segunda-feira, 29 de setembro de 2014



Um Deus por quem se possa enamorar


Para o amor estamos feitos
como cavalos para o vento,
como a lua para o lago,
como o trigo para as mãos.

Para o amor e para a dança,
O abraço, os laços, para o vôo
E para o ninho.

Para o universo estamos feitos
Matéria de estrelas que somos.
Para o cúmplice olhar do outro,
e a taça cheia de água limpa
ao cair da tarde na mesa simples.

Autora: Roseana Murray

São Miguel, Gabriel e Rafael 

Com alegria, comemoramos a festa de três Arcanjos neste dia: Miguel, Gabriel e Rafael. A Igreja Católica, guiada pelo Espírito Santo, herdou do Antigo Testamento a devoção a estes amigos, protetores e intercessores que do Céu vêm em nosso socorro pois, como São Paulo, vivemos num constante bom combate. A palavra “Arcanjo” significa “Anjo principal”. E a palavra “Anjo”, por sua vez, significa “mensageiro”.
São Miguel
O nome do Arcanjo Miguel possui um revelador significado em hebraico: “Quem como Deus”. Segundo a Bíblia, ele é um dos sete espíritos assistentes ao Trono do Altíssimo, portanto, um dos grandes príncipes do Céu e ministro de Deus. No Antigo Testamento o profeta Daniel chama São Miguel de príncipe protetor dos judeus, enquanto que, no Novo Testamento ele é o protetor dos filhos de Deus e de sua Igreja, já que até a segunda vinda do Senhor estaremos em luta espiritual contra os vencidos, que querem nos fazer perdedores também. “Houve então um combate no Céu: Miguel e seus anjos combateram contra o dragão. Também o dragão combateu, junto com seus anjos, mas não conseguiu vencer e não se encontrou mais lugar para eles no Céu”. (Apocalipse 12,7-8)
São Gabriel
O nome deste Arcanjo, citado duas vezes nas profecias de Daniel, significa “Força de Deus” ou “Deus é a minha proteção”. É muito conhecido devido a sua singular missão de mensageiro, uma vez que foi ele quem anunciou o nascimento de João Batista e, principalmente, anunciou o maior fato histórico: “No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré… O anjo veio à presença de Maria e disse-lhe: ‘Alegra-te, ó tu que tens o favor de Deus’…” a partir daí, São Lucas narra no primeiro capítulo do seu Evangelho como se deu a Encarnação.
São Rafael
Um dos sete espíritos que assistem ao Trono de Deus. Rafael aparece no Antigo Testamento no livro de Tobit. Este arcanjo de nome “Deus curou” ou “Medicina de Deus”, restituiu à vista do piedoso Tobit e nos demonstra que a sua presença, bem como a de Miguel e Gabriel, é discreta, porém, amiga e importante. “Tobias foi à procura de alguém que o pudesse acompanhar e conhecesse bem o caminho. Ao sair, encontrou o anjo Rafael, em pé diante dele, mas não suspeitou que fosse um anjo de Deus” (Tob 5,4).
São Miguel, São Gabriel e São Rafael, rogai por nós!
Evangelho
 
O Senhor esteja convosco.
Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo João.
Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 47Jesus viu Natanael que vinha para ele e comentou: “Aí vem um israelita de verdade, um homem sem falsidade”. 48Natanael perguntou: “De onde me conheces?” Jesus respondeu: “Antes que Filipe te chamasse, enquanto estavas debaixo da figueira, eu te vi”. 49Natanael respondeu: “Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel”. 50Jesus disse: “Tu crês porque te disse: “Eu te vi debaixo da figueira? Coisas maiores que esta verás!” 51E Jesus continuou: “Em verdade, em verdade eu vos digo: Vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem”. 

— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.

Reflexão - Jo 1, 47-51
Muitas vezes, nós nos sentimos espantados com o que conhecemos sobre o poder de Deus, mas devemos ter consciência de que de fato devemos nos maravilhar muito mais, uma vez que não conhecemos quase nada sobre este poder. Uma das grandes manifestações do poder de Deus, e que de fato nos faz fascina, é a existência dos anjos, essas criaturas maravilhosas que assistem diante de Deus e sempre estão presentes também nas nossas vidas, como o caso dos arcanjos que festejamos hoje e que têm a sua existência e a sua ação descritas nas Sagradas Escrituras.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014


