sexta-feira, 3 de outubro de 2014



Santos Dumont – era um Picareta?

O evento daria 100 mil dólares a quem percorresse, no menor tempo, um trajeto triangular de 16 quilômetros, desde que numa velocidade mínima de 32 quilômetros por hora. Santos Dumont era o favorito, mas acabou melando a festa. Primeiro, duvidou que o prêmio seria  pago e pediu aos organizadores que lhe adiantassem 20 mil dólares  (não sem solicitar que mantivessem a ajuda de custo em segredo). Pedido negado: se adiantassem algum dinheiro ao brasileiro, os organizadores teriam que ajudar os outros participantes. Depois, Santos Dumont insistiu para que diminuíssem a velocidade mínima da prova. Como era o principal, senão o único competidor, acabou conseguindo – a velocidade ficou em 24 quilômetros por hora. Ainda obteve mais uma concessão: o trajeto, em vez de triangular, virou uma reta. Em ida e volta, demandaria apenas uma curva. Só então Santos Dumont foi à França pegar o balão, voltando a Nova York em 26 de junho de 1904.
Um dia depois de chegar, o Aviador foi acordado com a notícia de que o seu balão N-7 tinha sofrido quatro cortes a faca. Os rasgos atravessaram as camadas do tecido dobrado, resultando em mais de quarenta furos. Nervoso e contrariado, ele recusou a ajuda de voluntários que garantiam conseguir consertar o tecido. Disse a todos que o conserto levaria tempo demais e não poderia ser feito nos Estados Unidos – “Só confio nos operários franceses”.
Foi então que a polícia e os organizadores da feira começaram a desconfiar do próprio Santos Dumont como autor da sabotagem. O aviador tinha sido advertido várias vezes para manter fechada a caixa que envolvia o balão e para deixar, no hangar, um dos seus funcionários como segurança adicional. Preferiu não fazer nada disso. Veio também a notícia de que dois de seus balões já haviam sido sabotados a facadas, em Paris e em Londres. Apenas um mês antes do episódio na América. Pareceu, aos investigadores americanos, meio improvável que o mesmo vândalo acompanhasse Santos Dumont somente para sabotá-lo, ou que pessoas diferentes cometessem um crime tão parecido. Pior: depois se soube que, ao ter o balão sabotado em Londres, o brasileiro fechou um acordo com expositores ingleses para cobrar ingressos de quem quisesse ver o tecido despedaçado. De acordo com Hoffman, ele tentou o mesmo acordo com os organizadores da exposição americana, que recusaram a oferta.
Nunca se saberá a identidade do misterioso homem que sabotava os balões de Santos Dumont em cada país que ele visitava. O fato é que, no ano em que os irmãos americanos fizeram mais de cem vôos (sem balões), Santos Dumont foi embora dos Estados unidos sem tirar os pés do chão, e deixando lá a fama de ser um tremendo picareta. Não há provas de que o brasileiro tenha ordenado a própria sabotagem. Mas parece estanho, não?

Autor: Leandro Narloch
Livro: Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil

Nenhum comentário:

Postar um comentário