terça-feira, 31 de março de 2015

Amor de Velhice 

Eles moravam numa pequena cidade do interior do estado do Rio. Ele era muito querido por todos apesar da sua juventude, pouco mais de trinta anos de idade.
Ela era professora e tinha quase vinte anos quando se apaixonou por ele.
Ele era simpático, bonitão, estudioso e tímido. Ela era bela, delicada e discreta. Na década de 1930, as mulheres deviam saber esperar. Se a mulher desse o primeiro passo na direção do homem, ela seria mal falada.
Passaram-se dez anos sem que se tornassem amigos. Só se viam de longe e só trocavam as palavras essenciais. Ele não se casou. E nem ela.
Um dia, repentinamente, ela precisou partir para São Paulo. Sua irmã mais velha havia falecido e deixado três filhos ainda pequenos para criar.
Seu cunhado era um homem atraente, de olhos profundos e poucas palavras. Desnorteado, não sabia o que fazer da vida. Cuidado vai, cuidado vem, ela se afeiçoou pelas crianças e por aquele homem endurecido, que sorria pouco e lindo. Aconteceu o inevitável. Ele perguntou se ela queria casar-se com ele... Ela contou a verdade: que sentia um amor sem futuro por outro homem, mas que, se ele a aceitasse mesmo assim, ela se casaria com ele.Ele aceitou. Casaram-se, tiveram outros filhos e viveram relativamente bem.
Depois de muitos anos e alguns netos, um dia ela recebeu um telefonema surpreendente. Era a irmã do então jovem médico que a estava avisando que ele tinha se mudado para São Paulo. Velho e doente, queria vê-la. Com as mãos trêmulas, anotou o endereço e com o coração agitado procurou seu marido e contou o que estava acontecendo.
Para sua surpresa, o marido imediatamente se levantou, vestiu o paletó e disse: Vamos!
Seguiram para o hospital. O marido a deixou na porta do quarto, avisando-a que a esperava no saguão.
Tiveram então, os dois, a primeira longa conversa de suas vidas. Ele confessou que a havia amado a vida inteira e que só a proximidade da morte lhe dera a coragem de se aproximar.
Não se sabe o que se passou nem o que sentiram quando se viram velhos e amados um pelo outro – certamente seguraram-se as mãos – a vida inteira. Os apaixonados de vida inteira voltaram a se ver e foram se vendo até que o médico morreu, algumas semanas mais tarde, sorrindo por se sentir amado. A beleza das flores que florescem no inverno está no seu perfume e na sua delicadeza. Mas é uma beleza triste que floresce e perfuma durante a noite e está morta pela manhã.

Autor: Rubem Alves
Livro: Pimentas
Evangelho Jo 13, 21-33.36-38

Depois de dizer isso, Jesus ficou interiormente perturbado e testemunhou: "Em verdade, em verdade, vos digo: um de vós me entregará". Então, Jesus molhou um bocado e deu a Judas, filho de Simão Iscariotes. Depois do bocado, Satanás entrou em Judas. Jesus, então, lhe disse: "O que tens a fazer, faze logo."
Depois que Judas saiu, Jesus disse: "Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele. Se Deus foi glorificado nele, Deus também o glorificará em si mesmo, e o glorificará logo. Filhinhos, por pouco tempo eu ainda estou convosco.

Reflexão 
O contexto é o da última ceia, no meio da qual Jesus lava os pés dos seus discípulos. a observação sobre o estado interior de Jesus faz referência às suas palavras que denunciam a incompreensão dos discípulos e a predição da traição por parte de um deles. 
Toda traição é fruto do mal que, enigmaticamente, habita o coração do ser humano, pelo medo, por um desvio de caráter, entre outros motivos. Não é diferente para Simão Pedro, pois negação é traição; sua reação primária não se confirmará durante a paixão.
Será preciso uma verdadeira "conversão" para que, de fato eles possam dar a sua vida por Jesus. 

quinta-feira, 26 de março de 2015

Evangelho (Jo 8,51-59)

