quarta-feira, 22 de outubro de 2014



Hino à caridade 



1° carta de Coríntios 12,31 -13,13

Caridade é o termo religioso para significar o amor. O texto bíblico é um hino, portanto, ao amor, talvez o mais célebre e sublime que foi escrito. Estas palavras influenciaram também o vasto campo da cultura humana. Inspiraram o Fausto de Goethe, Charles Baudelaire.
É o ponto de convergência entre a fé cristã e a experiência humana.
Mas também se encontram diferenças profundas entre o modo de conceber o amor na Bíblia e na literatura. A diferença principal é que o amor cantado por Paulo é antes de tudo um amor de doação: aquele cantado pelos poetas é quase sempre um amor de procura, de busca. Ambos tendem a alegria; mas um encontra alegria em dar, o outro em receber.
Antes do cristianismo, o amor era chamado, em grego, de Eros (daí vem erótico e erotismo). O cristianismo sentiu que o amor cristão de ágape para ser traduzido por caridade, ainda eu tenha adquirido hoje em dia o sentido muito restrito de fazer caridade, obras de caridade.
O evangelista João define Deus: “Deus é amor (ágape)” (1° carta João 4,10). É o amor essencial, não para receber, pois o que poderia. Deus receber que já não por sua, ou de quem. Ele poderia recebe alguma coisa? Mas consiste em um dar-se, ou fazer-se dom para o outro. Jesus disse: “Não existe maior amor do que dar a vida pelos amigos” (João 15,13):
Em nós o amor comporta sempre, em grau maior ou menor, um aspecto de desejo, de procura e de doação, com possibilidade de desenvolvimento e crescimento. Há sempre, porém a possibilidade de educação e crescimento no amor.
No amor entre dois esposos, ao início prevalece, o Eros, a atração, o desejo recíproco, e conquista do outro. Se, porém esse amor não se esforçar por enriquecer-se com uma dimensão nova, feita de gratuidade, de capacidade de esquecer de si próprio para lembrar-se do ouro, capacidade de sacrifício, tudo pode terminar.
Aplicada a palavra de Deus a todos nós, a cada um pessoalmente, São Paulo faz um elenco das características do verdadeiro amor. “A caridade é paciente é benigna; não é vaidosa não se ensoberbece, não faz nada de inconveniente não é interesseira, não se encoleriza, não guarda rancor, não se alegra com a iniqüidade, mas se regozija com a verdade. Tudo suporta tudo crê, tudo espera, tudo desculpa.”
Tudo isso poderia servir para renovar o nosso exame de consciência. A cada afirmação perguntemo-nos “E eu?” A caridade é paciente: e eu? A caridade não é invejosa: e eu? A caridade não procura somente o seu interesse: e eu?
O ensinamento do apóstolo Paulo permanece de grande atualidade. Num mundo de tanta marginalização de pessoas e de povos, onde o individualismo egoísta impera e domina em nossas sociedades, Deus continua a chamar os homens para a fraternidade e a solidariedade. A respeito generoso de uma multidão anônima de operadores da paz e do bem se faz sentir em toda a terra. O Hino ao Amor é o lembrete do essencial e vital dos seguidores de Cristo Jesus. Nossa realização dominada pela técnica e pela sede de conhecimento, em necessidade de um coração para que o homem possa sobreviver nela, sem desumanizar-se e cair na era glacial da no lado pessoal.
É hora de preocupar-se não apenas com a capacidade da inteligência, mas de ativar a capacidade sem medidas do nosso coração para amar. A capacidade do amor é superior a da inteligência, é infinita porque Deus nos comunica o ser. Espírito de amor.
“A caridade não acabará nunca. As profecias desaparecerão, as línguas cessarão, à ciência desaparecerá. Com efeito o nosso conhecimento é limitado... Atualmente, permanecem estas três coisas: a fé, a esperança, a caridade. Mas a maior delas é a caridade”.
No ocaso da vida, seremos julgados sobre o amor! 


                                   Dom Geraldo M. Agnelo
                              Cardeal arcebispo de Salvador
                                                

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