Cosme e Damião



Santos Cosme e Damião, os santos gêmeos, morreram por volta de 300 d.C. Crê-se que foram médicos, e sua santidade é atribuída pelo motivo de haverem exercido a medicina sem cobrar por isso, devotados à fé. Sua festa é celebrada atualmente no dia 26 de setembro pela Igreja Católica, no dia 27 de setembro pelas religiões afro-brasileiras e no dia 1º de novembro pela Igreja Ortodoxa.
Os gêmeos nasceram em Egeia (agora Ayas, no Golfo do İskenderun, Cilícia, Ásia Menor), e tinham outros três irmãos. O pai foi mártir durante a perseguição dos cristãos na era de Diocleciano. Cosme e Damião eram médicos que curavam os enfermos não só com seu saber mas através de milagres propiciados por suas orações. Seus nomes verdadeiros eram Acta e Passio.
Os gêmeos praticavam a medicina em Egeia e alcançaram, por isso, grande reputação. Não aceitavam nenhum pagamento por seus serviços e foram por isso chamados de anargiras (em grego antigo: Ανάργυροι anargyroi - ?). Dessa forma, eles trouxeram muitos novos adeptos para a fé católica. Quando a perseguição de Diocleciano começou, o prefeito Lísias mandou prender Cosme e Damião e ordenou-lhes que se retratassem. Eles se mantiveram constantes sob tortura e de forma milagrosa não sofriam nenhum ferimento por água, fogo, ar, nem mesmo na cruz, até que foram decapitados por uma espada. Seus três irmãos, Antimo, Leôncio e Euprepio também morreram como mártires com eles. A execução ocorreu em 27 setembro, provavelmente entre 2875 /303.6
Mais tarde, surgiu uma série de relatos fabulosos sobre os gêmeos ligadas em parte às suas relíquias. Os restos mortais dos mártires estavam enterrados na cidade de Ciro, na Síria; o imperador Justiniano I (527-565) suntuosamente restaurou a cidade em sua honra, depois de ter sido curado de uma doença perigosa por intercessão de Cosme e Damião. Justiniano reconstruiu e decorou a igreja dos mártires em Constantinopla, que veio a se tornar um lugar famoso de peregrinação. Em Roma, o Papa Félix IV (526-530) edificou uma igreja em sua honra.
A Igreja grega celebra a festa dos santos Cosme e Damião em 1 de Julho, 17 de Outubro e 1 de Novembro e venera três pares de santos com o mesmo nome e profissão. Cosme e Damião são considerados os patronos dos médicos e cirurgiões e por vezes são representados por emblemas médicos. Eles são invocados no Cânon da Missa e na Ladainha de Todos os Santos.
O Antigo Martirológio Inglês (The Old English Martyrology) conta a seguinte lenda:
Quando eles curaram uma senhora de uma grave enfermidade, ela secretamente trouxe a Damião um pequeno presente; os textos dizem que eram três ovos. E então ela suplicou em nome de Deus que ele os aceitasse então Damião os guardou. Cosme ficou tão triste por causa isso que pediu para quando morressem seus corpos não fossem sepultados juntos. Então na mesma noite, o Senhor apareceu para Cosme e disse: "Por que dissestes aquilo pelo presente que Damião recebeu? Ele não o recebeu como pagamento, mas porque lhe foi pedido em meu nome."(...) Quando foram martirizados, os homens que acolheram seus corpos estavam indecisos sobre onde deveriam sepultá-los em separado por causa do que Cosme havia dito, até que surgiu um camelo e disse em voz humana: "Não separem os corpos dos santos, sepultem-nos juntos."
Evangelho
 
O Senhor esteja convosco.
Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
Glória a vós, Senhor.
Aconteceu que Jesus 18estava rezando num lugar retirado, e os discípulos estavam com ele. Então Jesus perguntou-lhes: “Quem diz o povo que eu sou?” 19Eles responderam: “Uns dizem que és João Batista; outros, que és Elias; mas outros acham que és algum dos antigos profetas que ressuscitou”.
20Mas Jesus perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro respondeu: “O Cristo de Deus”. 21Mas Jesus proibiu-lhes severamente que contassem isso a alguém.
22E acrescentou: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia”.

— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.