Naquele tempo, disse Jesus aos judeus: 51“Em verdade, em verdade vos digo: se alguém guardar a minha palavra, jamais verá a morte”. 52Disseram então os judeus: “Agora sabemos que tens um demônio. Abraão morreu e os profetas também, e tu dizes: ‘Se alguém guardar a minha palavra jamais verá a morte’. 53Acaso és maior do que nosso pai Abraão, que morreu, como também os profetas? Quem pretendes ser?”
54Jesus respondeu: “Se me glorifico a mim mesmo, minha glória não vale nada. Quem me glorifica é o meu Pai, aquele que vós dizeis ser o vosso Deus. 55No entanto, não o conheceis. Mas eu o conheço e, se dissesse que não o conheço, seria um mentiroso, como vós! Mas eu o conheço e guardo a sua palavra. 56Vosso pai Abraão exultou, por ver o meu dia; ele o viu, e alegrou-se”. 57Os judeus disseram-lhe então: “Nem sequer cinquenta anos tens, e viste Abraão!” 58Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade vos digo, antes que Abraão existisse, eu sou”. 59Então eles pegaram em pedras para apedrejar Jesus, mas ele escondeu-se e saiu do Templo.

— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.

Reflexão - Jo 8, 51-59
O nosso Deus é o Deus da vida e da vida em abundância. Ele é causa de alegria para todos os que verdadeiramente crêem nele e em Jesus ele manifesta todo o amor que tem por nós. Assim sendo, Jesus, que é o Filho do Deus vivo, veio nos ensinar o caminho da verdadeira vida, por isso nos diz que quem guarda a sua palavra jamais verá a morte. E como todos nós desejamos a vida e nos alegramos com ela, Jesus também é a causa de nossa alegria, assim como foi a causa para Abraão exultar de alegria ao ver o seu dia, ao reconhecer o seu Deus como o Deus da vida. Aos que não acreditam nas verdades do Reino de Deus e rejeitam os valores evangélicos, só resta a revolta, a tristeza e a morte.

quarta-feira, 25 de março de 2015

Evangelho (Lc 1,26-38)

Naquele tempo, 26o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, 27a uma virgem, prometida em casamento a um homem chamado José. Ele era descendente de Davi e o nome da Virgem era Maria. 28O anjo entrou onde ela estava e disse: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!”
29Maria ficou perturbada com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação. 30O anjo, então, disse-lhe: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. 31Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. 32Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi. 33Ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó, e o seu reino não terá fim”.
34Maria perguntou ao anjo: “Como acontecerá isso, se eu não conheço homem algum?” 35O anjo respondeu: “O Espírito virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. Por isso, o menino que vai nascer será chamado Santo, Filho de Deus. 36Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice. Este já é o sexto mês daquela que era considerada estéril, 37porque para Deus nada é impossível”. 38Maria, então, disse: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!” E o anjo retirou-se.

— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.

Reflexão

A resposta de Maria ao anúncio do anjo nos mostra um grande ato de fé e obediência à vontade de Deus. Sua resposta a Deus é um ato de inteira entrega a seus desígnios de amor. Assim, Maria participa do início da Salvação com o nascimento de Jesus. Maria nos é apresentada como aquela que escuta a Palavra que nela se encarna.

terça-feira, 24 de março de 2015




O  Eu o Tu

Faz silêncio e ouvirás.
Fecha os olhos e verás.
O silêncio não é solidão
vazia, triste de ansiedade.
No silêncio das noites
brilham tantas estrelas
mostrando outros mundos
de sonhos e imaginações.
O silêncio das matas
é a conversa do vento
com as notícias do mundo
inefável, mas consciente.
O silêncio dos lagos fala
da necessidade de descanso
das águas das cachoeiras
e dos rios tão apressados
em chegar ao mar inquieto.
O teu silêncio é o caminho
para te encontrares contigo,
e preservar a unidade do ser.
Só o silêncio pode conter
o infinito por completo: Deus.
No silêncio encontrarás
a presença do Tu contigo,
a satisfação de um desejo
de uma busca recíproca
quase sempre retardada.

         Paulo Motta 
Evangelho (Jo 8,21-30)

Naquele tempo disse Jesus aos fariseus: 21“Eu parto, e vós me procurareis, mas morrereis no vosso pecado. Para onde eu vou, vós não podeis ir”.
22Os judeus comentavam: “Por acaso, vai-se matar? Pois ele diz: ‘Para onde eu vou, vós não podeis ir’?”
23Jesus continuou: “Vós sois daqui debaixo, eu sou do alto. Vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo. 24Disse-vos que morrereis nos vossos pecados, porque, se não acreditais que eu sou, morrereis nos vossos pecados”.
25Perguntaram-lhe pois: “Quem és tu, então?” Jesus respondeu: “O que vos digo, desde o começo. 26Tenho muitas coisas a dizer a vosso respeito, e a julgar, também. Mas aquele que me enviou é fidedigno, e o que ouvi da parte dele é o que falo para o mundo”.27Eles não compreenderam que lhes estava falando do Pai. 28Por isso, Jesus continuou: “Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que eu sou, e que nada faço por mim mesmo, mas apenas falo aquilo que o Pai me ensinou. 29Aquele que me enviou está comigo. Ele não me deixou sozinho, porque sempre faço o que é de seu agrado”. 30Enquanto Jesus assim falava, muitos acreditaram nele.

— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.

Reflexão
O prólogo do quarto evangelho já antecipou o tema da rejeição do Verbo feito Carne.  A afirmação de  jesus sobre o pecado de seus  opositores declara, de certa forma, inútil todo o sistema religioso judaico. Se a aceitação da salvação em Jesus Cristo, não pode haver profunda e verdadeiramente a purificação e o perdão como se pretendia com a festa da religião de Israel. O apego às coisas terrenas e às tradições humanas impede de compreender o mistério de Deus revelado em Jesus Cristo.

sexta-feira, 20 de março de 2015

Evangelho (Jo 7,1-2.10.25-30)

Naquele tempo, 1Jesus andava percorrendo a Galileia. Evitava andar pela Judeia, porque os judeus procuravam matá-lo. 2Entretanto, aproximava-se a festa judaica das Tendas. 10Quando seus irmãos já tinham subido, então também ele subiu para a festa, não publicamente mas sim como que às escondidas.
25Alguns habitantes de Jerusalém disseram então: “Não é este a quem procuram matar? 26Eis que fala em público e nada lhe dizem. Será que, na verdade, as autoridades reconheceram que ele é o Messias? 27Mas este, nós sabemos donde é. O Cristo, quando vier, ninguém saberá donde é”.
28Em alta voz, Jesus ensinava no Templo, dizendo: “Vós me conheceis e sabeis de onde sou; eu não vim por mim mesmo, mas o que me enviou é fidedigno. A esse, não o conheceis, 29mas eu o conheço, porque venho da parte dele, e ele foi quem me enviou”. 30Então, queriam prendê-lo, mas ninguém pôs a mão nele, porque ainda não tinha chegado a sua hora.

Reflexão - Jo 7, 1-2.10.25-30
A descrença pode ter conseqüências terríveis como nos revela o Evangelho de hoje. As pessoas que acreditaram em Jesus procuraram seguir seus ensinamentos e viver uma nova forma de relacionamento com Deus, de modo que a sua fé gerava a vida em abundância. Os que não aceitavam as palavras de Jesus não só se privavam desta vida como também procuravam tirar a vida de Jesus. Mas o nosso Deus é o Deus da vida. A descrença luta contra a vida e pode até mesmo tirar a vida das pessoas, mas tira apenas a vida biológica, e o sangue que é derramado fertiliza a terra para que nela brote as sementes de vida eterna. O sangue de Jesus foi derramado, assim como o de muitos mártires, e isso faz com que as sementes do Reino cresçam e dêem fruto.

quinta-feira, 19 de março de 2015


São José, Rogai por nós!

São José deve servir de modelo para todos nós. O Evangelho de hoje nos mostra muitos pontos da sua pessoa que devem inspirar-nos na vivência da fé e do compromisso com Deus e com a obra da Igreja. José pertence à descendência de Davi, faz parte dos planos de Deus para a salvação do mundo, como nós também fazemos parte dos planos de Deus para a nossa salvação e das demais pessoas. José é definido como justo, que na tradição bíblica corresponde à santidade, e nós devemos aspirar à santidade. Na dúvida, José não fica preso nos seus planos, mas descobre e realiza a vontade de Deus. Da mesma forma, nós devemos muitas vezes fazer um ato de humildade e procurar realizar a vontade de Deus, e não a nossa.

