O Olhar dos Pobres
Que olhares são estes, meu Deus!
São olhares que impressionam, pois são de rara magnitude; são olhares baixos
que não conseguem se erguer por causa do peso de sua vergonha; são olhares
silenciosos e cheios de profetismo, de denúncia e de augúrio.
O que mais impressiona no olhar
dos pobres é que são cavados de desejos, de prece, de acenos. Nunca são olhares
esguios, levantados. É um modo de se olhar; é uma pedagogia a nos ensinar que o
Senhor está de olho nos seus servos, os pobres. Evoca o olhar de Maria: “O
Senhor olhou para a humildade de sua serva”. O olhar dos pobres se cruza e se
encontra com o olhar de Deus. “Eu vi a aflição do meu povo...” (Ex 3).
Os pobres não têm olhar altivo;
somente murmúrio; um nada como se fosse o seu tudo. Seu olhar são preces. O
pobre, quando ora, enternece, comove, inclina a cabeça e silencia. Não tem
necessidade de palavras; sua vida, seu mundo, seu nada é a linguagem que a
todos toca. Por isso Deus tem muito respeito pelos pobres. Seu olhar é tudo...
A esperança dos pobres não
termina, não acaba; é feita de resistência; se parece com o mandacaru – símbolo
do nordeste brasileiro.
Autor: Pe. Jerônimo Gasques
Livro: Os dois olhares
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