Reflexão - Lc 9, 18-22
Jesus não é simplesmente um personagem histórico ou um mero objeto da razão humana, é uma pessoa viva, e uma pessoa só pode ser verdadeiramente conhecida através do encontro e do relacionamento. Só conhece verdadeiramente Jesus quem realiza na sua própria vida a experiência do Ressuscitado presente e atuante na sua história pessoal e comunitária, quem descobre que Cristo não é o sobrenome de Jesus, mas quem ele é verdadeiramente: o Messias, o Ungido de Deus, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Deus Encarnado, o Redentor de toda a humanidade. Mas é preciso que a descoberta de tudo isso seja de forma existencial, de modo que essas verdades não sejam um conjunto de palavras teóricas e vazias, mas manifestam o que Jesus significa nas nossas vidas.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014



COMO A BÍBLIA E A TRADIÇÃO DA IGREJA EXPLICAM OS ANJOS

 
Os anjos são servidores e mensageiros de Deus. Eles contemplam constantemente a face de Deus que está nos céus (cf. Mateus 18,10). São poderosos executores da Palavra de Deus: “Bendizei o Senhor todos os seus anjos, valentes heróis que cumpris suas ordens, sempre dóceis à sua palavra” (Salmo 102 [103] ,20).
Há uma hierarquia entre os anjos, e todos eles estão submetidos ao senhorio de Cristo, pois Ele é o centro do mundo angélico. Entendemos que essa hierarquia está para o serviço, haja vista que a palavra de Deus nos relata que todos esses seres foram criados por Cristo, com Cristo e em Cristo. São seus porque forma criados por e para Ele, pois “nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as criaturas visíveis e as invisíveis. Tronos, dominações, principados, potestades: tudo foi criado por ele e para ele” (Colossenses 1,16). Além dessas indicações de graus hierárquicos, podemos acrescentar arcanjos, querubins, serafins. Uma função fundamental desses seres é prestar honra e glória incessantemente ao Senhor dos senhores e ao Reis dos reis.
Enfim, os anjos são mensageiros do projeto da Salvação. Todos eles são espíritos a serviço de Deus, que lhes confia missões para o bem daqueles que devem herda a Salvação (cf. Hebreus 1,14).

Revista: Ave Maria Ano.115
Evangelho
 
O Senhor esteja convosco.
Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
Glória a vós, Senhor.
 
Naquele tempo, 7o tetrarca Herodes ouviu falar de tudo o que estava acontecendo, e ficou perplexo, porque alguns diziam que João Batista tinha ressuscitado dos mortos. 8Outros diziam que Elias tinha aparecido; outros ainda, que um dos antigos profetas tinha ressuscitado. 9Então Herodes disse: “Eu mandei degolar João. Quem é esse homem, sobre quem ouço falar essas coisas?” E procurava ver Jesus.

— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.

Reflexão - Lc 9, 7-9
Vemos o surgimento de diferentes formas de misticismo e as diferentes religiões estão se multiplicando por todos os lados. Para nos defender, afirmamos que existem falsos profetas que ficam enganando o povo para ganhar dinheiro e fazer da religião meio de vida. À luz do Evangelho de hoje, podemos analisar este fato. As pessoas falam muitas coisas a respeito de Jesus, embora muitas vezes porque desconhecendo verdade, e esse desconhecimento se dá porque não evangelizamos como devemos e também porque conhecemos a nossa fé de modo superficial, mas não admitimos a nossa ignorância e manifestamos nossa opinião como verdade de fé, basta ver o acúmulo de bobagens que cristãos de meia tigela veiculam na Internet, em sites que afirmam ser católicos , mas que na verdade são caóticos e escondem Jesus.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Primavera



A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.
Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.
Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.
Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.
Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.
Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.
Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.
Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.
Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.

Texto extraído do livro "Cecília Meireles - Obra em Prosa - Volume 1", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1998, pág. 366.


A Origem da Feijoada é Europeia


Conforme o que ele conta no livro História da alimentação no Brasil, nem índios nem negros tinham o hábito de misturar feijão com carnes. A técnica de preparo vem de mais longe: o Império Romano. Desde a Antiguidade os europeus latinos fazem cozidos de misturas de legumes e carnes. Cada região de influência romana adotou sua variação: o cozido português, a paella espanhola, o bollito misto do norte da Itália. O cassoulet, da França, criado no século 14, é parecidíssimo com a feijoada: feito com feijão branco, linguiça, salsicha e carne de porco. Com o feijão preto, espécie nativa da América que os europeus adoraram, o prato virou atração entre os brasileiros mais endinheirados. A citação mais antiga que restou sobre a feijoada mostra a refeição bem longe das senzalas. No diário de Pernambuco de 7 de agosto de 1833, o elegante Hotel Théâtre, de Recife, informa sua nova atração das quintas-feiras: “Feijoada à brasileira”.

