quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O encontro de Jesus com a Samaritana

É bonito ver como a Samaritana não quis monopolizar o Cristo. Descobrira-o, mas não como proprietária exclusiva. Não pretendeu trancá-lo, visando consumi-lo a prestações. Ela entendeu perfeitamente o que Jesus lhe dissera: “Se compreendesses o dom de Deus...” Ele era um dom e esse dom era de todos, para todos; não somente de alguns, para alguns.
Lembrando João Batista, a Samaritana vai deixando que o Cristo cresça e ela diminua no coração de todos, ela que fora o veículo da descoberta.
Esta é a fundamental convicção do testemunho cristão.
“muitos foram os samaritanos daquela cidade e crerem nele por causa da palavra daquela mulher” (v.39). Entretanto, mais tarde alardeavam: “Já não é devido à tua declaração que cremos, mas nós mesmos ouvimos e sabemos ser este verdadeiramente o salvador do mundo” (v. 42). Piedosa inverdade, dos sicarenses. Pois o fato não era esse. A verdade obrigava a aceitar os passos da samaritana. Ela foi o porta-voz, o pombo-correio. Se não fosse ela, todos teriam continuado sesteando, e Jesus teria passado. Foi ela, sim, quem avisou todos aqueles acostumados à água de Jacó. E agora dizem que ela não conta. Quer aceitem, quer não, a voz deles no encontro com Cristo não podia silenciar a voz da samaritana. E repetem que não é devido a ela que crêem. Ingratos. Injustos. Quem deixou a bilha no beiral do poço e foi correndo?
É eloqüente este momento do itinerário espiritual da samaritana. Sem deixar de ser amargo. Porém é tanto mais eloqüente à medida que nos abraçamos sinceros ao Cristo como presente de Deus a todos, não apenas ao grupinho. Então, à proporção que esse presente divino torna-se acessível a um número cada vez maior, mais deve aumentar em nós a alegria de não ver Deus frustrado no horizonte do amor sem horizontes.
A eloqüência do testemunho apostólico da samaritana decorre sobretudo dessa marcante alegria que ela conserva à medida que a fonte jorra em outros; à medida que o amor de Deus é multidescoberto.
Aquelas reações eram irrelevantes, não a atingiam. O essencial acontecera. Não dependia da gratidão ou da ingratidão de ninguém, da justiça ou da injustiça de quem quer que seja. Ela encontrara o Cristo e se encontrara.

Livro: O Encontro
Autor: João Mohana
Pg. 66/67

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