Conhecendo Dom Hélder
Era presidente do Conselho Federal o arcebispo auxiliar do Rio Dom Hélder Câmara. Vindos de seus Estados os presidentes não tiveram ajuda para viagem e hospedagem. Espalharam-se pela cidade em seus diversos hotéis. O presidente do Conselho do Espírito Santo era eu, então padre salesiano, diretor do colégio da congregação em Vitória. Hospedado em Niterói no Colégio Santa Rosa, vinha ao Rio de barcas. No dia da reunião dos conselhos eu presidente capixaba cheguei ao local da reunião um pouco atrasado pelo desconhecimento do local.
Chegando ao enorme salão em forma de anfiteatro, abriu a cortina da porta do salão e percebi-o completamente lotado. A solenidade já havia começado. Permanecendo ao fundo de pé insistia em tentar achar uma poltrona vazia. Não havia. O jeito foi continuar de pé. Era um participante convidado mas a lotação completa do local indicava que ele assistiria a reunião de pé. E pior, era a única pessoa em tal condição. Eis senão quando o presidente da assembléia, Dom Helder se levanta vem até o fundo e me convida para ocupar sua poltrona de presidente, tomando-me pela mão. Para evitar o constrangimento, claro que recusei a oferta, agradecendo enquanto dizia que estava bem ali. Não demorou a aparecer uma cadeira. Mas o bispo presidente não voltou a assumir a mesa da presidência enquanto não viu seu colega sentado. O gesto do bispo era costumeiro em atender a todos com gentileza e carinho como a velhos amigos e como santo que era como a pessoa de Jesus.
Contos de Paulo Motta
Livro: Memórias de um seminarista.
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