Autor: Leandro Narloch

Livro: Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil


Evangelho
 
O Senhor esteja convosco.
Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 1Jesus convocou os Doze, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios e para curar doenças, 2e enviou-os a proclamar o Reino de Deus e a curar os enfermos. 3E disse-lhes: “Não leveis nada para o caminho: nem cajado nem sacola nem pão nem dinheiro nem mesmo duas túnicas. 4Em qualquer casa onde entrardes, ficai aí; e daí é que partireis de novo. 5Todos aqueles que não vos acolherem, ao sairdes daquela cidade, sacudi a poeira dos vossos pés, como protesto contra eles”. 6Os discípulos partiram e percorriam os povoados, anunciando a Boa Nova e fazendo curas em todos os lugares.

— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.

Reflexão - Lc 9, 1-6
O Evangelho de hoje é uma espécie de "Manual do Evangelizador". Ele nos mostra que o evangelizador não age em nome próprio, pois ele não evengeliza por que quer, mas porque é enviado por Deus. Os poderes que tem para evangelizar não são próprios, são recebidos para serem usados em uma finalidade própria. Os bens materiais não podem ser um empecilho para o trabalho, nem podem ofuscar a força do anúncio e do testemunho. A inserção e a participação na vida das pessoas e das famílias é fundamental. Mas o mais importante são os dois objetivos que caracterizam o profetismo: a luta contra toda espécie de mal, que se manifesta na ordem da cura, e a proclamação da presença do Reino de Deus na vida de todas as pessoas.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014



O déficit de tudo

Há déficit por todos os lados. Nas esferas governamentais, nem se fala. O poder público nunca alcança as necessidades do povo. Enquanto este cresce desordenadamente, aumentando os problemas, aquele se perde na insuficiência burocrática e no descontinuísmo pragmático. Num diagnóstico simples, a culpa é geral.
Desde que me entendo pó gente (e mesmo depois, como estudante de história Universal), ouço falar na falta de recursos para pagar aposentadorias, para cobrir despesas médico-hospitalares, para quitar gastos com a escola-ensino, para melhorar o saneamento, para a constução-melhoramento das estradas, para o incremento agrícola-pecuário e muitas outras carências. Como político candidato a cargos eletivos, eu também batia nessas teclas, que sempre emitem os sons desafinados de orquestra sem regente. São questões globalizadas. Não são só nossas. Raros foram os países que se livraram, pelo menos momentaneamente, do fantasma da falta de equilíbrio entre receita e despesa. O que nunca faltou par o mundo foi o superávit de problemas: eles não desaparecem, só mudam de lugar e de tempo. É como dor em idoso. Não cura, só muda de local. Uma hora dói nas costas, noutra passa para os ombros e termina, como dizia minha avó: “A gente vai vivendo como Deus é servido”.
Entra governo, sai governo e o que modifica é a ótica das teses. Os caminhos continuam sem criatividade e as soluções recebendo atalhos que não chegam ao lugar certo. Por exemplo: se se sabe que há uma enorme evasão de recursos da previdência social (sonegação brutal), por que não enfrentar a fuga dos tributos de cara fechada, ao invés de penalizar o beneficiário? A cara fechada a que me refiro é o cumprimento da lei: todos (públicos e privados), sem proteção, recolherem ao Estado, que é um grande sonegador. Mas não. A regra é ferir o direito adquirido dos cidadãos. Por qualquer “me dê cá essa palha” aparece um Vieira (sem estalo) e propõe a pilhagem nos ganhos dos assalariados.
De tanto ler a história dos povos, contatei, no fim do segundo milênio da era Cristã (para não falar nos outros calendários), que o déficit permanente, no tempo e no espaço, é o moral. Os valores sofrem mutações bruscas, dando lugar a modismos que enfraquecem a resistência das pessoas, colocando-as vulneráveis ao comportamentos levianos e violentos que lhe minam a capacidade de resistência. Vivemos no apogeu da cocaína, da maconha, do LSD, do Crack, da prostituição (não só física), antidepressivos; temos o medo de ir e vir, além da sensação de perda (da vida e da propriedade), que nos põe em verdadeiras prisões domiciliares. Nas ruas, os destemperos e as inseguranças. Acabaram-se as serenatas. O poeta perdeu a musa, que foi morta e queimada no porta-malas do automóvel.
O momento é de indignação e de repulsa ao conformismo instalado em todos. Chegou a hora da guerra santa contra a degeneração dos princípios que engrandecem o ser humano. Enganam-se os que pensam que a cruzada tem como alvo só as instituições e os pobres. O reordenamento cultural desfaz o nó do déficit de cidadania e traz o superávit da felicidade. A atribuição de culpa, por tudo, aos governantes, vem retardando os avanços necessários ao desenvolvimento. O combate é de responsabilidade dupla. Estado e governado são agentes do pacto social. Consertar a pátria faz parte do concerto das pessoas.

