Através de séculos, ampliou-se e aprofundou-se a compreensão da dignidade do ser humano. Houve maturação da consciência antropológica. Mas, atualmente, estamos sofrendo perigosa regressão a respeito do valor do ser humano.
Impressiona a insensibilidade perante os assassinatos. Sangue humano barbaramente derramado, recoberto pela impunidade conivente e pelo conformismo popular. O neopragmatismo está reduzindo o ser humano a penca de interesses mesquinhos. A economia de mercado avalia o ser humano como máquina produtiva e como consumidor lucrativo. O ecologismo medíocre, distinto da ecologia autêntica, nivela todos os entes da natureza e cancela a saliência antropológica. Corrente norte-americana, já difundida aqui, considera os pobres como culpados pela pobreza, em vez de reconhecê-los como vítimas da miséria estrutural. O fisiologismo político descarado está ensinando como se barganha o ser humano, como se compra e se vende o caráter.
Procedimentos desse teor banalizam o ser humano. E quando o ser humano é desvalorizado, faz-se dele o que quiser. Pode-se constrangê-lo, desempregá-lo, calá-lo, escravizá-lo, desmobilizá-lo e mantê-lo injustiçado. E até exterminá-lo para favorecer interesses sórdidos e para garantir o bem-estar de grupos privilegiados. E, depois, transportam-se os cadáveres em caminhão de lixo, como aconteceu, tristemente, em metrópole brasileira.
Apesar da realidade deprimente, temos de reconhecer e defender o valor original e intransferível das pessoas. O ser humano é valor primacial no mundo. Possui dignidade congênita, que não lhe foi outorgada por sistemas políticos e econômicos. Ninguém tem o direito de anular a dignidade inata ao ser humano. Mais que espécie natural, o ser humano é espécie cultural. Interpreta o universo, transforma a natureza, planeja a sociedade, cria sistemas de vida e muda a história.
Autor: Juvenal arduini
Livro: Antropologia
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