quarta-feira, 13 de maio de 2015

Meu Cajueiro
Eu era adolescente quando li um belo conto: meu cajueiro, do escritor Humberto Campos. Comparei com a história de minha infância vivida nos galhos das goiabeiras, nos pés de jenipapo e de tamarindo. Foi meu primeiro contato refletido sobre o amor e a generosidade das árvores que, acolhedoras, me fizeram sonhar, sentindo-me um privilegiado comandante da nau de minha vida. Seus galhos eram braços e abraços... 
A ternura de suas sombras, a firmeza de seus troncos crescidos e ainda no ventre da mãe-terra, nascidos e não nascidos totalmente. Folhas soltas ao vento, cabelos verdes cuidados pelo sol, suas flores polinizadas pelas aves que nelas encontram seu néctar e a energia para suas experiências esvoaçantes. As flores se transformam em frutos, degustados pelas aves, insetos, pelos homens, e usados até como sucos. São lembranças adolescentes, guardadas no íntimo do coração ou na mente, que retira de seu arquivo, pedaços e momentos que compõem uma existência tornando-a unificada e com sentido do novo e do velho num só momento: o melhor momento, o momento presente.
Hoje a vida me trouxe milhares de árvores, encanto de meu olhar deslumbrado. Não há cajueiro, nem as árvores da minha infância. Elas moram em mim como amigas de aventuras passadas e venturas de uma idade de ouro tão bem vivida.

Contos de Paulo Motta
Livro: Memórias de um Seminarista.

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