Autor: Iram Saraiva
Livro: Eterno Rebelde
Evangelho
 
O Senhor esteja convosco.
Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, disse Jesus à multidão: 16“ninguém acende uma lâmpada para cobri-la com uma vasilha ou colocá-la debaixo da cama; ao contrário, coloca-a no candeeiro, a fim de que todos os que entram vejam a luz. 17Com efeito, tudo o que está escondido deverá tornar-se conhecido e claramente manifesto.
18Portanto, prestai atenção à maneira como vós ouvis! Pois a quem tem alguma coisa, será dado ainda mais; e àquele que não tem, será tirado até mesmo o que ele pensa ter”.

— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.

Reflexão - Lc 8, 16-18
O conhecimento da Palavra de Deus é muito importante, mas não é suficiente para que uma pessoa se torne verdadeiramente cristã. O importante é assumir os valores que estão presentes nela, de modo que a Palavra de Deus se torne vida das pessoas, e assim elas testemunhem esses valores para todos e manifestem o amor de Deus para com seus filhos e filhas. Jesus nos faz uma grave advertência no Evangelho de hoje: "Portanto, prestai atenção à maneira como vós ouvis!" Existem doutores na Palavra de Deus, mas que fazem da Palavra de Deus apenas objeto de conhecimento. É claro que o conhecimento da Palavra de Deus é importante, mas devemos ser doutores na sua vivência.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014



Sorriso
 
Talvez a primeira luz da manhã
reinventando o mundo
e a gota de tempo equilibrada
na superfície da madrugada
que resvala
sejam o sorriso de Deus.

Talvez o arco-íris depois
da terra lavada
e o vôo primeiro de um pássaro,
a primeira fruta colhida,
sejam o sorriso de Deus.

Talvez o assombro
de toda descoberta
e os gestos mais simples,
o pão repartido, a dor partilhada,
a mão no rosto do outro,
sejam o sorriso invisível
se Deus.


Autora: Roseana Murray

 São Januário
A história do santo deste dia se entrelaça com a cidade italiana de Nápoles, onde o corpo e sangue de Januário estão guardados. Este santo viveu no fim do século III e se tornara Bispo de Benevento, cidade próxima a Nápoles.
Como cristão estava constantemente se preparando para testemunhar (se preciso com o derramamento do próprio sangue) seu amor ao Senhor, já que naqueles tempos em que a Igreja estava sendo perseguida, não era difícil ser preso, condenado e martirizado pelos inimigos da Verdade.
Na função de Bispo foi zeloso, bondoso e sábio, até ser juntamente com seus diáconos, preso e condenado a virar comida dos leões no anfiteatro da cidade de Pozzuoli (a primeira terra italiana que pisou o apóstolo Paulo a caminho de Roma). Igual ao profeta Daniel e muitos outros, as feras lamberam, mas não avançaram nestes homens protegidos por Jesus. Nesse caso, sob a ordem do terrível imperador Diocleciano (último grande perseguidor), a única solução era a espada manejada pela irracional maldade humana. Foram decapitados. Isto ocorreu no ano 305.
Alguns cristãos, piedosamente, recolheram numa ampola o sangue do Bispo Januário para conservá-lo como preciosa relíquia e seu corpo acabou na Catedral de Nápoles. A partir disso, os napolitanos começaram a venerar o santo como protetor da peste e das erupções do vulcão Vesúvio.
Dentre tantos milagres alcançados pela sua intercessão, talvez o maior se deve ao seu sangue,“aquele guardado na ampola”. Acontece que o sangue é exposto na Catedral, no dia da festa de São Januário e o extraordinário é que há séculos, o sangue, durante uma cerimônia, do estado sólido passa para o estado líquido, mudando de cor, de volume e até seu peso duplica. A multidão edificada se manifesta com gritos, enquanto a ciência, que já provou ser sangue humano, silencia quanto a uma explicação para este fato, esclarecido somente pela fé.
São Januário, rogai por nós!
Evangelho
 
