Outro dia surgiu uma noticia de que algumas pessoas estão pensando em fazer (ou já fizeram) plástica para apagar o umbigo. Como virou moda modificar o corpo com plástica ou tatuagens, chegamos a esse ponto original e originário.
Por outro lado, a gente sai à rua, vai à praia, aos bares e festas, e o que é que vê? Moças , bonitas (a as não bonitas), com uma joinha no umbigo. Pode ser um falso brilhante, não importa, elas estão sinalizando a presença do umbigo, ou até mais, que ali tem algo precioso como uma jóia.
Então, é de se notar que o umbigo, fisicamente falando, é um lugar de discussão da beleza. Quem acha que ele é inútil, feio e está pensando até em apagá-lo, está, paradoxalmente, atrás de um ideal de beleza. E quem o embeleza, está enfatizando-o, duplicando o sentido do próprio umbigo.
O umbigo está aí plantado no meio do nosso corpo e no centro de uma simbologia, que vai da estática individual ao sentido místico e cósmico da via. E, se eu começasse a circular ao redor da palavra umbigo, veia que na Grécia achava-se que o umbigo da Terra estava em Delfos e que uma pedra chamada onfalo assinalava o centro do mundo. Já para os hindus foi do umbigo de Vishnu que decorreu o oceano primordial.
Portanto, há os adoradores do umbigo, e o dicionário diz que nos séculos XI e XII havia a seita dos onfalópsicos que, ao contemplar o próprio umbigo fixamente, comunicavam-se com a divindade, captando o que chamavam de luz do Tabor.
Vou dizer aqui uma coisa que poderia ter dito na primeira linha e abriria melhor, com mais impacto, este texto: a história da pessoa humana é a história de seu próprio umbigo.
O que foi a discussão entre o sistema cósmico de Kepler e Galileu, senão uma discussão sobre o umbigo? Por isto é que as afirmações de Galileu e Kepler foram tão ameaçadoras. Eles estavam mexendo com o umbigo das pessoas. Tirar a Terra do centro do universo e fazê-la girar em torno do Sol era tirar o solo onde as pessoas pisavam com suas crenças. Era raspar o próprio umbigo.
Marx, postulava que o umbigo da história não era mais o rei, nem a igreja, mas certos movimentos invisíveis que ocorriam na vida econômica e social. Isto foi um abalo e tanto. Depois, surgiu Freud e o conceito de inconsciente abalou de novo o conceito da pessoa humana, pois pressupunha que dentro da gente tem uma cosa em movimento, surpreendente, incontrolável que é responsável pela maioria dos comportamentos conscientes. Outra mexida no umbigo do nosso ego.
A cultura da chamada pós-modernidade tende a tornar ainda mais confusa a relação do homem com seu umbigo.
Negar o umbigo ou situá-lo fora da gente não é a solução.
Ficar girando em torno dele é uma perdição.
Livro: Como andar no labirinto
Autor: Affonso Romano de Sant’Anna
Pg. 42/43-44
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