quarta-feira, 18 de março de 2015

O amor tem seu tempo


A urgência dos nossos dias nos faz pensar exatamente na urgência do amor. Quando o sentimento se faz presente entre duas pessoas é muito comum a necessidade imediata de dizer: “Eu te amo”. Algumas pessoas dizem: “Que loucura! Isso não é amor”; outras afirmam: “Pra que esperar, eu amo e digo!”.
Avaliar nossos sentimentos e todas as implicações que ele envolve também nos faz pensar que os caminhos para o amor nunca são ou estão prontos, mas certamente, passam por nossa maturidade.
A maturidade biológica nem sempre está relacionada à maturidade psicológica. As expectativas dos pais nem sempre serão concretizadas nos desejos dos filhos. Da mesma forma, o que foi vivido no passado nem sempre será válido para as experiências atuais.
Os gregos diziam que amor é “uma questão de despertar para a vida” e, com isso, nem todos despertam ao mesmo tempo, nem esperam as mesmas coisas ou se satisfazem com as mesmas coisas.
Quando se acelera o processo do amor, muitas vezes, se “mata” esse sentimento. É por isso que as pessoas não podem se casar porque os pais delas se admiram, porque as famílias se dão bem ou porque o (a) namorado (a) tem ou não tem um status, ou um tipo de estudo.
Amor requer tempo, conhecimento, – reconhecimento do que gosto ou não –, das minhas limitações e da limitação do outro.
Amor é como uma construção: escolhe-se o terreno, as fundações e a base para que a obra seja realizada, os tijolos vão sendo colocados um a um, até que a casa seja coberta e todo o acabamento interior seja feito. Depois virão os jardins, os detalhes, os cuidados.
E é por isso que o amor não pode ser urgente: uma casa feita às pressas, com material de qualidade inferior, tende a cair antes do tempo. Imaginem se os tijolos desta casa, que é o amor, forem assentados com areia e água?
Sonhos são muito bonitos nas novelas, mas, na vida real, os caminhos não são prontos. Os caminhos de um casal se fazem pela descoberta das alegrias e das tristezas que os dois podem viver. Estes se fazem ainda pela capacidade de reconhecer no outro aquele que me faz feliz, mas não apenas a única pessoa do mundo que me faz feliz, mas que me completa em parte da vida, que é muito mais do que apenas uma pessoa ou um único motivo.
“Quem quer o amor precisa dar tudo o que tem para possuí-lo (Mt 13,44)” e é por isso que o amor exige dedicação e decisão.
Se você ainda não está pronto para isso, pense se não é tempo de se autoconhecer para conviver com o amor, mas também não espere que esteja 100% pronto para vivê-lo, pois a perfeição não existe, ainda mais quando falamos de seres humanos.
E lembre-se: para tudo existe um tempo: amor, afetividade, sexualidade, cada um deve e precisa acordar em seu tempo, até mesmo para que as experiências fora do tempo e erradas não se tornem marcas negativas no futuro.


Link: https://temasempsicologia.wordpress.com/
Evangelho (Jo 5,17-30)

Naquele tempo, 17Jesus respondeu aos judeus: “Meu Pai trabalha sempre, portanto também eu trabalho”. 18Então, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque, além de violar o sábado, chamava Deus o seu Pai, fazendo-se, assim, igual a Deus.
19Tomando a palavra, Jesus disse aos judeus: “Em verdade, em verdade vos digo, o Filho não pode fazer nada por si mesmo; ele faz apenas o que vê o Pai fazer. O que o Pai faz, o Filho o faz também. 20O Pai ama o Filho e lhe mostra tudo o que ele mesmo faz. E lhe mostrará obras maiores ainda, de modo que ficareis admirados.
21Assim como o Pai ressuscita os mortos e lhes dá a vida, o Filho também dá a vida a quem ele quer. 22De fato, o Pai não julga ninguém, mas ele deu ao Filho o poder de julgar, 23para que todos honrem o Filho, assim como honram o Pai. Quem não honra o Filho, também não honra o Pai que o enviou.
24Em verdade, em verdade, eu vos digo, quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, possui a vida eterna. Não será condenado, pois já passou da morte para a vida. 25Em verdade, em verdade, eu vos digo: está chegando a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus e os que a ouvirem viverão.
26Porque, assim como o Pai possui a vida em si mesmo, do mesmo modo concedeu ao Filho possuir a vida em si mesmo. 27Além disso, deu-lhe o poder de julgar, pois ele é o Filho do Homem. 28Não fiqueis admirados com isso, porque vai chegar a hora em que todos os que estão nos túmulos ouvirão a voz do Filho e sairão: 29aqueles que fizeram o bem, ressuscitarão para a vida; e aqueles que praticaram o mal, para a condenação.
30Eu não posso fazer nada por mim mesmo. Eu julgo conforme o que escuto, e meu julgamento é justo, porque não procuro fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.


— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.