O Senhor esteja convosco.
Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 1Jesus andava por cidades e povoados, pregando e anunciando a Boa-Nova do Reino de Deus. Os doze iam com ele; 2e também algumas mulheres que haviam sido curadas de maus espíritos e doenças: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios; 3Joana, mulher de Cuza, alto funcionário de Herodes; Susana, e várias outras mulheres que ajudavam a Jesus e aos discípulos com os bens que possuíam.

— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.

Reflexão - Lc 8, 1-3
Assim como Jesus não parava, mas vivia caminhando de um lado para o outro anunciando a chegada do Reino de Deus, a sua Igreja não pode ficar parada. Ela deve ir sempre ao encontro do outro, abrir novas fronteiras no trabalho evangelizador para que todos possam ter a oportunidade de conhecer o Reino de Deus, assim como livremente optar por ele. Para realizar a sua missão, a Igreja deve, assim como o divino Mestre, envolver o maior número possível de pessoas, sem distinção entre elas, que queiram colocar a sua vida a serviço do Reino de Deus, como fizeram as mulheres, conforme nos narra o Evangelho de hoje.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014



A falta de clareza

Ruim não é votar. Ruins são as leis que organizam o voto, a começar por aquela que traz o formato e a estrutura dos partidos políticos. A legislação exageradamente esparsa confunde os eleitores, os candidatos e, pior ainda, os responsáveis pela sua aplicação, na medida em que apresenta uma riqueza de regras redundantes, além de casuísticas, efêmeras, e para atender propósitos que derrubam a lisura do voto. A falta de clareza dos instrumentos eleitorais dificulta a melhoria da qualidade na escolha de representantes. Quanto menos complicado o sistema, mais próximo de bons resultados. Nos próprios procedimentos eleitorais, que agora critico, encontramos o argumento de que a simplificação é o caminho: a urna eletrônica deu certo e nos livrou de vários inconvenientes que, no passado, maculavam os pleitos. Nada de fenomenal, mas prático.
Situar as questões eleitorais nas áreas do direito público e do direito privado, por si só, já se constitui noutro complicador. E não bastasse, ainda subsistem normas constitucionais e infraconstitucionais, sendo estas últimas, de conteúdo de lei ordinária e de lei complementar. Graças a isso, sobrevive em vigência o Código Eleitoral – que é uma lei ordinária anterior à constituição – que regula a competência e a organização da justiça Eleitoral, assunto que hoje deve ser, por determinação constitucional, por via de lei complementar. E assim vai. Se para os operadores do direito nem é tanto complicado, para os legisladores fica uma grande dose de menosprezo às regras que lhes são imponíveis. Ora, uma lei ordinárias é aprovada com quorum baixo; portanto, fácil de ser alterada; enquanto uma lei complementar cobra quorum qualificado, ou maior, que a torna menos vulnerável. Essa é a primeira situação que deve ser resolvida para que outra falha não ocorra, qual seja, a de a própria Justiça Eleitoral ter de legislar subsidiariamente até sobre o seu próprio formato; porque nas demais matérias comuns eleitorais, há muito ela interfere, inclusive como fonte de direito: mais regras a dificultarem o processo. Regras interpretando regras, umas atas das outras. Daí os inúmeros conflitos. O que era para ser elementar escolha de dirigentes, transforma-se em sede de inexplicáveis recursos procrastinatórios.
De pouca sustentação, ou de nenhuma, para nós que nas faculdades cuidamos dos temas eleitorais, é a existência de um código – nele presentes o direito substantivo e o direito adjetivo – a conviver com variedades de leis em cima do mesmo conteúdo, gerando espaços, no mínimo, de muitas possibilidades de chicanas, dentro de um processo que tem por característica principal o rito sumário.
Enquanto não se resolverem as contradições legais, as eleições continuarão fadadas a patrocinar todo tipo de insegurança nos pleitos. Leis demais significam resultados de menos. Qualquer lei deve conter clareza: para lá é mão, para cá é contramão. Fora disso, as interpretações vão ao infinito.


