Desmistificar as tradições e invenções do homem é matá-lo. O homem não pode ser estudado como objeto de si mesmo sem desaparecer. O homem, portanto, não pode ser medido por padrões alheios a ele e sua realidade subjetiva é irredutível a qualquer sistema de avaliação ou medida. Desse ponto de vista a transferência não é uma prisão ao passado, mas a forma como experiências passadas estruturaram a percepção do sujeito não é um filtro que distorce e, sim, uma maneira de construir, e sua resolução consiste no conhecimento de sua inevitabilidade e não na sua neutralização. Não é possível libertar o homem das fantasias para que ele sem distorções e ilusões mergulhe na realidade dos fatos simplesmente porque essa ultima não existe. O analista não é padrão de realidade e suas tradições são tão estruturadoras de verdade e realidade como qualquer outra e, portanto não têm precedência sobre nenhuma outra. Não existe superioridade hierárquica entre o saber do analista e o saber do paciente (Aulagnier, 1979, 1985). A subjetividade do analista é tão subjetiva quanto a do paciente. Assim co mo o paciente, o analista está sempre se reinventando e vivendo de tradições que são repositórios de invenções articuladas.
REVISTA PSIQUE - ano VI n.82 pag.47.
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