ANTROPOLOGIA
DA TERNURA:
1-INTRODUÇÃO
Homens
e mulheres são chamados à escola da ternura, a fim de enriquecerem-se mutuamente
dos dons que cada um traz, bem como construírem juntos um diálogo positivo e
respeitoso a respeito da diferença, uma autêntica civilização da ternura. E o
que significa freqüentar a escola senão abrir-se aos inefáveis horizontes da
Ternura Absoluta?
A
terminologia já é indicativa. O substantivo português “ternura” (do latim teneritia)
evoca a idéia de algo mórbido, desprovido de dureza ou rigidez, e remete a um
afeto interior vivido com participação viva, afetuosa e dinâmica. Não menos
interessante é o adjetivo “terno” (tenerum, de
tender, estender-se para, projetar-se), o qual supõe e implica uma atitude que
orienta a sair do eu para encontrar-se com o tu, tendendo para ele, em uma
relação real de dedicação e de reciprocidade. Sob ambos os aspectos, a ternura
se opõe a suas atitudes existenciais bastante difusas e quase sempre conectadas
entre si: a dureza de
coração, entendida como obstáculo, muro, rigidez, fechamento mental,
e o retraimento sobre si
mesmo como egocentrismo, incapacidade de dirigir-se ao outro,
rejeição de diálogo e de troca. A ternura, ao invés, é flexibilidade,
permeabilidade, abertura de coração, disponibilidade à mudança, e se
constitui como rosto concreto de uma
dileção afetiva que se faz benevolência e afabilidade. Trata-se,
claramente, só de um percurso. É necessário proceder em tal
direção.
2.Acontecimento e
Conquista
É
necessário estimar cada encontro ou
circunstância com os olhos do coração, antes do que com aqueles da
mente: a capacidade “visual” da ternura, antes do que a da “razão
prática”, brota do coração, daquele coração que “contém em si razões que a razão
não conhece”. É quanto intui a raposa no O pequeno
príncipe quando explica ao amigo:
“
‘Eis
o meu segredo. É muito simples: não se vê bem senão com o coração. O essencial é
invisível aos olhos, se vê só com os olhos do
coração’.
‘O essencial é invisível aos olhos’, repete o pequeno príncipe para
lembrar-se”.
Acolher a ternura como um “acontecimento”,
procurar a ternura como uma “conquista”, estimá-la como “potencialidade afetiva”
conduz, em última instância, a ativar esses “olhos do coração” que sabem ir além
das aparências e permitem colher o “essencial” que permanece “invisível” à
percepção da mente, sendo alcançável somente pelo amor. A afirmação de
Saint-Exupéry corresponde singularmente a uma das intuições mais belas dos
teólogos medievais: onde reina o amor, aí
existem olhos que sabem ver. Somente quem ama conhece. A capacidade
de amar é, com efeito, capaz de ir além do limiar imediato dos eventos, como uma
lente de aumento ou um microscópio, fazendo intuir horizontes, de outra forma
imperceptíveis. E tal é a força da ternura: uma sabedoria do
coração que nenhuma escola pode ensinar, senão aquela que sabe
iniciar ao amor. O problema é principalmente de ordem pedagógica: como nos tornar capazes
de ativar em nós esta sensibilidade, esta “sabedoria do coração”?
Referência:
Autor:
Carlo Rocchetta –
Livro:
Teologia da ternura um “evangelho” a descobrir / Pg.
29-30-31
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