segunda-feira, 6 de outubro de 2014




O Olhar dos Pobres
 



Que olhares são estes, meu Deus! São olhares que impressionam, pois são de rara magnitude; são olhares baixos que não conseguem se erguer por causa do peso de sua vergonha; são olhares silenciosos e cheios de profetismo, de denúncia e de augúrio.
O que mais impressiona no olhar dos pobres é que são cavados de desejos, de prece, de acenos. Nunca são olhares esguios, levantados. É um modo de se olhar; é uma pedagogia a nos ensinar que o Senhor está de olho nos seus servos, os pobres. Evoca o olhar de Maria: “O Senhor olhou para a humildade de sua serva”. O olhar dos pobres se cruza e se encontra com o olhar de Deus. “Eu vi a aflição do meu povo...” (Ex 3).
Os pobres não têm olhar altivo; somente murmúrio; um nada como se fosse o seu tudo. Seu olhar são preces. O pobre, quando ora, enternece, comove, inclina a cabeça e silencia. Não tem necessidade de palavras; sua vida, seu mundo, seu nada é a linguagem que a todos toca. Por isso Deus tem muito respeito pelos pobres. Seu olhar é tudo...
A esperança dos pobres não termina, não acaba; é feita de resistência; se parece com o mandacaru – símbolo do nordeste brasileiro.

Autor: Pe. Jerônimo Gasques
Livro: Os dois olhares

Nenhum comentário:

Postar um comentário