Causas inusitadas da infecção urinária
Intestino travado, pedras nos rins e obesidade são alguns dos fatores que podem responder por episódios recorrentes da doença
As diferenças entre o corpo da mulher e o do homem vão além daquelas que nos saltam aos olhos. O canal da uretra, por onde sai o xixi, é uma das diversidades que ficam escondidinhas. Enquanto na ala feminina essa via de saída mede cerca de 5 centímetros , na turma do Bolinha chega à incrível marca de 22 centímetros . A conseqüência da discrepância não é nada vantajosa para as mulheres. Isso porque, nelas, bactérias que se metem a instrusas têm um caminho muito mais curto a percorrer até alcançar a exiga. Quando chegam ao órgão, costumam fazer estragos. Daí a vontade de urinar fica intensa, há dor e a urina ás vezes vem acompanhada de sangue. É a cistile, nome formal da infecção urinária, que acomete de 20 a 30% da população feminina em certa fase da vida.
Só que, para metade dessa turma, a encrenca evolui para uma infecção urinária de repetição – quando são deflagrados mais de três episódios por ano ou dois por semestre. “Esse quadro é preocupante ao abrir uma brecha para a pielonefrite – infecção mais grave porque, no caso, já afeta os rins”, alerta o urologista Milton Skaff, do Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo. Sem contar que a reincidência pode demandar o uso constante de antibióticos.
Por isso, é de suma importância descobrir os estopins da doença. E muitas vezes eles são um bocado surpreendentes, dificultando a associação de um primeiro momento, vai imaginar que a prisão de ventre é capaz de contribuir para uma infecção no trato urinário? Ou que, verdade, os quilos extras estão colaborando para a chateação? Difícil, certo? A seguir, esclarecemos por que esses e outros fatores têm uma relação, digamos, íntima com a cistile.
1. Obesidade
O vínculo é indireto, mas existe. Acompanhe o raciocínio: quem está muito acima do peso costuma exibir dobrinhas em várias partes do corpo. A característica muitas vezes dificulta a perfeita higiene da região genital após urinar e cria o cenário perfeito para as bactérias fazerem a festa. Mas atenção: a limpeza em excesso também não é boa. “Isso altera a flora vaginal, resultando em uma expulsão de bactérias protetoras dali” esclarece Wladimir Alfer Júnior, urologista do Hospital Israelita paulista. A recomendação é evitar duchas íntimas, sprays com aromas e outros itens capazes de desequilibrar a flora.
2. Segurar xixi
Não use banheiros públicos – está aí um conselho de mãe que se pode ignorar, tomando os devidos cuidado com superfícies sujas, é claro. É que xixi parado na bexiga por muito tempo cria o ambiente perfeito para a proliferação de bactérias do mal. “Urinar funciona como uma lavagem contínua”, informa o ginecologista José Geraldo Lopes Ramos, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Apesar de nada romântico, o ato também é indicado logo depois da atividade sexual, quando podem ocorrer microfissuras na região da uretra, facilitando a aderência de micro- organismos. Com uma escapadinha ao banheiro, você expulsa os pequenos invasores.
3. Constipação
Na famosa prisão de ventre, os problemas vão além do desconforto abdominal. Pela anatomia feminina, as bactérias do trato gastrointestinal, empacadas, têm facilidade em migrar para uretra, contaminando-a. “A culpada pela maioria dos episódios de cistile atende pelo nome de Encherichia coli. Essa é uma bactéria que vive no intestino, onde não cria problemas. Mas, quando passa para a área da vagina, complete com micro- organismos que vivem naturalmente ali”, descreve Milton Skoff, da Beneficência Portuguesa. Daí, se a intrusa domina o terreno, cresce o risco de infecção. “De fato, nas pacientes constipadas detectamos uma maior colonização de micro-organismos do intestino na região vaginal”, confirma o especialista.
4. Camisinha
Calma! Não vá achando que nesse tópico você vai encontrar um sinal verde para dispensar o preservativo durante o sexo. Jamais. O único contratempo é que os espermicidas – substâncias responsáveis por matar os espermatozóides – modificam a flora vaginal, deixando as mulheres mais suscetíveis à ação maléfica das bactérias. A saída, então, é procurar camisinhas sem o tal espermicida ou que tenha a substância na parte interna, para o gel ficar em contato apenas com o pênis.
5. Cálculo renal
“Em certos casos, as pedras que se formam nos rins são ocasionadas por uma bactéria que interfere na acidez da urina, facilitando o depósito de sais”, explica Fernando Almeida da Universidade de São Paulo (Unifesp). O problema? O risco de esse micróbio também financiar a temida cistile. “Há a possibilidade, inclusive, de o cálculo renal culminar direto infecciosa, que é a pielonefrite”, alerta Skaff. “Mas essa relação entre pedra no rim a infecção urinária é exceção não a regra”, afirma o médico da Unifesp. De qualquer forma, o recado é sempre investigar. Assim, evita-se o uso constante de antibióticos e o surgimento de um exército perigoso de bactérias resistentes.
Revista: Saúde
Por: Thaís Manarini
Pg. 38,39,40-41
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