Reflexão 
Jesus começa aos poucos a manifestar a sua origem e a sua natureza divina. Ele de fato é o Filho de Deus, que veio ao mundo para fazer a vontade do Pai e realizar a sua obra, que é a salvação de todas as pessoas, salvação que significa ressurreição e vida eterna, libertação do jugo do pecado e da morte. Mas esta obra é somente para quem crê que Jesus é o Filho de Deus, é para quem crê que ele veio ao mundo para fazer a vontade do Pai e vê na sua ação a ação divina em favor dos homens, de modo que a fé é essencial para a nossa salvação, para a nossa ressurreição e para que vivamos eternamente.

sexta-feira, 13 de março de 2015


Almas Perfumadas                                                                                       Carlos Drummond de Andrade


Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta.
De sol quando acorda.
De flor quando ri.
Ao lado delas, a gente se sente
no balanço de uma rede que dança gostoso
numa tarde grande, sem relógio e sem agenda.
Ao lado delas, a gente se sente
comendo pipoca na praça.
Lambuzando o queixo de sorvete.
Melando os dedos com algodão doce
da cor mais doce que tem pra escolher.
O tempo é outro.
E a vida fica com a cara que ela tem de verdade,
mas que a gente desaprende de ver.
Tem gente que tem cheiro de colo de Deus.
De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul.
Ao lado delas, a gente sabe
que os anjos existem e que alguns são invisíveis.
Ao lado delas, a gente se sente
chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo.
Sonhando a maior tolice do mundo
com o gozo de quem não liga pra isso.
Ao lado delas, pode ser abril,
mas parece manhã de Natal
do tempo em que a gente acordava e encontrava
o presente do Papai Noel.

Tem gente que tem cheiro das estrelas
que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos
acender na Terra.
Ao lado delas, a gente não acha
que o amor é possível, a gente tem certeza.
Ao lado delas, a gente se sente visitando
um lugar feito de alegria.
Recebendo um buquê de carinhos.
Abraçando um filhote de urso panda.
Tocando com os olhos os olhos da paz.
Ao lado delas, saboreamos a delícia
do toque suave que sua presença sopra no nosso coração.
Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa.
Do brinquedo que a gente não largava.
Do acalanto que o silêncio canta.
De passeio no jardim.
Ao lado delas, a gente percebe
que a sensualidade é um perfume
que vem de dentro e que a atração
que realmente nos move não passa só pelo corpo.
Corre em outras veias.
Pulsa em outro lugar.
Ao lado delas, a gente lembra
que no instante em que rimos Deus está conosco,
juntinho ao nosso lado.
E a gente ri grande que nem menino arteiro.

Tem gente como você que nem percebe
como tem a alma Perfumada!
E que esse perfume é dom de Deus.
Evangelho (Mc 12,28b-34)

Naquele tempo, 28bum escriba aproximou-se de Jesus e perguntou: “Qual é o primeiro de todos os mandamentos?” 29Jesus respondeu: “O primeiro é este: Ouve, ó Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor. 30Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força! 31O segundo mandamento é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo! Não existe outro mandamento maior do que estes”.
32O mestre da Lei disse a Jesus: “Muito bem, Mestre! Na verdade, é como disseste: Ele é o único Deus e não existe outro além dele. 33Amá-lo de todo coração, de toda a mente, e com toda a força, e amar o próximo como a si mesmo é melhor do que todos os holocaustos e sacrifícios”.
34Jesus viu que ele tinha respondido com inteligência, e disse: “Tu não estás longe do Reino de Deus”. E ninguém mais tinha coragem de fazer perguntas a Jesus.

— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.

Reflexão - Mc 12, 28-34
Muitas pessoas acham que para serem salvas, é suficiente cumprir todas as suas obrigações de ordem religiosa como a participação nas celebrações e atos devocionais. O escriba do Evangelho de hoje afirma que amar a Deus e ao próximo é melhor do que as práticas religiosas, no caso os holocaustos e os sacrifícios, e Jesus confirma isso ao afirmar que ele não está longe do reino de Deus. A nossa vida religiosa só tem sentido enquanto é um reflexo do amor vivido concretamente, ou seja, enquanto é manifestação da nossa solidariedade. Caso contrário, a religião se reduz a práticas mágicas, bruxarias, rituais vazios, que nada acrescentam a ninguém e não nos aproxima de Deus.