Autor: Iram Saraiva
Livro: Eterno Rebelde
Evangelho

 
O Senhor esteja convosco.
Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 36um fariseu convidou Jesus para uma refeição em sua casa. Jesus entrou na casa do fariseu e pôs-se à mesa.
37Certa mulher, conhecida na cidade como pecadora, soube que Jesus estava à mesa, na casa do fariseu. Ela trouxe um frasco de alabastro com perfume, 38e, ficando por detrás, chorava aos pés de Jesus; com as lágrimas começou a banhar-lhe os pés, enxugava-os com os cabelos, cobria-os de beijos e os ungia com o perfume.
39Vendo isso, o fariseu que o havia convidado ficou pensando: “Se este homem fosse um profeta, saberia que 40tipo de mulher está tocando nele, pois é uma pecadora”.
Jesus disse então ao fariseu: “Simão, tenho uma coisa para te dizer”. Simão respondeu: “Fala, mestre”! 41“Certo credor tinha dois devedores; um lhe devia quinhentas moedas de prata, o outro cinquenta. 42Como não tivessem com que pagar, o homem perdoou os dois. Qual deles o amará mais?” 43Simão respondeu: “Acho que é aquele ao qual perdoou mais”. Jesus lhe disse: “Tu julgaste corretamente”.
44Então Jesus virou-se para a mulher e disse a Simão: “Estás vendo esta mulher? Quando entrei em tua casa, tu não me ofereceste água para lavar os pés; ela, porém, banhou meus pés com lágrimas e enxugou-os com os cabelos. 45Tu não me deste o beijo de saudação; ela, porém, desde que entrei, não parou de beijar meus pés. 46Tu não derramaste óleo na minha cabeça; ela, porém, ungiu meus pés com perfume. 47Por esta razão, eu te declaro: os muitos pecados que ela cometeu estão perdoados porque ela mostrou muito amor. Aquele a quem se perdoa pouco mostra pouco amor”. 48E Jesus disse à mulher: “Teus pecados estão perdoados”. 49Então, os convidados começaram a pensar: “Quem é este que até perdoa pecados?” 50Mas Jesus disse à mulher: “Tua fé te salvou. Vai em paz”.

— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.

Reflexão - Lc 7, 36-50
'Dize-me com quem andas e eu direi quem és!' A partir deste ditado, vemos as relações de exclusão que são estabelecidas entre os 'santos' e os 'pecadores'. E claro que quem é 'santo' não pode conviver com os 'pecadores' pois correrá o risco de se contaminar e se tornar um deles. Esta é a lógica da mentira e do farisaísmo que marca a vida de muitos de nós. Ninguém é 'santo', pois só Deus é Santo, e o pecado marca a nossa existência, e quem disser que não é pecador, é mentiroso, logo não somos melhores que ninguém. Se uma pessoa é reta de coração, deve conviver com todos para que possa testemunhar a todos o amor de Deus, a vivência na busca da santidade, e assim colaborar com a conversão dos pecadores.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014



Banquete


Que o seu chegar seja mais que um simples chegar.
Que seja o símbolo de um tempo de demoras e permanência.
Deitarei a tolha branca sobre a mesa
e permitirei que suas pontas venham
cobrir também a minha alma.
Cada vez que nossa mesa é posta,
muito mais que um alimento,
a vida nos é oferecida!
Que seja Assim!
Que nossa fome de amor
e de fraternidade seja sempre saciada
nos olhares dos quais nos serviremos.

Autor: Fábio de Melo

Nossa Senhora das Dores nos aponta para uma Nova Vida 

“Quero ficar junto à cruz, velar contigo a Jesus e o teu pranto enxugar!”
 
Assim, a Igreja reza a Maria neste dia, pois celebramos sua compaixão, piedade; suas sete dores cujo ponto mais alto se deu no momento da crucifixão de Jesus. Esta devoção deve-se muito à missão dos Servitas – religiosos da Companhia de Maria Dolorosa – e sua entrada na Liturgia aconteceu pelo Papa Bento XIII.
A devoção a Nossa Senhora das Dores possui fundamentos bíblicos, pois é na Palavra de Deus que encontramos as sete dores de Maria: o velho Simeão, que profetiza a lança que transpassaria (de dor) o seu Coração Imaculado; a fuga para o Egito; a perda do Menino Jesus; a Paixão do Senhor; crucifixão, morte e sepultura de Jesus Cristo.
Nós, como Igreja, não recordamos as dores de Nossa Senhora somente pelo sofrimento em si, mas sim, porque também, pelas dores oferecidas, a Santíssima Virgem participou ativamente da Redenção de Cristo. Desta forma, Maria, imagem da Igreja, está nos apontando para uma Nova Vida, que não significa ausência de sofrimentos, mas sim, oblação de si para uma civilização do Amor.
Nossa Senhora das Dores, rogai por nós!

