Lampião
Após um ano, as provas. O título
escolhido foi lampião, após leitura da poesia sobre lampião de gás em aulas
passadas, poesia linda, uma aluna que ouvira falar muito sobre o bandoleiro do
nordeste que espalhou tanto medo no sertão, ligou-se de imediato no herói do
espaço nordestino. Escreveu três laudas fazendo considerações sobre ele.
Analisou o menino pobre do sertão, as injustiças de um governo aliado aos
coronéis, a carência de educação e saúde. Sentia-se empolgada. Muito ouvira
falar dele. Conhecia pessoas que conheceram e até acompanharam o justiceiro do
sertão. A aluna não esquecera que Lampião trazia sempre com ele uma colher de
prata, que colocada nos alimentos empretejava se eles estivessem envenenados.
Então, ai de quem preparara a refeição.
Terminada a prova à hora do
recreio, conversando com as colegas veio a saber que o tema era sobre lampião
de gás que tanta saudade causava aos nossos avós.
A nossa
escritora esperava uma nota máxima pelo esbanjamento de conhecimentos dos fatos
históricos de um passado tão marcante e divulgado no meio do povo.
E agora?
Reprovação, nota baixa, ridículo perante a sala? Não se conteve e chorou. Como
foi possível uma distração tão grande influenciada por estórias ouvidas em
casa? O jeito era procurar o professor e pedir nova chance com outra prova,
afinal o assunto escolhido também lhe era familiar. Seus avós e seus pais eram
do tempo do lampião e da lamparina... Mas o professor rindo, lhe disse: Amei
seu trabalho. Foi ótimo. Não vou lhe dizer como Santo Agostinho, “bene curristi,
sed extra viam”, traduzindo: falaste muito bem, mas fora do assunto. Pelo
contrário dei nota máxima ao seu trabalho. A aluna chorou de novo. Agora de
alegria e gratidão ao professor.
Contando o
caso posteriormente, atribuiu a seu professor sensibilidade em valorizar mais o
contudo do que a forma.
Atitude
pouco ou nada comum entre professores. Principalmente quando o pedagogo conhece
seu aluno e o acompanha ao longo da aprendizagem.
Autor: Paulo Motta
Livro: Memória de um Seminarista

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