quinta-feira, 12 de março de 2015

Ao Pé do Farol

“Li, certa vez que, ao pé do Farol, não há luz. Mas o que dizer, quando falamos não de uma proximidade geográfica, mas emocional, como na relação entre pai e filho, por exemplo?
Somente hoje, distante de meu pai, vejo o suficiente para enxergar, com relativa nitidez, a luz de seu Farol e para compreender a liberdade acolhedora de seu amor que, à época, eu percebia como sufocante e limitador.
Foi preciso jogar-me ao mar, navegar nas ondas e intempéries daquilo a que chamamos vida, para vislumbrar não somente em que me tornei, mas também para reconhecer a segurança do porto de onde parti.
Só assim pude entender não apenas o que hoje sou, mas de que raízes brotei…
Lembro-me de, quando jovem, ter dado a meu pai um livro do genial poeta Kahlil Gibran. No capítulo “Dos Filhos”, Gibran escreve:
“Vossos filhos não são vossos filhos. São filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma.”
Eu, como todo jovem, clamava por liberdade. E, como jovem, ignorante e esquecido dos perigos do desconhecido, enxergava apenas o mar que à minha frente se expandia.
Dar o livro a meu pai era como dizer a ele: deixa viver, me conceda a liberdade plena da experiência.”
Lembro que toda vez que discutíamos sobre liberdade, ele me falava dos perigos que a vida nos reserva.
Mas eu, que estava ao pé do Farol, enxergava apenas a beleza do horizonte e meus olhos não percebiam a dureza do percurso…Hoje sou pai.
Os filhos crescem, amadurecem e percebo que, como muitos pais, continuo a tratá-los como se tivessem sempre a mesma idade, a mesma mentalidade, as mesmas fraquezas…
Como hoje eu entendo que, para aprender a navegar, precisamos desafiar as tormentas e as borrascas do mar, é chegada a hora de aceitar um dos inevitáveis desígnios da vida: se nossos filhos estão ao pé do Farol, eles só poderão ver a luz se entrarem mar adentro…
E o melhor que podemos fazer, é desejar-lhes boa viagem.
E torcer para que carreguem consigo um pouco de suas raízes”.
Autor Desconhecido
Evangelho (Lc 11,14-23)


Jesus estava expulsando um demônio que era mudo. Quando o demônio saiu, o mundo começou a falar , e as multidões ficaram admiradas. Alguns, porém, disseram: "É pelo poder de Beelzebu, o chefe dos demônios, que ele expula os demônios". Outros, para tentar Jesus, pediam-lhe um sinal do céu. mas, conhecendo seus pensamentos, ele disse-lhes: "Todo reino dividido internamente será destruído; cairá uma casa sobre a outra. Ora, se até Satanás está dividido inteiramente, como poderá manter-se o seu reino? Pois dizeis que é pelo poder de Beelzebu que eu expulso os demônios. Quem não está comigo é contra mim; e quem não recolhe comigo, espalha".

Reflexão
  • O mal que enigmaticamente age no ser humano distorce a palavra e torna difícil a comunicação.
  • O mal confunde, impede de falar bem e de bem falar. A palavra é dada ao homem para a sua comunicação com seu Criador e com os deus semelhantes. 
  • O mal interrompe essa comunicação. Jesus restabelece pela sua presença tal intercâmbio. Lucas diz que é o Espírito Santo quem faz falar as maravilhas de Deus.

