segunda-feira, 4 de março de 2013

ESCUTA, ISRAEL... (SHEMA ISRAEL)



Certa vez, durante um encontro de formação litúrgica, alguém respondeu referindo-se à prática de oração: “Eu rezo o dia todo, falo com Ele o tempo todo...”. Depois disso, alguém interveio, dizendo: “E quando é que você o escuta?”. Silêncio. Talvez tenha sido o único momento do encontro em que se ensaiou a escuta. Até aquele momento, cada um, como podia, deixava transparecer seu modo de rezar, em geral, muito aproximado daquele.
De fato, nos dias atuais, envoltos por tantos apelos sensoriais, falamos, vemos, ouvimos, cheiramos, tateamos muito... e escutamos pouco. Achamos que isso é normal, que faz parte do nosso tempo. será? Podemos perceber o possível resultado dessa conduta em nossa celebrações litúrgicas. Nossas reuniões ruidosas, mal preparadas, visualmente poluídas, têm-nos afastado da escuta essencial, colocando em risco nosso encontro fraterno ao redor da mesa do Senhor.
Aqui caberia uma questão: se vivemos num mundo que privilegia o fragmentado, não conviria um resgate da unidade do ser, par que o culto espiritual que elevamos ao Pai, por Jesus Cristo, seja realmente íntegro?
Num diálogo ou numa situação qualquer alguém diz: “Pense, antes de falar!”. Quando isso ocorre, normalmente, ficamos atentos sobre o que nós mesmos dizemos, ou seja, passamos a ouvir a nós mesmos. É o que acontece durante a proclamação da Palavra. As palavras ditas são não somente ditas, mas ouvidas, interpretadas, internalizadas. Para que alcancemos tal objetivo, é necessária uma preparação prévia, não simplesmente voltada para a leitura, mas para os traços sensoriais nela contidos (as palavras-chave do discurso).
Será verdade que exercitamos pouco as nossas faculdades auditivas? Exatamente. Ouvimos de tudo sem, todavia, reservamos um tempo para um processamento inteligente e, desse modo , vamos esvaziando os conteúdos mais significativos que nos penetram pela via sensorial auditiva. Uma boa escuta gera transformações no ser inteiro.
Quem tem ouvidos para ouvir, ouça! Essa admoestação do Mestre não servia somente para que os discípulos se concentrassem no poder de suas palavras. Ela implicava no exercício contínuo da reflexão para as tomadas de decisão próprias do seguimento. Hoje, tal orientação se dirige a nós, seus discípulos e discípulas.

Revista de Liturgia
Ano 35
Pg.23

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