terça-feira, 5 de junho de 2012

PLATÃO E AS DEFINIÇÕES DE JUSTIÇA


No primeiro livro, daquela que é considerada sua obra-prima. A República, Platão coloca lado a lado as definições de justiça da época – e, em certa medida, da tragédia -, “fazer bem aos amigos e mal aos inimigos” (332ª-e), e lírica, “dar a cada um o que lhe for devido” (331ª-e)  e da sofística, “a justiça é a conveniência  do mais forte” (338c). Ao longo de todo o diálogo, Sócrates irá mostrar por que nenhuma dessas definições é a adequada. Como sabido, Platão discordava da posição dos sofistas que acreditavam poder ensinar a virtude política a quem quer que fosse. Na República irá demonstrar que só determinadas pessoas nascem com o dom da sabedoria política. Aquele que não possui de nascença uma alma afeita à prudência e à sabedoria não pode governar a cidade. A política, assim como as outras atividades, exige um tipo específico de habilidade e técnica. Um treinamento externo não vai conseguir fazer despertar esse dom se o aluno já não o carregar dentro si. Platão defende um tipo atenuado de regime aristocrático, pois apesar de acreditar que os melhores, isto é, os melhores não em força, mas em sabedoria, devam governar, não crê que o talento político possa ser passado de pai para filho, é preciso que se nasça com ele.Percebemos com essa exposição que a tradição filosófica grega está em direta conexão com a tradição dramática e poética.A famosa expulsão dos poetas da cidade ideal no livro X da República deve, por isso, ser considerada como mero artifício retórico. Platão só faz uso desse artifício por querer enfatizar a sua posição, não porque acreditasse de fato que as educações política e moral pudessem ser realizadas sem a ajuda dos poetas e dramaturgos.
Infelizmente muita gente levou essa expulsão a sério e até hoje sofremos os efeitos colaterais dela. A poesia e a literatura foram equivocadamente expulsas dos departamentos de filosofia e em seu lugar colocamos as “deusas” ciência e epistemologia. Os gregos nos legaram uma lição riquíssima que não soubemos aproveitar. Ao invés de estimular nossas escolas e universidades a adotar em seus currículos,além das ciências as artes em é de igualdade, menosprezamos o seu papel na educação e conferimos-lhes um papel subalterno na mesma. Nossos poetas e escritores nacionais são esquecidos, quando na verdade poderiam estar dando uma enorme contribuição para a formação moral das nossas crianças e nossos jovens.. Esse quadro não irá mudar infelizmente, enquanto não recuperarmos o sentido verdadeiramente humanístico da educação.É preciso que a sociedade veja no artista não a figura vaidosa, mas alguém que deseja contribuir para o engrandecimento moral de todos.

Autora: Susana de Castro
Revista: Filosofia n°24    Pg.38


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