O cigano enganou
Minha tia muito religiosa ia à missa todo domingo a cavalo, pois a igreja distava 8 Km de sua casa. Montada em seu cavalo ela ia sozinha rezando seu terço pela estrada.
Certa vez apareceram uns ciganos no povoado com alguns cavalos para negócio. Sabendo do caso dessa senhora, propuseram a ela uma troca de seu cavalo por outro bem manso que para ela era ideal. Sem ajuda de ninguém a tia aceitou o negócio.
Um dia ela me pediu para levar um objeto lá para os padres. Lá vou eu, menino de onze anos no cavalo da tia. Nesse caminho me aconteceram dois fatos. Primeiro havia uma encruzilhada e eu duvidando do caminho a seguir, pensei: esse animal vem aqui toda semana. Vou soltar as rédeas e ele seguirá pelo caminho certo. Enganei-me... Andei bom tempo até descobrir que errara a estrada, o que uma pessoa me confirmou. Tive que voltar até a encruzilhada, mas, com vontade de dar uma surra no animal.
Em seguida, já na estrada certa, o danado se assustou com um anu preto. Empinou e me jogou ao chão. Foi o bastante... Pensei: deixa-me voltar em casa e ele vai ver o que é bom ser burro e não cavalo. Mas quando voltei pensando como o adulto e não como menino, fui examinar aquele cavalo manso e aí, constatei que ele era cego de um olho. Estava explicado, contei pra tia o que eu tinha descoberto e ela nem quis acreditar.
Quem negocia com cigano fica sempre na mão e passa por otário. Mas não é?
Contos de Paulo Motta
Livro: Memórias de um Seminarista
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