quarta-feira, 11 de março de 2015

MULHER, MATÉRIA DE POESIA

Manoel de Barros, poeta mato-grossense que morreu em 13 de novembro de 2014, sabia bem que todas as coisas servem para a poesia. “Tudo aquilo que nos leva a coisa nenhuma e que você não pode vender no mercado como, por exemplo, o coração verde dos pássaros, serve para poesia”, escreveu Manoel, em Matéria de Poesia.
Ela também sabe bem disso. Sabe que, qualquer coisa, até a mais insignificante, pode servir para alegrar seu dia. Para falar a verdade, não teve uma vida fácil. Quando criança, ajudou a mãe a cuidar de tudo, dos irmãos, da casa, da vela acesa quando acabava a energia. Nunca fez balé, e a primeira vez que foi ao cabeleireiro, tinha pra lá de 20 anos. Mas, naquele dia, acordou diferente. Estava encantada com as primeiras palavras do João e tinha a certeza que havia feito uma escolha sublime quando decidiu ser mãe.
Colocou o vestido estampado com flores azuis e passou um batom vermelho. Sim, ela gosta dos contrastes e define-se a si mesma contraste. Ternura e força, praticidade e intuição, doçura e rigidez e, acima de tudo, amor sem limites e desconstrução. Nasceu ali, naquele pedaço de mundo onde ninguém é de ninguém e viu muitas de suas amigas morrerem em busca do corpo perfeito ou do homem dos sonhos no cavalo branco. Mas ela... bom, ela definitivamente não tem inclinação para princesa. 
Ao contrário, vê-se como Maria Quitéria de Jesus, aquela baiana considerada heroína da Independência, que lutou no Batalhão dos Periquitos e foi descrita pela escritora inglesa Maria Graham, tutora de princesas, como uma mulher de inteligência clara e percepção aguda, de modos gentis e amáveis. Riu-se. Afinal, nenhuma escritora a descreveu e continua a viver seus dias entre a sensualidade do salto alto e a intensidade dos pés descalços.
Saiu sem pressa. Enfeitou-se como se fosse a última vez que a viriam passear por aquelas bandas. Demorou mais de duas horas no trânsito. Ainda é carnaval e, por sorte, encontrou um daqueles banheiros químicos no meio do caminho. Sempre fica incomodada em utilizá-los, mas àquela altura não podia se dar ao luxo de procurar outro. 
Caminhou por horas, acariciando seus pés no chão quente de um cimento cinza, com a sapatilha nova de renda. Usar uma roupa ou um sapato pela primeira vez sempre foi motivo de prazer. Não escolhe datas ou lugares especiais para isso e também não é daquelas moças que precisam de uma peça nova a cada semana. Não. Mas, acredita que o jeito de ser mulher acontece no encontro entre a renda, os pés e o asfalto ingrato da cidade. Como uma resposta de singeleza a toda forma de violência e preconceito que uma mulher pode enfrentar.
Contou cada olhar que deu e recebeu. Sabe, ela também costuma se incomodar com pequenas esquisitices femininas, como a celulite no espelho, a incontrolável TPM ou os pelos indesejáveis que crescem sem pedir licença. Sentiu o corpo leve e tão bem posto naquelas ruas que, por um instante, pensou em permanecer ali. Demorou a decidir. Sentia-se pressionada a ser sempre forte e, ao mesmo tempo, tinha medo das consequências de suas escolhas. O vestido agora estava amassado, e ela nem se lembrou de retocar o batom. Quando se deu conta, a noite tinha chegado. 
Quantas vezes, ainda pequena, tinha parado para observar as estrelas. E via-se ali, vestida de luz como uma delas. Tão distante de tudo o que a circundava, ao mesmo tempo tão próxima, invejada por sua beleza. É verdade que durante uma fase da adolescência se sentiu feia. Gorda, com os cabelos rebeldes e a face nada parecida com aquilo que via repetidamente nos programas de auditório da televisão. Ainda bem que foi só uma fase. Com o tempo percebeu que beleza não tem nada a ver com modelos preestabelecidos, e sabe-se hoje tão bela quanto uma daquelas estrelas que ela vê ao longe, talvez ignoradas pelos passantes da avenida.
É tarde. Apressou o passo e pensou no filho. Precisava voltar o mais rápido possível. Por um instante achou-se irresponsável e teve vontade de chorar. Como podia ter deixado aquele ser tão frágil e tão importante na sua existência um dia inteiro sem o seu abraço? Sentiu-se a pior mãe do mundo. Correu. Pegou o ônibus e sentou-se inconformada. Adormeceu. Teve medo. Nunca se sabe o que a noite pode reservar para uma mulher sozinha.
Chegando em casa, João dormia ao lado do pai. – Senti sua falta. Onde você estava?, perguntou o marido, com os olhos fechando e os braços abertos.
— Fui encontrar-me com minha feminilidade pelas ruas da cidade.
Ele sorriu. — E encontrou?, disse, com a voz quase sumindo, como a madrugada com o nascer do sol.
— Sim. Na verdade, nunca perdi. Ela estava aqui, o tempo todo.
— Aqui, em casa?, perguntou mais uma vez.
— Não. Está em mim, cada vez que eu acordo e percebo o quão suave é a minha pele e o quanto de sol ela pode suportar em um dia desses de verão.
— Venha dormir, meu amor, estou te esperando.
João resmungou qualquer desejo infantil. Ela o pegou no colo e começou a amamentá-lo, com aquele pulsar de vida que a levava a não pensar em mais nada, a não ser no amor entre eles. No dia seguinte iria recomeçar a trabalhar e lhe veio um sentimento de plenitude e angústia ao mesmo tempo. Fez uma prece. Sorriu, inebriada de ternura. Sentiu-se ela mesma matéria de poesia.

