com o caráter de “ara” (altar) acentua-se, ao mesmo tempo, o caráter de “mesa” (cf. 1Cor 10,21-22), pois o único sacrifício da Cruz (do “altar da Cruz”) se torna agora sacramentalmente presente, em um memorial comunitário, em forma de ceia eucarística. Por isso, o Missal especifica: “o altar ou mesa do Senhor é o centro de toda a liturgia eucarística” (IGMR n.º 259).
Ou, como explicita ainda mais o Catecismo da Igreja Católica: “O altar, em torno do qual a Igreja está reunida na celebração da Eucaristia, representa os dois aspectos de um mesmo mistério: o altar do sacrifício e a mesa do Senhor, e isto tanto mais porque o altar cristão é o símbolo do próprio Cristo, presente no meio da assembléia dos fiéis, ao mesmo tempo como vítima, oferecida por nossa reconciliação, e como alimento celeste que se dá a nós” (n.º 1383). Por isso, o altar é único, como símbolo de Cristo, nosso único sacerdote e vítima. A imagem do crucificado deve aparecer junto ao altar.
O altar eucarístico foi relacionado com a sepultura dos mártires, ou pelo menos com suas relíquias, associando o sacrifício dos mártires com a morte de Jesus na cruz.
O altar deve ocupar o centro para onde espontaneamente se volte a atenção de toda a assembléia dos fiéis.
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