Ao Pé do Farol
“Li, certa vez que, ao pé do Farol, não há luz. Mas o que dizer, quando falamos não de uma proximidade geográfica, mas emocional, como na relação entre pai e filho, por exemplo?
Somente hoje, distante de meu pai, vejo o suficiente para enxergar, com relativa nitidez, a luz de seu Farol e para compreender a liberdade acolhedora de seu amor que, à época, eu percebia como sufocante e limitador.
Foi preciso jogar-me ao mar, navegar nas ondas e intempéries daquilo a que chamamos vida, para vislumbrar não somente em que me tornei, mas também para reconhecer a segurança do porto de onde parti.
Só assim pude entender não apenas o que hoje sou, mas de que raízes brotei…
Lembro-me de, quando jovem, ter dado a meu pai um livro do genial poeta Kahlil Gibran. No capítulo “Dos Filhos”, Gibran escreve:
“Vossos filhos não são vossos filhos. São filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma.”
Eu, como todo jovem, clamava por liberdade. E, como jovem, ignorante e esquecido dos perigos do desconhecido, enxergava apenas o mar que à minha frente se expandia.
Dar o livro a meu pai era como dizer a ele: deixa viver, me conceda a liberdade plena da experiência.”
Lembro que toda vez que discutíamos sobre liberdade, ele me falava dos perigos que a vida nos reserva.
Mas eu, que estava ao pé do Farol, enxergava apenas a beleza do horizonte e meus olhos não percebiam a dureza do percurso…Hoje sou pai.
Os filhos crescem, amadurecem e percebo que, como muitos pais, continuo a tratá-los como se tivessem sempre a mesma idade, a mesma mentalidade, as mesmas fraquezas…
Como hoje eu entendo que, para aprender a navegar, precisamos desafiar as tormentas e as borrascas do mar, é chegada a hora de aceitar um dos inevitáveis desígnios da vida: se nossos filhos estão ao pé do Farol, eles só poderão ver a luz se entrarem mar adentro…
E o melhor que podemos fazer, é desejar-lhes boa viagem.
E torcer para que carreguem consigo um pouco de suas raízes”.
Autor Desconhecido
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