segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Do menos ao mais


A fraqueza é o início da força.
A dúvida é a busca da fé.
A queda é a causa do levantar-se.
A indecisão é a porta da resolução.
A ignorância é o primeiro degrau do saber.
A curiosidade é o pórtico do aprendizado.
A revolta é o motivo da futura resignação.
O egoísmo é o passo inicial do amor.
O orgulho é a ladeira que desce até a humanidade.
A sensualidade é o aprendizado do amor universal.
A noite é a matriz donde nasce o dia.
O sofrimento do enfermo
É o principio da esperança da cura.
A montanha eleva-se a partir da planície.
A virtude nasce de um vício corrigido.
A bonança chega após a procela.
A primavera promana do inverno.
O sol aparece depois da escuridão.
O repouso é mais sentido após a estafa.
A saciedade é o apaziguamento da fome.
O sono é mais reparador quando o dia foi trabalhoso.
O silêncio descansa mais depois do barulho.
O encontro do ser amado
É mais alegre após a saudade da ausência.

 Livro: Sugestões Oportunas
Autor: C. Torres Pastorino
Pág. 111/112

Escrevi uma prece muito simples


Escrevi uma prece muito simples, que sempre fiz pela manhã, durante minhas orações. Eu a repetia como um voto, promessa que me obrigava a cumprir. É assim:

“Não terei medo de ninguém sobre a terra.
Temerei apenas a Deus.
Não terei má vontade para com ninguém.
Vencerei a mentira pela verdade,
E na minha resistência à mentira”.



Aí está o meu caminho, resultado de uma longa busca, em meio às humilhações. Ah! Como o corpo clama por vingança, depois da afronta. Senti o seu fascínio, quando a cólera brotava dentro de mim. Mas era nessas horas que eu ouvi as palavras do Bhagavad Gita:

“Da perturbação dos sentimentos, vem o erro;
do erro, a ruína da razão;
da ruína da razão, nasce a morte”.

“Você se lembra?
A vingança é doce por um momento, mas seu fim é amargo. Acontece que eu desejava a vida.
Quanto tempo se leva para cortar uma árvore? Uns poucos minutos e tudo está terminado. Mas, para sentar à sombra da árvore que se está plantando, muito tempo terá de passar. Terá de haver uma longa espera, e paciência. É sempre assim. Os caminhos da morte são mais rápidos. Por eles, andam os que têm pressa. Já os caminhos da vida são vagarosos. É preciso caminhar na esperança... matar o inimigo é muito fácil. Mas transformá-lo num amigo é coisa difícil e incerta, que requer muita coragem. Posso, pela intimidação, obrigar que os outros me deixem andar na mesma calçada, viajar no mesmo trem, hospedar-me no mesmo hotel. Mas ela nada pode fazer com os olhos. Lá ficam, duros e maus, cheios de ódio, à espreita, na emboscada, aguardando o momento da vingança. Eu não queria vitórias como essas, que misturam o ódio ao ar que se respira”. Daí, a minha prece.

Poderão dizer que os caminhos que escolhemos são lentos, os frutos tardam e quando amadurecem são poucos. Dirão que o mundo não é satyagraba, que a realidade é outra... Eu só posso responder: se assim não for, valerá a pena viver? Quem poderá ter paz de espírito num mundo em que a violência tem sempre a última palavra: Creio em Deus. E isso me garante que não pode existir nenhum desejo do coração que, sendo puro em sua impaciência, não venha, um dia, a ser atendido. Tenho paciência. Esperarei por esse dia...

Autor: Rubem Alves

Livro Reverência pela vida



MENTE E CORPO UM DILEMA


Nossa mente é provavelmente a coisa que temos de mais íntimo, e a ela vinculamos os nossos pensamentos, tristezas, alegrias, angústias, intenções, julgamentos, e assim por diante. Contudo, quando tentamos compreender de modo sistemático e coerente a natureza das relações entre a nossa mente e o nosso corpo, nos defrontamos com o problema mente-corpo. Configura-se como um problema porque o cérebro é um sistema físico, público e extenso, mas os fenômenos mentais, principalmente aqueles que envolvem consciência, parecem ser essencialmente subjetivos, inacessíveis à observação e à mensuração e, portanto, escapando a uma apreensão científica.
Sob um ponto de vista histórico, Descartes foi o precursor deste problema ao defender que pensamento e corpo estavam em realidade completamente distintas, que se relacionavam causalmente. Como explicar esta interação entre algo imaterial e algo material? Descartes a explicou postulando que a glândula pineal era a interface entre mente a matéria, mas a sua solução apenas transferia as dificuldades impostas pelo seu dualismo.

Revista de Filosofia
Autor: Daniel Borgoni

Pág.57

Ministro tem de ser decente


José Bonifácio, chamado de o Patriarca da Independência, era ministro-conselheiro do imperador Pedro I e Martin Francisco, seu irmão, ministro da Fazenda. Certa vez, José Bonifácio recebeu o seu salário, em dinheiro, e o guardou sob o forro do chapéu. Esqueceu o chapéu em algum lugar e ficou sem o dinheiro. Como era muito honesto, iria passar dificuldade. O imperador chamou Martin Francisco e o indagou sobre a possibilidade de compensar José Bonifácio com outra forma de recuperação do salário perdido. Ouviu de Martin Francisco um respeitoso, mas sonoro não. “A única coisa que posso fazer, majestade, é dividir o meu salário com ele”, disse ao imperador. E assim foi feito.
Tanta dignidade nesse exemplo e tanta falta de dignidade registrada no últimos tempos envolvendo ministros.
Existe uma expressão, não muito usada por sinal, que se encontra apenas nos idiomas português e espanhol, sem correspondente em outras línguas. Um vocábulo rico, pois incorpora quatro significações. Trata-se do termo pundonor, que o Dicionário Aurélio define como sentimento de dignidade, brio, honra e decoro.
Ministros tinham de possuir em elevado grau este quádruplo sentimento, com uma conduta sempre digna, nunca perdendo o brio, jamais a desonra e mantendo atitudes permanentemente decorosas. Essa pundonorosa soma de valores é um patrimônio moral e cívico que oxalá fosse encontrado em maior quantidade.

Autor: Hélio Rocha


Jornal: O Popular 08/12/2012

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