Na ausência de Duarte Coelho ficou governando Jerônimo de Albuquerque a Capitania de Pernambuco, e que nela aconteceu neste tempo
Razão tinha (se tivera perfeito uso dela) o gentio desta capitania para não se inquietar e inquietá-la com a ausência de Duarte Coelho, pois ficava em seu lugar sua mulher D. Beatriz de Albuquerque, que a todos tratava como filhos, e Jerônimo de Albuquerque, seu irmão, que, assim por sua natural brandura e boa condição, como por ter muitos filhos das filhas dos principais, os tratava a eles com respeito. Mas, como é gente que se leva mais por temor que por amor, tanto que viram ausentes o que temiam, começaram a fazer das suas, matando e comendo a quantos brancos e negros seus escravos encontravam pelos caminhos, e o pior era que nem por isto deixavam de lhes vir a casa com seus resgates, dizendo que eles o não faziam, senão alguns velhacos, que haviam mister bem castigados.
Muito dava isto em que entender a Jerônimo de Albuquerque por não saber que conselho tomasse, e assim chamou a ele os oficiais da Câmara, e outras pessoas que o podiam dar, e juntos em sua casa lhes perguntou o que faria. Começou logo cada um a dizer o que sentia e os mais forma de parecer que os castigassem, e lhes fizessem guerra; mas, não concordando no modo dela, se desfez a junta sem resolução do caso, e se foi cada um para sua casa, só ficaram alguns, que melhor sentiam, e entre eles um chamado Vasco Fernandes de Lucena, homem grave e muito experimentado nesta matéria de índios do Brasil, que lhes sabia bem a língua e as tretas de que usam, o qual disse ao governador que não era bem dar guerra a este gentio sem primeiro averiguar quais eram os culpados, porque não ficassem pagando os justos pelos pecadores; e que ele (se lhe dava licença) daria ordem e traça com que eles mesmos se descobrissem e acusassem uns aos outros se destruíram sem nós lhes fazermos guerra, e quando fosse necessário fazer-lha, nos ajudaríamos do bando contrário, eu foi sempre o modo mais fácil das guerras, que os portugueses fizeram no Brasil, e para isto mandasse logo ordenar muitos vinhos, e convidar os principais das aldeias, para que os viessem beber, e no mais deixasse a ele o cargo. Os índios embebedados revelaram os culpados.
Depois de averiguar quais foram os homicidas dos brancos, uns mandou pôr em bocas de bombardas, e dispará-las à vista dos mais, para que os vissem voar feitos pedaços, e outros entregou aos acusadores que os mataram em terceiros e os comeram em confirmação da sua amizade, louvando aos portugueses que haviam feito justiça.
Autor: Frei Vicente do Salvador
Livro: Historia do Brasil pg. 91-93
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