Santos Dumont – era um Picareta?
O evento daria 100 mil dólares a
quem percorresse, no menor tempo, um trajeto triangular de 16 quilômetros,
desde que numa velocidade mínima de 32 quilômetros por
hora. Santos Dumont era o favorito, mas acabou melando a festa. Primeiro,
duvidou que o prêmio seria pago e pediu
aos organizadores que lhe adiantassem 20 mil dólares (não sem solicitar que mantivessem a ajuda de
custo em segredo). Pedido negado: se adiantassem algum dinheiro ao brasileiro,
os organizadores teriam que ajudar os outros participantes. Depois, Santos
Dumont insistiu para que diminuíssem a velocidade mínima da prova. Como era o
principal, senão o único competidor, acabou conseguindo – a velocidade ficou em
24 quilômetros
por hora. Ainda obteve mais uma concessão: o trajeto, em vez de triangular,
virou uma reta. Em ida e volta, demandaria apenas uma curva. Só então Santos
Dumont foi à França pegar o balão, voltando a Nova York em 26 de junho de 1904.
Um dia depois de chegar, o
Aviador foi acordado com a notícia de que o seu balão N-7 tinha sofrido quatro
cortes a faca. Os rasgos atravessaram as camadas do tecido dobrado, resultando
em mais de quarenta furos. Nervoso e contrariado, ele recusou a ajuda de
voluntários que garantiam conseguir consertar o tecido. Disse a todos que o
conserto levaria tempo demais e não poderia ser feito nos Estados Unidos – “Só
confio nos operários franceses”.
Foi então que a polícia e os
organizadores da feira começaram a desconfiar do próprio Santos Dumont como
autor da sabotagem. O aviador tinha sido advertido várias vezes para manter
fechada a caixa que envolvia o balão e para deixar, no hangar, um dos seus
funcionários como segurança adicional. Preferiu não fazer nada disso. Veio
também a notícia de que dois de seus balões já haviam sido sabotados a facadas,
em Paris e em Londres.
Apenas um mês antes do episódio na América. Pareceu, aos
investigadores americanos, meio improvável que o mesmo vândalo acompanhasse
Santos Dumont somente para sabotá-lo, ou que pessoas diferentes cometessem um
crime tão parecido. Pior: depois se soube que, ao ter o balão sabotado em
Londres, o brasileiro fechou um acordo com expositores ingleses para cobrar
ingressos de quem quisesse ver o tecido despedaçado. De acordo com Hoffman, ele
tentou o mesmo acordo com os organizadores da exposição americana, que
recusaram a oferta.
Nunca se saberá a identidade do
misterioso homem que sabotava os balões de Santos Dumont em cada país que ele
visitava. O fato é que, no ano em que os irmãos americanos fizeram mais de cem
vôos (sem balões), Santos Dumont foi embora dos Estados unidos sem tirar os pés
do chão, e deixando lá a fama de ser um tremendo picareta. Não há provas de que
o brasileiro tenha ordenado a própria sabotagem. Mas parece estanho, não?
Autor: Leandro Narloch
Livro: Guia Politicamente
Incorreto da História do Brasil
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