segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Críticas
 
Nós cristãos faríamos em prestar mais atenção às críticas que nos fazem de fora. Nem tudo está bem entre nós. Ao longo dos séculos houve não pouca mediocridade e, de fato, m nossa prática religiosa foram se introduzindo desvios e ambigüidades que desfiguram o Espírito de Jesus.
Diz-se, por exemplo, que a religião cristã promove o infantilismo e produz pessoas pouco comprometidas na construção de uma sociedade melhor. Isso é verdade em mais de um caso. Mas isto acontece quando se busca a Deus como refúgio para os próprios problemas e se esquece o Deus revelado por Jesus, interessado por uma vida mais digna para todo ser humano. Ser fiel a Deus, experimentado como Pai de todos, não nos desresponsbiliza nunca, mas no urge a buscar um mundo melhor.
Diz-se também que a religião semeia dogmatismo e intolerância; que os católicos se sentem “proprietários” da verdade absoluta e isso os leva a desprezar os outros; que a religião traz consigo cruzadas e “guerras de religião”. Quem pode permanecer insensível a estas críticas quando conhece o que ocorreu ao longo dos séculos? Tudo isso aconteceu quando os cristãos esqueceram o Deus Pai anunciado por Jesus, que “faz nascer seu sol sobre bons e maus e chover sobre justos e injustos”.
Afirma-se que a religião não faz senão “culpabilizar”: que os cristãos vivem obcecados por questões como o divórcio, os preservativos ou o aborto; que só têm olhos para ver o mal da humanidade. Existe muita verdade em algumas destas críticas. O crente procura ser fiel a Deus e isso o faz ser mais lúcido e sensível ao mal. Mas a “obsessão casuística” ou a “morbosidade moral” ocorrem quando se esquece que Jesus coloca o ser humano não diante de um conjunto de leis, mas diante exigências do amor.
Afirma-se também que a religião leva ao conservadorismo; que os católicos vivem atados ao passado, incapazes de libertar-se do lastro de ritos, linguagens e costumes de outros tempos. Se isto acontece, é porque se esquece o Espírito criador e renovador de Jesus para buscar a segurança do passado.
A nós cristãos resulta duro ouvir as críticas que nos são dirigidas de fora da Igreja. Quase sempre nos parecem injustas e desprovidas de verdade. Essas críticas nem sempre nascem de pessoas hostis à fé, mas de crentes que, embora vivam mais ou menos afastados da Igreja, procuram responder honestamente a Deus a partir de sua própria consciência. Precisamos ouvir suas críticas, porque nos podem ajudar a ser mais fiéis ao Evangelho. Ás vezes, inclusive, podemos aprender de sua atitude responsável diante de Deus. É surpreendente a grandeza de Jesus, capaz de elogiar a fé que encontra num centurião romano: “Digo-vos que nem em Israel encontrei tanta fé”.

Livro: O caminho aberto por Jesus
Autor: José Antonio Pagola
Pg.128/129

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