Autora: Nayá Fernandes
Evangelho (Mt 5,17-19)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 17“Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas”. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento. 18Em verdade, eu vos digo: antes que o céu e a terra deixem de existir, nem uma só letra ou vírgula serão tiradas da lei, sem que tudo se cumpra.
19Portanto, quem desobedecer a um só desses mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será considerado o menor no Reino dos Céus. Porém, quem os praticar e ensinar será considerado grande no Reino dos Céus.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.

Reflexão - Mt 5, 17-29
Todos nós estamos de acordo que devemos obedecer a Deus, mas não estamos muito de acordo se perguntarmos por que devemos obedecer a Deus. Isto porque existem duas formas de obediência. A primeira é a obediência de quem reconhece o poder de quem manda e se submete a este poder por causa das vantagens da obediência ou das conseqüências da desobediência. É aquele que diz que manda quem pode e obedece quem tem juízo. A segunda é de quem reconhece os valores que motivam a autoridade e assume esses valores como próprios, vendo na obediência a grande forma de concretização desses valores. Jesus não veio mudar a lei, mas mostrar as suas motivações, os seus valores, a fim de que a sua observância não seja um jugo, mas uma forma de realização pessoal.

segunda-feira, 9 de março de 2015

RECEITA DE RECONCILIAÇÃO

Minha mãe fazia um bolinho de polvilho excelente. As amigas pediam a receita e ela dava. Algumas conseguiam o mesmo produto e o mesmo gosto. Outras, não. Quando perguntavam porque, minha mãe dizia: Não basta fazer. Tem que ter leveza! …
Não existem receitas para a reconciliação de um casal em grave crise. Mas existem conselhos que em muitos casos acabam dando certo, isto porque encontram leveza num deles ou nos dois. Casais em vias de separação costumam pegar pesado, quase sempre um dos dois querendo que tudo volte a ser como era e o outro insistindo em partir para outra experiência, ou ao menos em terminar a convivência. Quando as posições se radicalizam não há como reconciliar. Não estão prontos. A expressão que trava tudo é: Sim, eu errei, mas a maior vítima sou eu!
Se conselhos ainda valem, anotem estes. – Orem pedindo luzes. Não falem demais. Não levantem a voz. Palavrão, jamais. Não se xinguem. Não ameacem. Não se aterrorizem. Não batam toda a hora na porta do outro. Segurem as lágrimas, sobretudo se parecerem armação e chantagem. Não se façam de vítimas, mesmo que sejam. Não usem os filhos um contra o outro. Um não ataque os parentes do outro. Há bons e maus amigos: escolham a quem ouvir. Não aplaudam quem atacar o outro lado, para ficar bem com o seu. Não façam as coisas que queriam fazer, dizendo que só fez porque seu psicólogo ou seu conselheiro mandou. Não deturpem o que ouviram deles. Não puxem a brasa para a sua sardinha. Não remoam o passado na frente dos outros. Não o remoam, lembrando apenas os erros, caso se encontrem. Quem der perdão tem que pedi-lo, também. Ouçam-se muito e falem o menos possível. Um não interrompa o outro, nem a sós, nem diante dos conselheiros. Desarmem o coração por mais mágoa que levem. Meçam as palavras. Considerem as coisas boas que viveram juntos. Se no momento não dá mais para conviverem, ouçam bem seu diretor espiritual, seu advogado e quem entende de comportamento humano. O melhor lugar para conselhos não é o cabeleireiro, nem o bar da esquina! Não prometam o que não cumprirão. Não lavem roupa suja. Tentem achar a dignidade e o respeito. A cidade inteira não precisa saber do seu conflito.
Perdoar é muito difícil e pedir perdão também. Mas, quando uma ferida avançou demais, é preciso ir fundo na cura. O perdão e o arrependimento vão fundo. Reconciliar é tornar a conciliar as pessoas e o que as rodeia. É concordar no essencial, por as cabeças juntas, sentar-se juntos. Quem parou de fazer isso deve se imaginar, se não agora, quem sabe mais adiante, passada a poeira da briga, conversando e maneira civilizada. Cuidado com a palavra “não, nunca, jamais”. São balas perdidas. Acabam ricocheteando e acertando os filhos…

Autor: Pe. Zezinho