sexta-feira, 18 de maio de 2012

TERNURA


ANTROPOLOGIA DA TERNURA:

1-INTRODUÇÃO

Homens e mulheres são chamados à escola da ternura, a fim de enriquecerem-se mutuamente dos dons que cada um traz, bem como construírem juntos um diálogo positivo e respeitoso a respeito da diferença, uma autêntica civilização da ternura. E o que significa freqüentar a escola senão abrir-se aos inefáveis horizontes da Ternura Absoluta?

A terminologia já é indicativa. O substantivo português “ternura” (do latim teneritia) evoca a idéia de algo mórbido, desprovido de dureza ou rigidez, e remete a um afeto interior vivido com participação viva, afetuosa e dinâmica. Não menos interessante é o adjetivo “terno” (tenerum, de tender, estender-se para, projetar-se), o qual supõe e implica uma atitude que orienta a sair do eu para encontrar-se com o tu, tendendo para ele, em uma relação real de dedicação e de reciprocidade. Sob ambos os aspectos, a ternura se opõe a suas atitudes existenciais bastante difusas e quase sempre conectadas entre si: a dureza de coração, entendida como obstáculo, muro, rigidez, fechamento mental, e o retraimento sobre si mesmo como egocentrismo, incapacidade de dirigir-se ao outro, rejeição de diálogo e de troca. A ternura, ao invés, é flexibilidade, permeabilidade, abertura de coração, disponibilidade à mudança, e se constitui como rosto concreto de uma dileção afetiva que se faz benevolência e afabilidade. Trata-se, claramente, só de um percurso. É necessário proceder em tal direção.

   2.Acontecimento e Conquista

É necessário estimar cada encontro ou circunstância com os olhos do coração, antes do que com aqueles da mente: a capacidade “visual” da ternura, antes do que a da “razão prática”, brota do coração, daquele coração que “contém em si razões que a razão não conhece”. É quanto intui a raposa no O pequeno príncipe quando explica ao amigo:

‘Eis o meu segredo. É muito simples: não se vê bem senão com o coração. O essencial é invisível aos olhos, se vê só com os olhos do coração’.
O essencial é invisível aos olhos’, repete o pequeno príncipe para lembrar-se”.

 Acolher a ternura como um “acontecimento”, procurar a ternura como uma “conquista”, estimá-la como “potencialidade afetiva” conduz, em última instância, a ativar esses “olhos do coração” que sabem ir além das aparências e permitem colher o “essencial” que permanece “invisível” à percepção da mente, sendo alcançável somente pelo amor. A afirmação de Saint-Exupéry corresponde singularmente a uma das intuições mais belas dos teólogos medievais: onde reina o amor, aí existem olhos que sabem ver. Somente quem ama conhece. A capacidade de amar é, com efeito, capaz de ir além do limiar imediato dos eventos, como uma lente de aumento ou um microscópio, fazendo intuir horizontes, de outra forma imperceptíveis. E tal é a força da ternura: uma sabedoria do coração que nenhuma escola pode ensinar, senão aquela que sabe iniciar ao amor. O problema é principalmente de ordem pedagógica: como nos tornar capazes de ativar em nós esta sensibilidade, esta “sabedoria do coração”?


Referência:
Autor: Carlo Rocchetta
Livro: Teologia da ternura um “evangelho” a descobrir / Pg. 29-30-31

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