LINK:http://santo.cancaonova.com/santo/nossa-senhora-das-dores-nos-aponta-para-uma-nova-vida/
Evangelho
 
O Senhor esteja convosco.
Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 33o pai e a mãe de Jesus estavam admirados com o que diziam a respeito dele. 34Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe de Jesus: “Este menino vai ser causa tanto de queda quanto de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. 35Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma”.
 
Palavra da Salvação.
Glória a vós, Senhor.

Reflexão - Lc 2, 33-35
A presença de Maria junto ao seu Filho no momento do seu suplício mostra para nós a realização da profecia de Simeão: “E quanto a ti, uma espada de dor transpassará a tua alma”. Esta presença também nos mostra a necessidade da nossa presença e da nossa solidariedade junto a todos os que sofrem e que esta presença deve ser muito mais do que estar ao lado fazendo alguma coisa. Ela deve ser também a presença solidária de quem sofre junto, porque temos os mesmos valores, comungamos as mesmas idéias e lutamos pela realização plena dos mesmos projetos.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014



Naufrágio



Wright Mills disse, certa vez, que o nosso mundo é como uma galera onde todos remam com vigor, imprimindo velocidade cada vez maior ao barco. Só que ninguém tem idéia alguma da direção para onde ele está indo. Achei esta uma boa metáfora para a situação do Brasil, com apenas dois acréscimos. Primeiro: há um rombo no porão, a água sobe rapidamente, o casco se inunda, vai haver naufrágio. Segundo: na cabine de comando ninguém parece se preocupar com isso. O comandante faz seguidos discursos tranqüilizantes, denunciando os boatos alarmistas que sobem dos porões e garantindo que não há razões para pessimismo. A viagem ele reassegura, transcorre segundo o previsto, o que permite que as festas continuem sem interrupção nos salões de baile. Enquanto isso parece que os oficiais têm uma única preocupação na cabeça: o que fazer para subir um degrau na hierarquia do poder. No fundo, todos desejariam ocupar a posição de comandante. Para conter a gritaria que sobe lá de baixo, gritos que mais se parecem com gargarejos, gargantas já inundadas de água, o comando despacha para baixo suas forças de segurança com a missão de restabelecer a ordem – como se o perigo estivesse nos gritos dos que se afogam e não na água que vai entrando…
Ouvem-se as mais fantásticas promessas: refeições gratuitas para a terceira classe, estabilidade de emprego para os que trabalham nas caldeiras, novos elevadores ligando a primeira classe aos porões, pintura colorida nos salões de festas – tudo isso em meio a uma farta distribuição de sanduíches e saquinhos de pipoca. O clima é festivo, e muitos chegam mesmo a se embebedar com caipirinhas, esquecendo-se do único fato que importa: o navio está afundando…
Confesso que sinto um clima um tanto apocalíptico: uma catástrofe que se aproxima. Clima de "últimos dias" – como se um grave julgamento estivesse se aproximando para um país que não aprendeu as lições da história e se deixou fascinar pelas tentações do demônio. "O importante é levar vantagem" – é isso que o Tentador tem estado dizendo sem parar; e, enquanto se celebram pequenas vantagens individuais ou de partido, o navio continua a afundar. Lembro-me de uma sombria advertência profética que, mesmo expurgada de seu sentido religioso, mantém a sua significação como vaticínio político: Porquanto, assim como nos dias anteriores ao dilúvio, comiam e bebiam, e não perceberam senão quando veio o dilúvio, que os levou a todos...” (Mateus 24, 38-39)
(Rubem Alves)- do livro Conversas sobre política- Ed. Verus- 2002


Será Deus o vazio? 


 É de Lao Tsé e diz assim:
Trinta raios convergem no círculo da roda.
E no espaço que há entre eles
é que reside a utilidade da roda.
A argila é trabalhada em forma de vasos.
E no vazio reside a utilidade deles.
Abrem-se portas e janelas nas paredes de uma casa.
E é pelos espaços vazios que podemos utilizá-las.
Assim, na não-existência reside a utilidade
e na existência, a posse.