Hino à caridade
1°
carta de Coríntios 12,31 -13,13
Caridade é o termo religioso para significar
o amor. O texto bíblico é um hino, portanto, ao amor, talvez o mais célebre e
sublime que foi escrito. Estas palavras influenciaram também o vasto campo da
cultura humana. Inspiraram o Fausto de Goethe, Charles Baudelaire.
É o ponto de convergência entre a fé cristã
e a experiência humana.
Mas também se encontram diferenças profundas
entre o modo de conceber o amor na Bíblia e na literatura. A diferença principal
é que o amor cantado por Paulo é antes de tudo um amor de doação: aquele
cantado pelos poetas é quase sempre um amor de procura, de busca. Ambos tendem
a alegria; mas um encontra alegria em dar, o outro em receber.
Antes do cristianismo, o amor era chamado,
em grego, de Eros (daí vem erótico e erotismo). O cristianismo sentiu que o
amor cristão de ágape para ser traduzido por caridade, ainda eu tenha adquirido
hoje em dia o sentido muito restrito de fazer caridade, obras de caridade.
O evangelista João define Deus: “Deus é amor
(ágape)” (1° carta João 4,10). É o amor essencial, não para receber, pois o que
poderia. Deus receber que já não por sua, ou de quem. Ele poderia recebe alguma
coisa? Mas consiste em um dar-se, ou fazer-se dom para o outro. Jesus disse:
“Não existe maior amor do que dar a vida pelos amigos” (João 15,13):
Em nós o amor comporta sempre, em grau maior
ou menor, um aspecto de desejo, de procura e de doação, com possibilidade de
desenvolvimento e crescimento. Há sempre, porém a possibilidade de educação e
crescimento no amor.
No amor entre dois esposos, ao início
prevalece, o Eros, a atração, o desejo
recíproco, e conquista do outro. Se, porém esse amor não se esforçar por
enriquecer-se com uma dimensão nova, feita de gratuidade, de capacidade de
esquecer de si próprio para lembrar-se do ouro, capacidade de sacrifício, tudo
pode terminar.
Aplicada a palavra de Deus a todos nós, a
cada um pessoalmente, São Paulo faz um elenco das características do verdadeiro
amor. “A caridade é paciente é benigna; não é vaidosa não se ensoberbece, não
faz nada de inconveniente não é interesseira, não se encoleriza, não guarda
rancor, não se alegra com a iniqüidade, mas se regozija com a verdade. Tudo suporta
tudo crê, tudo espera, tudo desculpa.”
Tudo isso poderia servir para renovar o nosso exame de consciência. A cada afirmação perguntemo-nos
“E eu?” A caridade é paciente: e eu? A caridade não é invejosa: e eu? A
caridade não procura somente o seu interesse: e eu?
O ensinamento do apóstolo Paulo permanece de
grande atualidade. Num mundo de tanta marginalização de pessoas e de povos,
onde o individualismo egoísta impera e domina em nossas sociedades, Deus
continua a chamar os homens para a fraternidade e a solidariedade. A respeito
generoso de uma multidão anônima de operadores da paz e do bem se faz sentir em
toda a terra. O Hino ao Amor é o lembrete do essencial e vital dos seguidores
de Cristo Jesus. Nossa realização dominada pela técnica e pela sede de
conhecimento, em necessidade de um coração para que o homem possa sobreviver
nela, sem desumanizar-se e cair na era glacial da no lado pessoal.
É hora de preocupar-se não apenas com a
capacidade da inteligência, mas de ativar a capacidade sem medidas do nosso
coração para amar. A capacidade do amor é superior a da inteligência, é
infinita porque Deus nos comunica o ser. Espírito de amor.
“A caridade não acabará nunca. As profecias
desaparecerão, as línguas cessarão, à ciência desaparecerá. Com efeito o nosso
conhecimento é limitado... Atualmente, permanecem estas três coisas: a fé, a
esperança, a caridade. Mas a maior delas é a caridade”.
No ocaso da vida, seremos julgados sobre o
amor!
Dom Geraldo M. Agnelo
Cardeal arcebispo de Salvador